
Todos os domingos, almoço com meus pais e meus irmãos. É um ritual que resistiu ao tempo e à pressa. Nos últimos cinco finais de semana, um tema recorrente foi trazido à mesa pelo meu pai, Gildo, 93 anos: os partidos políticos no Brasil. Mais precisamente, o que sobrou deles.
O pai pesquisou, leu, anotou. Descobriu que existem hoje 29 partidos registrados oficialmente no Brasil. Mas, olhando de fora, quem consegue apontar o que cada um representa? O que os diferencia? Já houve um tempo em que os partidos eram porta-vozes de visões de mundo, projetos de sociedade, esperanças coletivas. Hoje, parecem versões ligeiramente diferentes do mesmo pragmatismo cansado. São estruturas que orbitam em torno de seus próprios interesses, desconectadas das ruas, das dores e dos sonhos.
Poucos dias atrás, fui convidado pelo Tribunal Regional Eleitoral para mediar um painel sobre abstenção, com representantes de partidos. A necessária ideia de aprofundar o tema, em um seminário, foi do presidente do tribunal, desembargador Voltaire de Lima Moraes. Quase todas as siglas ali representadas admitiram alguma responsabilidade pelo desinteresse crescente dos eleitores. Mas também se consideram vítimas de um sistema que já não se sustenta, embora ainda não tenha surgido um substituto convincente.
A crise da democracia passa, necessariamente, pela crise dos partidos. Eles deixaram de ser pontes e viraram muros. Deixaram de ser casas e viraram balcões. A falsa sensação de auto representação nas redes sociais — onde cada bolha parece conter o mundo — confundiu ainda mais tudo. Os partidos não entenderam que não bastava ter mais presença digital. Era preciso mudar também de linguagem, de forma e de conteúdo.
Não se trata de demonizá-los. Mas também não dá para absolvê-los. Se não se reinventarem, seguirão sendo, ao mesmo tempo, algozes e vítimas de um modelo que se exauriu — e cujo sucessor ainda está por nascer.