De diferentes campos políticos, cada um dos ex-governadores que conviveu com Alceu Collares tem uma palavra generosa para dizer sobre o “negrão de Bagé”, como ele gostava de se definir. Todos destacam o bom humor, a generosidade, a voz marcante, a preocupação com o social e a alegria de viver.
Jair Soares
Jair Soares (PP), o primeiro eleito depois da redemocratização, tornou-se um amigo fiel. Os dois costumavam se visitar para trocar ideias e tomar bons vinhos.
Em entrevista ao Gaúcha Atualidade, falando de Florianópolis, Jair contou que quando Collares começou a ter problemas de locomoção, passou a visitar a casa dele e de Neuza Canabarro com mais frequência, porque entendia que era obrigação dele, homem saudável, fazer companhia ao amigo.
Foi de Jair a ideia de formar uma espécie de confraria dos ex-governadores para se encontrarem com mais frequência. Foi dele, também, a iniciativa de todos visitarem Collares juntos no que acabou sendo uma despedida do grupo agora desfeito.
Jair não economiza elogios a Neuza, a quem define como “a companheira perfeita” que esteve com Collares na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, até que a morte os separou.
Sucessor de Jair, Pedro Simon (MDB) foi de cadeira de rodas ao último encontro do grupo, um almoço que se estendeu pela tarde e do qual resultou uma das fotos mais emblemáticas que a coluna já publicou. Collares sucedeu Simon em uma transição amigável, difícil de se imaginar nos dias de hoje, em que os adversários são tratados como inimigos.
Antônio Britto
Antônio Britto (MDB à época) recebeu o bastão de Collares, em um ato marcado pela descontração. Britto não quis morar no Palácio Piratini, como Neuza e Collares, e transformou a ala residencial em escritórios de trabalho. À coluna, Britto lamentou a morte de Collares e questionou:
— Na política de hoje, seria possível pensar que alguém fizesse — ou faça — a carreira do Collares? Uma pessoa humilde, hoje, como faz para chegar a uma carreira política? Só em rede social? A que preço?
Por morar em São Paulo (e antes nos Estados Unidos), Britto não participava da confraria de ex-governadores, mas era admirador de Collares:
— Perdemos um grande ser humano, um líder histórico, mas também um tipo de carreira política que dificilmente vai se repetir nos novos tempos.
Olívio Dutra
O ex-governador Olívio Dutra (PT) encaminhou à coluna uma mensagem sobre sua relação com Collares. Diz o texto:
“Convivi em diferentes situações de tempo e espaço, longe e perto, conjunturas, como cidadão, parlamentar, prefeito, governador e como um ser humano despachado e sempre disposto a largar um poema longo, que sabia de cor, como de cor sabia o nome de grande número e localização das ruas de Porto Alegre. Consternado, recebi a notícia do falecimento, aos 97 anos, de Alceu de Deus Collares, namorado da vida, primeiro negro a assumir, pelo voto popular, mandatos como o de prefeito de Porto Alegre e como governador do Rio Grande do Sul. Fez parte do campo popular e democrático na defesa da democracia e no combate vigoroso à ditadura. A História registrará sua conduta honrada na administração pública. Que Deus e todas as divindades o tenham. Pêsames aos seus familiares, amigos e amigas”.
Germano Rigotto
Germano Rigotto, que governou o Estado de 2003 a 2006, enfrentou Collares na tentativa de se reeleger. Rindo, Rigotto lembra que Collares comparava o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) nos dois governos. Em tom malicioso, brincava que ele era o governador do “pibão” e Rigotto o do “pibinho” — mostrando com as mãos a diferença entre um e outro. Passada a disputa, vencida por Yeda Crusius, os dois se tornaram amigos.
Yeda Crusius
Yeda, que Collares e Jair definem como “a mais esfuziante” guarda boas lembranças das conversas com Collares, quando era governadora. Os dois, além de Jair, partilhavam a convicção de que ex-governadores deveriam formar um conselho e conversar com o governador nos momentos difíceis, para ajudar a encontrar soluções para o Estado.
No último encontro, Yeda sugeriu que, na hora da foto, os três com mais de 90 anos ficassem à frente e os outros, atrás. Collares, Simon (em cadeiras de rodas) e Jair ficaram à frente. Logo atrás deles, José Ivo Sartori, Yeda, Olívio Dutra, Rigotto e Tarso Genro.
Tarso Genro
Tarso é outro que visitava Collares regularmente. As divergências do ex-governador com o PT ficaram para trás ou nem afetaram o relacionamento entre eles. Quando assumiu o governo, Tarso convidou todos os ex-governadores para um jantar no Palácio Piratini. No Atualidade, contou que num dos últimos encontros sua esposa, Sandra Bittencourt, postou uma foto dos três sorridentes na casa de Collares. A foto foi repostada nesta terça-feira.
José Ivo Sartori
Sartori não quis conversar com o Gaúcha Atualidade sobre a convivência com Collares. Alegou que não dá entrevistas desde que deixou o governo e não se convenceu como argumento de que não era uma entrevista convencional, mas uma conversa sobre o legado do ex-governador.
Eduardo Leite
O governador Eduardo Leite, que tinha cinco anos quando Collares foi governador, diz que não tem memória do governo deles, mas conheceu o ex-governador mais tarde e aprendeu a respeitá-lo por sua franqueza e sua dedicação aos direitos dos trabalhadores. Leite decretou luto oficial de três dias e escreveu uma mensagem em seu perfil no X:
"Com profunda tristeza, recebi a notícia do falecimento do ex-governador Alceu Collares, 97 anos, uma figura histórica na política do nosso Estado e do Brasil. Único governador negro do Rio Grande do Sul, Collares dedicou sua vida ao serviço público, sendo deputado federal por dois mandatos, vereador de prefeito de Porto Alegre e governador do RS entre 1991 e 1995".
Sebastião Melo
O prefeito Sebastião Melo destacou as obras realizadas por Collares, com ênfase na Avenida Beira-Rio, hoje Edvaldo Pereira Paiva.