Nesta esquina conturbada da história, em que a gestão pública se tornou tudo menos a busca pelo bem comum, Alceu de Deus Collares era a lembrança de que a política é a arte do consenso. Era também a reminiscência de que o Rio Grande do Sul já pariu grandes líderes capazes de fazer a diferença no cenário nacional. Em uma sociedade cada vez mais reacionária - e, por vezes, racista -, Collares personificava, ainda, a memória de um Estado que já elegeu um negro governador.
Collares, que morreu nesta terça-feira, em Porto Alegre, aos 97 anos, tinha o jeitão de antigamente. Mas, com sua simplicidade, conseguia unir temas ainda não resolvidos do passado, que volta e meia surgem no presente e que precisam ser solucionados para que o Estado não se perca no futuro.
Educação, por exemplo. A cada eleição, um que outro candidato sempre resgata, sem falso saudosismo, que Porto Alegre e o Rio Grande do Sul já se orgulharam de seus índices de ensino. Quando "escola em tempo integral" aparece, invariavelmente, o nome de Collares é citado pela implantação dos Centros Integrados de Educação Pública (Cieps).
Collares era um homo politicus em extinção: polêmico, piadista, carismático, vaidoso, poeta do povo e, que, com Neusa, formava um casal a la Perón e Evita dos Pampas.
Quando políticos de TikTok não haviam nascido, Collares fazia do comício, cara a cara com o eleitor, seu palco. Era ótimo orador da escola de Getúlio, Jango e Brizola. Mas, principalmente, era um líder do tempo em que se tinha adversários políticos. Não inimigos.