Sempre que eu recomendo um filme argentino na coluna, como Descanse em Paz (2024), recentemente lançado pela Netflix, aparecem leitores para encher de elogios o cinema produzido no país vizinho — que já venceu duas vezes o Oscar internacional e concorreu em outras seis oportunidades ao prêmio da Academia de Hollywood.
Então, a lista abaixo, que mapeia os melhores títulos disponíveis em cinco plataformas de streaming ou para aluguel digital, pode não ser novidade para os fãs, mas fica como uma espécie de serviço de utilidade pública. Consulte quando estiver precisando ver um filmaço.
Ah, sim: apesar da onipresença do ator, Ricardo Darín aparece em "só" sete das 25 dicas. Uma pena que não haja outros, como O Filho da Noiva (2001), Kamchatka (2002) e Clube da Lua (2004), atualmente condenados ao limbo digital, a exemplo de Sur (1988), Cinzas do Paraíso (1997) e Plata Quemada (2000). Clique nos links se quiser saber mais.
1) A História Oficial (1985)
De Luis Puenzo. Primeira produção argentina a ganhar o Oscar de melhor filme internacional, retrata a vida de uma professora de história (Norma Aleandro) que, após o final do regime militar, tenta descobrir quem é a mãe biológica de sua filha adotada. (Netflix)
2) Cavalos Selvagens (1995)
De Marcelo Piñeyro. Um idoso (Héctor Alterio) invade um banco com a intenção de pegar suas economias que foram apossadas pela instituição financeira. Armado, ele foge com um funcionário (Leonardo Sbaraglia) na posição de refém e os dois partem em uma jornada até a Patagônia. (Netflix)
3) Nove Rainhas (2000)
De Fabián Bielinsky. É um dos filmes que lançaram Ricardo Darín para o mundo. O ator interpreta um pequeno vigarista que se une a outra picareta (Gastón Pauls) para tentarem dar um golpe milionário, que envolve uma série de selos falsificados conhecidos como Nove Rainhas. Difícil saber quem está enganando quem neste filme que consegue equilibrar tensão, humor, drama e um comentário sobre a crônica crise econômica na Argentina. (Star+)
4) O Pântano (2001)
De Lucrecia Martel. Premiado nos festivais de Berlim e Havana, oferece um ponto de vista da alienação da classe média argentina. O filme se passa em duas casas de família ao longo de um verão em Salta, província próxima à fronteira com a Bolívia. Em uma delas, vive o clã da matriarca Mecha (Graciela Borges), que bebe constantemente e passa quase o tempo todo fora do ar ou reclamando da vida com a prima, Tali (Mercedes Morán), que mora na outra casa. Os filhos de ambas alternam-se entre brincadeiras com armas de fogo e facões, insinuações sexuais — inclusive incestuosas — e provocações mútuas. (MUBI)
5) O Abraço Partido (2004)
De Daniel Burman. Vencedor do Urso de Prata e do troféu de melhor ator no Festival de Berlim, é a segunda parte de uma trilogia informal sobre a identidade judaica, iniciada com Esperando o Messias (2000) e encerrada por As Leis de Família (2006) — ambos também disponíveis na mesma plataforma. Em O Abraço Partido, Ariel (Daniel Hendler) é um jovem judeu em busca de suas raízes e de um rumo na vida. Trabalhando na lojinha de lingeries da mãe, o rapaz planeja tirar um passaporte polonês para viajar até a Europa. A vontade de abandonar seu pequeno universo — uma galeria comercial em Buenos Aires —, porém, entra em conflito com o desejo de saber mais sobre o pai, que largou a família para lutar por Israel na Guerra do Yom Kippur, em 1973. (Amazon Prime Video)
6) A Menina Santa (2004)
De Lucrecia Martel. Na província de Salta, enquanto a adolescente Amalia (María Alche) atormenta-se entre a fé católica e a sexualidade que irrompe, sua amiga Josefina (Julieta Zylberberg) descobriu uma maneira de transar com o primo sem perder a virgindade. Depois de ser apalpada no meio da multidão pelo Dr. Jano (Carlos Belloso), hospedado no hotel gerenciado por sua mãe (Mercedes Morán) devido a um congresso, Amalia pensa ter descoberto sua missão: salvar o médico do pecado. (MUBI)
7) XXY (2007)
De Lucia Puenzo. Drama sobre uma jovem intersexual (Inés Efron) criada como garota. Na adolescência, ao explorar sua sexualidade, ela depara tanto com hostilidade quanto com compaixão. Ganhou quatro prêmios no Festival de Cannes e tem no elenco Ricardo Darín e Valeria Bertucelli. (Netflix)
8) Leonera (2008)
De Pablo Trapero. Narra a descida ao inferno de Julia (Martina Gusmán), jovem grávida que acaba presa por supostamente ter se envolvido no assassinato do namorado, que tinha um amante (Rodrigo Santoro). (Netflix)
9) O Segredo dos seus Olhos (2009)
De Juan José Campanella. Nesta mistura de policial noir, drama político e romance premiada com o Oscar internacional, Ricardo Darín encarna um oficial de justiça aposentado que resolve escrever um livro sobre um crime que investigou 25 anos atrás, na década de 1970. Trata-se de um estupro seguido de assassinato de uma jovem e bela mulher (Carla Quevedo). Ao puxar os acontecimentos pela memória, e não resistir à tentação de finalmente resolvê-los, o investigador se envolve pessoalmente com o caso, descobrindo ligações com a ditadura militar e abrindo a possibilidade de solucionar também uma paixão mal resolvida com uma colega de trabalho (Soledad Villamil). Campanella é o mesmo diretor de O Filho da Noiva (2001), que também disputou o Oscar e está no limbo digital. (Amazon Prime Video e Star+)
10) Abutres (2010)
De Pablo Trapero. Um advogado (Ricardo Darín) ganha dinheiro ajudando vítimas de acidentes a receber indenizações. A ênfase não está em ajudar as pessoas, mas em ganhar dinheiro. O coração de Sosa vai amolecer ao conhecer a médica socorrista Luján (Martina Gusmán). (Netflix)
11) Medianeras (2011)
De Gustavo Taretto. Martín (Javier Drolas) e Mariana (Pilar López de Ayala), os personagens dessa cultuada comédia romântica, são vizinhos em Buenos Aires. Por mais que sempre se cruzem pelas ruas, nunca se viram. É na internet que eles se encontram e compartilham mágoas e alegrias. (MUBI)
12) Elefante Branco (2012)
De Pablo Trapero. Gira em torno daquele que deveria ser o maior hospital da América Latina, mas o enorme edifício na periferia de Buenos Aires jamais foi concluído, ganhando o apelido do título. Esse projeto grandiloquente inacabado serve de metáfora para o abandono social no filme em que Ricardo Darín e o belga Jérémie Renier interpretam os padres Julián e Nicolás. (Netflix e Star+)
13) O Patrão: Radiografia de um Crime (2014)
De Sebastián Schindel. Baseado em uma história real, o filme registra o calvário do humilde e analfabeto Hermógenes (em premiada atuação de Joaquín Furriel), que assassinou o dono do açougue do qual era gerente. Por quê? (Netflix)
14) Relatos Selvagens (2014)
De Damián Szifron. Indicada ao Oscar de melhor filme internacional, a comédia sinistra apresenta seis episódios independentes, um deles protagonizado por Ricardo Darín. Ele faz um engenheiro especializado em implosões, mas que explode diante da burocracia e do pouco caso que os serviços públicos dispensam ao contribuinte. (Max)
15) O Clã (2015)
De Pablo Trapero. Conta uma história real que tangencia o improvável.
Entre 1982 e 1985, a aparentemente pacata família Puccio esteve envolvida no rapto e no assassinato de empresários, sequestrados em troca de resgates milionários e escondidos na própria casa onde viviam o casal e seus filhos, no bairro portenho de San Isidro. Assombrosamente encarnado por Guillermo Francella, o patriarca e mentor dos crimes era um agente do serviço de inteligência da ditadura argentina (1976- 1983), que se aproveitava da experiência adquirida nas sombras do poder e da influência que os militares ainda gozavam nos primeiros tempos de democracia para perpetrar seus golpes. (Star+)
16) O Cidadão Ilustre (2016)
De Gastón Duprat e Mariano Cohn. A comédia dramática trouxe a consagração internacional a Oscar Martínez, que levou a Copa Volpi de melhor ator do Festival de Veneza. No filme, ele interpreta Daniel Mantovani, um escritor argentino que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura graças a livros que se caracterizam por retratar com olhar crítico a vida provinciana em Salas, a pequena cidade onde nasceu. Um dia, depois de muitos anos longe do lugar, o autor recebe um convite para receber uma homenagem local. A visita reserva surpresas e perturbações. (Disponível para aluguel em Apple TV, Google Play e YouTube)
17) O Caderno de Tomy (2020)
De Carlos Sorín. Reconstitui a história real de uma mãe com câncer terminal (papel de Valeria Bertucelli) que escreve mensagens para o filho pequeno ler quando for mais velho. Perfeito para quem gosta de chorar. (Netflix)
18) Crimes de Família (2020)
De Sebastián Schindel. Cecilia Roth protagoniza o filme que entrelaça as histórias de dois crimes. Um deles foi cometido pelo filho único de um casal da elite, o outro, pela empregada doméstica dos mesmos personagens. Trata-se de um retrato seco sobre privilégios e hipocrisias. (Netflix)
19) História do Oculto (2020)
De Cristian Ponce. Ambientado em 1987 e filmado em preto e branco, este terror premiado no Fantaspoa acompanha os bastidores de um programa de TV fictício, o 60 Minutos Antes da Meia-Noite. O apresentador (vivido por Héctor Ostrofsky) vai receber um senador, um sociólogo e um grande empresário, Adrián Marcato (Germán Baudino, ótimo no papel), que pode fazer uma revelação chocante: o presidente do país estaria vinculado a uma seita satanista. (Netflix)
20) Argentina, 1985 (2022)
De Santiago Mitre. Estrelado por Ricardo Darín, concorreu ao Oscar de melhor filme internacional ao ficcionalizar o julgamento dos horrores cometidos durante a ditadura militar argentina, entre 1976 e 1983. (Amazon Prime Video)
21) Granizo (2022)
De Marcos Carnevale. Nesta comédia que une os temas do cancelamento e do negacionismo, Guillermo Francella interpreta um meteorologista famoso que cai em desgraça após errar uma previsão. (Netflix)
22) O Suplente (2022)
De Diego Lerman. Juan Minujín interpreta Lucio Garmendia, um professor universitário que, após ser preterido para uma cátedra, vai ministrar a aula de Literatura em um colégio público de Ensino Médio situado em uma área degradada da Grande Buenos Aires, a Isla Maciel. Chegando lá, encontra uma turma dispersa, desanimada e até desgastada. Mas não temos aqui aqueles típicos discursos edificantes, aqueles monólogos capazes de tocar e transformar a classe imediatamente. (Netflix)
23) Vamos Consertar o Mundo (2022)
De Ariel Winograd. O produtor (Leonardo Sbaraglia, ótimo no papel) de um programa popular de TV, em que atores fingem ser pessoas comuns convidadas a solucionar conflitos domésticos ou de trabalho, terá de aprender a ser pai de Benito (Benjamín Otero, um talento mirim), um menino de nove anos — um filho que pode nem ser seu. (Netflix)
24) Os Delinquentes (2023)
De Rodrigo Moreno. Não morro de amores como alguns colegas de crítica, mas pelo menos em sua primeira parte este filme com três horas de duração chega a ser sublime. Morán (interpretado por Daniel Elias) é o empregado que cuida do cofre de um banco em Buenos Aires. Cansado da monotonia e oprimido por constatar que, não raro, vivemos para trabalhar, ele resolve roubar cerca de US$ 600 mil. Morán não pretende gastar muito: só quer ter tempo livre. (MUBI)
25) Descanse em Paz (2024)
De Sebastián Borensztein. Em 1994, um amoroso marido e pai de família (Joaquín Furriel) toma uma decisão drástica para tentar resolver suas muitas dívidas financeiras. Um filme que nos joga contra a parede, forçando o espectador a se colocar no lugar do protagonista diante dos rumos que surgem. (Netflix)