Sob palmas, o ex-governador Alceu Collares foi sepultado no final da tarde desta quarta-feira (25), às 17h35, no cemitério Parque Jardim da Paz, no bairro Agronomia, em Porto Alegre.
Dezenas de familiares, amigos e colegas de PDT, partido que Collares integrou, marcaram presença na despedida.
O corpo do ex-governador foi conduzido em um caminhão do Corpo de Bombeiros, em um cortejo que partiu do Palácio Piratini.
Collares foi velado com homenagens públicas de familiares, amigos e políticos de diversos espectros ideológicos no Salão Negrinho do Pastoreio, no Palácio Piratini, durante o dia.
Compareceram políticos ligados à esquerda, como o ex-governador Tarso Genro e a deputada federal Maria do Rosário, ambos do PT, e à direita, como a vereadora Comandante Nádia, do PP. A ex-governadora Yeda Crusius e o governador Eduardo Leite, do PSDB, também participaram, além de vários correligionários do PDT, partido pelo qual Collares militava.
Ao lado do caixão — coberto pelas bandeiras do PDT, do Brasil e do Grêmio —, a viúva, Neuza Canabarro, recebeu os cumprimentos de pesar.
Collares morreu na madrugada de terça-feira (23), aos 97 anos, vítima de falência múltipla de órgãos, conforme o Hospital Mãe de Deus, onde estava internado por conta de uma pneumonia. Há oito anos, o político havia sido diagnosticado com enfisema pulmonar.
ollares deixa a mulher, Neuza Canabarro, os dois filhos — Antônio e Adriana —, e quatro enteados: Celina, Helena, Genaro e Cirino.
Celina afirma que ele estava lúcido e brincando até o momento em que precisou ser sedado no hospital.
— Ele só não queria morrer. (Ele falava) "Se eu for, podem ter certeza, é muito contrariado" — lembra.
A enteada destaca a falta que o ex-governador fará no ambiente familiar e o legado construído ao longo das últimas décadas:
— Ele era uma pessoa diferenciada, por isso chegou onde chegou.
A esposa de Collares afirma que o marido foi um exemplo em vida, com amor e competência com a família, e que deixará saudade.
— Ele está no nosso coração, mas descansou em paz — resume.
Natural de Bagé, na Campanha, onde cresceu vendendo laranjas, o único governador negro da história do Rio Grande do Sul se elegeu em 1990 para o comando do Piratini. Antes, em 1985, fora prefeito da Capital, escolhido na primeira eleição direta desde o golpe militar e após três mandatos na Câmara Federal.
O governador Eduardo Leite decretou luto oficial por três dias no Estado, período em que bandeiras ficarão a meio mastro.
Personalidades prestam última homenagem
Na despedida de Collares, personalidades do mundo político deram o último adeus nesta quarta-feira de Natal. O governador Eduardo Leite fez questão de expressar a importância de Collares e a admiração que sempre teve por ele:
— Toda a trajetória política de quem ocupou posições importantes na política, mas com uma habilidade de expressar suas convicções, com firmeza e, ao mesmo tempo, com habilidade de se posicionar, com bom humor e respeito aos adversários, o fizeram alguém especial na política. O Collares deixou uma grande contribuição ao Rio Grande do Sul. Alguém que teve uma origem humilde e que chegou ao governo do nosso Estado e à prefeitura de Porto Alegre. Sempre tive muita admiração por ele.
O ex-governador do Estado Tarso Genro tinha amizade com Collares e, durante o velório, destacou o que mais admirava no amigo:
— Ele tinha capacidade de empatia com a população, além de uma postura firme em determinados momentos que foram duros para o país. Como, por exemplo, o enfrentamento na eleição do Collor. Foi uma inflexão em direção ao PT, contrariando a expectativa de algumas lideranças, demonstrando capacidade de liderança extraordinária, que formatou o sistema de alianças que ocorreu no Brasil.
Yeda Crusius, ex-governadora, também se fez presente:
— Quero celebrar a vida de Collares dedicada à educação. Sempre honrando os que vieram antes dele e depois, sempre focando na educação como um setor que transforma a pessoa. Vale a pena fazer política quando se faz com vontade como Alceu Collares fez.
Ex-governador e senador, Pedro Simon, nome forte na política nacional, especialmente na oposição ao Regime Militar, ficou quase uma hora ao lado do caixão de Collares.
— Sempre tive muito carinho pelo Collares. O Rio Grande do Sul perdeu um grande homem. Ele ficará na história. Não por ser o primeiro governador negro deste Estado, mas pela determinação. Apesar das divergências, nas horas em que mais precisei o Collares estava ao meu lado — ressaltou.
Ainda marcaram presença o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, o chefe da Casa Civil do RS, Artur Lemos, e correligionários do PDT, como o ex-deputado Vieira da Cunha, o ex-deputado João Luiz Vargas e o presidente do partido no Estado, Romildo Bolzan.
Alguns militantes pedetistas marcaram presença, com bandeiras do partido ou camisetas de campanhas de Collares.