Alguns filmes se tornam amaldiçoados. Outros já nascem amaldiçoados. É o caso de Stardust (2020), cinebiografia de David Bowie que acaba de chegar às plataformas de streaming iTunes, Apple TV, Google Play, Now, Vivo Play e Sky Play.
Dirigido por Gabriel Range (do docudrama A Morte de George W. Bush, 2006) e protagonizado por Johnny Flynn (da série Lovesick e do filme Emma.), Stardust foi feito sem aval da família do Camaleão do Rock, morto em 2016, dois dias depois de completar 69 anos, vítima de câncer no fígado. Acabou virando uma cinebiografia de David Bowie sem músicas de David Bowie.
Só que esse não é o único – grande – problema. Há muitos outros, segundo conta meu colega William Mansque. Mas o fato é que Stardust se insere em uma onda de filmes que vêm biografando ou homenageando roqueiros britânicos e estadunidenses.
Beach Boys: Uma História de Sucesso (2014)
Falando em onda, um ponto de partida pode ser The Beach Boys: Uma História de Sucesso (Love & Mercy, 2014), de Bill Pohlad. É sobre um gênio atormentado pela própria mente: o californiano Brian Wilson, hoje com 78 anos, justamente o cérebro dos Beach Boys. O músico, cantor e compositor foi encarnado por Paul Dano, na fase jovem, e John Cusack. O filme intercala momentos dos anos 1960, quando o grupo dos Estados Unidos rivalizava artisticamente com os ingleses dos Beatles, e da década de 1980, quando Wilson estava doente, confuso, abandonado pela família e sob o controle de um psiquiatra abusivo – Eugene Landy, papel de Paul Giamatti. (Disponível em Google Play e YouTube)
Bohemian Rhapsody (2018)
A joia da coroa das cinebiografias musicais tem como personagem principal o vocalista do Queen: Freddie Mercury (1946-1991). Bohemian Rhapsody (2018) teve uma produção atribulada: faltando duas semanas para o fim das filmagens, o diretor Bryan Singer, autor de Os Suspeitos (1995) e de quatro aventuras dos X-Men, foi demitido sob acusação de abuso sexual. Dexter Fletcher completou o trabalho, que acabou ganhando quatro dos cinco Oscar que disputou: melhor ator (Rami Malek), edição, edição de som e mixagem de som. Só perdeu na categoria de melhor filme.
Nas bilheterias, Bohemian Rhapsody também fez sucesso, arrecadando US$ 903,6 milhões. E, ao contrário de Stardust, não faltam canções da banda inglesa. A ponto de serem recriados, de forma primorosa, 15 dos 21 minutos do show do Queen no Live Aid, em 1985, apresentando na íntegra as faixas Bohemian Rhapsody, Radio Ga Ga, Hammer to Fall e We Are the Champions. (Apple TV, Google Play e YouTube)
Rocketman (2019)
O mesmo Dexter Fletcher que salvou Bohemian Rhapsody dirigiu Rocketman (2019), sobre o cantor e pianista britânico Elton John, hoje com 74 anos, encarnado por Taron Egerton com a bênção do próprio biografado. O filme faturou US$ 195,1 milhões, o Oscar de melhor canção (I'm Gonna Love me Again, composta por Elton John e Bernie Taupin) e os Globos de Ouro de ator em comédia ou musical e canção. (Telecine, Apple TV, Google Play, YouTube e Vivo Play)
A Música da Minha Vida (2019)
A Música da Minha Vida (Blinded by the Light, 2019) também é ambientado na Inglaterra, mas tem como homenageado um artista estadunidense, Bruce Springsteen, 71 anos. O filme da diretora Gurinder Chadha é sobre um adolescente de família paquistanesa que, em 1987, em um país convulsionado pelo desemprego e pelo arrocho nos gastos públicos, acaba sensibilizado pelas letras de Springsteen, um notório porta-voz da classe operária. (Apple TV, Now, Google Play e YouTube)
The Dirt: Confissões do Mötley Crüe (2019)
The Dirt: Confissões do Mötley Crüe (2019) é a história de sucesso e excesso da banda estadunidense de glam rock formada em 1981, em Los Angeles. Com direção de Jeff Tremaine, traz no elenco Iwan Rheon, o terrível Ramsay Bolton da série Game of Thrones. (Netflix)
Yesterday (2019)
Também de 2019, Yesterday, escrito por Richard Curtis e dirigido por Danny Boyle, é uma comédia romântica em que um cantor e compositor fracassado (Himesh Patel, visto recentemente em Tenet), torna-se a única pessoa no mundo a lembrar da existência dos Beatles. O protagonista fica em um impasse faustiano: em nome da fama e do dinheiro, deve tomar para si a autoria de canções como Let It Be? (Apple TV, Now, Google Play, YouTube e Vivo Play)
Uma Segunda Chance para Amar (2019)
Outra comédia romântica, Uma Segunda Chance para Amar (2019) celebra um astro pop, George Michael, a começar pelo título original, Last Christmas, uma canção deliciosamente pegajosa de 1984, quando o homenageado ainda formava com Andrew Ridgeley a dupla Wham!. As músicas de Michael embalam o filme de Paul Feig sobre o envolvimento da atrapalhada Kate (Emilia Clarke, a Daenerys de GoT) com um dublê de ciclista entregador e voluntário junto aos sem-teto. Aliás, o roteiro coescrito pela atriz Emma Thompson (que faz a mãe da protagonista) consegue estabelecer interessantes conexões entre a trama e o lado sociopolítico do cantor, certamente não tão conhecido quanto suas baladas e suas músicas para dançar. (Telecine, Apple TV, Now, Google Play, YouTube e Vivo Play)
Street Survivors (2020)
Mas obscuro mesmo é Street Survivors: The True Story of the Lynyrd Skynyrd Plane Crash (2020). O longa se concentra no acidente de avião que, em 1977, no auge da fama da banda americana de rock sulista (é dela a clássica Sweet Home Alabama), matou o vocalista Ronnie Van Zant, o guitarrista Steve Gaines e sua irmã, Cassie, backing vocal. Tem um elenco de anônimos e a assinatura de um diretor de filmes B de terror, Jared Cohn. (Inédito no Brasil)