O jornalista Bruno Pancot colabora com a colunista Rosane de Oliveira, titular deste espaço
Adversários nas eleições para o Piratini em 1990 e para a prefeitura de Porto Alegre em 2000, além de contemporâneos em cargos públicos, os ex-governadores Alceu Collares e Tarso Genro se reencontraram nesta semana e conversaram sobre memórias do tempo em que se enfrentavam na arena política estadual.
Hoje, as divergências entre os dois ficaram para trás e o petista faz visitas com frequência a Collares, que, aos 95 anos, está recolhido em sua residência e tem dificuldade de locomoção.
"Amigo e admirador" do trabalhista, Tarso constatou que Collares está lúcido e segue atento às notícias da política no Estado e no país.
— Ele está bem, lúcido, me reconheceu imediatamente e ficou feliz com a minha visita. Admiro as pessoas que chegam à idade dele com coerência política e moral. Ele sempre me apoiou quando fui candidato e enfrentava a direita aqui no Rio Grande do Sul. Foi uma pessoa que me ensinou muito nos debates pelo seu humor e pela capacidade de dar respostas imediadas.
O encontro ocorreu na última quarta-feira (7), na presença da ex-primeira-dama Neuza Canabarro e da esposa de Tarso, Sandra Bitencourt.
— Foi uma visita de amigo — resume Neuza.
Tarso aproveitou o encontro para entregar a Collares o livro Estado Social do Trabalho e do Empreendimento, obra que reúne ensaios de diferentes autores, incluindo um texto assinado pelo petista.
Em troca, ganhou de presente o livro O Voto E O Pão, que conta a vida de Collares, menino pobre nascido em Bagé, depois eleito vereador, deputado federal, prefeito de Porto Alegre e primeiro governador negro da história do Rio Grande do Sul.
— Acho que o PT, quando esteve na oposição ao governo dele, falo de nós, eu também era do grupo dirigente do partido, o PT foi rígido demais na oposição do governador Collares. Deixou uma sequela que nós e ele superamos. Ele foi muito atacado por todos os partidos e teve a generosidade de superar — observa Tarso.
Fora do ministério
Ministro da Educação, da Justiça e das Relações Institucionais nos governo Lula 1 e 2, Tarso descarta participação no terceiro mandato do petista. Pelo menos, na Esplanada.
— Não tenho expectativa. Estou na militância, vou continuar contribuindo com propostas. Não vai haver esse convite (para ser ministro) — afirma.
O ex-governador disse que já havia avisado ao então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, ainda na campanha, de que não participaria do primeiro escalão em caso de vitória nas urnas.
Cotados do PT gaúcho
Sobre possíveis indicações de filiados do PT gaúcho para a equipe ministerial, Tarso especula pelo menos quatro nomes.
— Temos vários quadros competentes, mas não sei se vão chegar a ocupar algum ministério: Miguel Rossetto, Pepe Vargas, Edegar Pretto. Paulo Pimenta está sendo cotado.
Segurança
Questionado pela coluna a respeito da transição, Tarso relevou preocupação com a possibilidade de Lula manter em uma única pasta o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Durante a campanha, o ex-presidente prometeu separar os ministérios.
— Houve uma mudança nesses últimos 15 anos na questão da segurança pública no país, que exige uma ultra especialização, exige a formação de quadros de alto nível e uma escola superior para formação de quadros. Os grandes crimes que geram crimes (no país) são globais.
Haddad
Tarso avalia positivamente a possível indicação do ex-ministro Fernando Haddad para a Fazenda.
— Essa conciliação com o mercado é uma conciliação obrigatória em qualquer país. É necessário algum nível de composição com o mercado financeiro, e acho que o Fernando Haddad tem a capacidade de fazer essa conciliação sem cair na tentação de que o acordo com o capital financeiro suprima políticas sociais.
O ex-governador acredita que Lula irá "compor" com nomes do centro e de economistas de viés liberal que declararam voto no petista na campanha, mas não arrisca palpites de nomes ou ministérios.