Para muita gente, o fim de semana é o tempo livre — quem sabe até sagrado — para assistir a filmes. Mas não raro gastamos preciosos minutos escolhendo um título (acho que quando somos mais de um na frente de um menu ou de uma bilheteria, isso só piora, né?).
Além dos gostos pessoais, o estado de espírito também influi na decisão. Há horas em que queremos rir, em outras buscamos uma história de superação que nos inspire, e às vezes só desejamos desligar a cabeça da realidade e curtir a violência de fantasia.
Pensando nisso tudo, montei aqui uma seleção com 10 filmes recentes (todos chegaram ao streaming ou ao cinema de março para cá e quase todos já foram comentados anteriormente — clique nos links para saber mais), cada um para um tipo de espectador.
A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas
Se você quer reunir as crianças para a sessão de cinema em casa, a dica é assistir a meu primeiro favorito ao Oscar de 2022: a animação A Família Mitchell e a Revolta das Máquinas. Na trama, os Mitchells (que lembram muito, inclusive fisicamente, os heróis de Os Incríveis, mas sem superpoderes) precisam salvar o mundo, que virou refém de um celular com inteligência artificial. Tem aventura, drama, crítica social e, claro, muito humor, tanto para os baixinhos quanto para os grandinhos (graças a uma série de referências, como as citações musicais de Kill Bill, do Tarantino). (Netflix)
O Refúgio
Se você quer diversão para adultos, o negócio é O Refúgio (2020). O canadense Sean Durkin dirige o inglês Jude Law e a estadunidense Carrie Coon nesta mistura chique de drama e suspense sobre uma família que se muda dos Estados Unidos para a Inglaterra, na década de 1980, por causa da ambição financeira do marido, um empreendedor carismático. O filme pergunta: o que acontece com uma vida calcada em mentiras e aparências quando a verdade começa a vir à tona? (Amazon Prime Video, Apple TV, Google Play e YouTube)
Bela Vingança
Se você quer ir ao cinema mesmo, com as devidas precauções impostas pela pandemia de covid-19, sugiro Bela Vingança, que considero o melhor entre os títulos já lançados em 2021 e que venceu o Oscar de melhor roteiro original. O título nacional não tem a sutileza nem o duplo sentido do original, Promising Young Woman. A jovem promissora pode ser tanto Nina Fisher — de quem saberemos aos poucos — quanto Cassandra, a protagonista interpretada com gana por Carey Mulligan. Por outro lado, Bela Vingança escancara o que se vê desde a abertura: este é, sim, um filme de vingança. Cassie finge estar bêbada, desnorteada e desamparada em bares para atrair homens que, por sua vez, fingem não compactuar com a cultura do estupro. (Espaço Itaú, GNC Moinhos e Guion)
Druk: Mais uma Rodada
Se você quer ver um dos títulos mais badalados da temporada e, de quebra, fugir de Hollywood e da língua inglesa, peça Druk: Mais uma Rodada. Nesta comédia dramática dinamarquesa vencedora do Oscar de melhor filme internacional, quatro professores de colégio em crise de meia-idade resolvem testar uma teoria: a de que nascemos com falta de álcool no organismo. Assim, Martin (o ótimo ator Mads Mikkelsen) e seus amigos passam a beber logo no início do dia. O diretor Thomas Vinterberg não é moralista nem faz apologia: mostra as consequências positivas na vida dos personagens e também as negativas. E entrega ao público um final antológico que traduz essa ambiguidade. (Apple TV, Now, Google Play, YouTube e Vivo Play)
Tio Boonmee, que Pode Recordar suas Vidas Passadas
Se você está a fim de conhecer um dos cineastas contemporâneos mais cultuados pela crítica e, ao mesmo tempo, se aventurar pelo que se pode chamar de cinema hipnótico e sensorial, Tio Boonmee, que Pode Recordar suas Vidas Passadas está a sua espera. O filme do diretor tailandês Apichatpong Weerasethakul ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, em 2010, e estreou recentemente em uma nova plataforma de streaming brasileira, a Reserva Imovision. O protagonista, Boonmee (Thanapat Saisaymar), vive nas florestas do país do Sudeste Asiático. Ele tem um problema renal e acredita que morrerá logo. Essa proximidade do fim o coloca em condições de estabelecer contato com vidas passadas — suas ou de familiares que já morreram, em delírios que incluem um macaco de iluminados olhos vermelhos e um peixe que deflora uma princesa. (Reserva Imovision)
A Mulher na Janela
Se você não dá muita bola para o que dizem os críticos, se o que importa é se sentir entretido, e de preferência na companhia de um elenco estelar, A Mulher na Janela também está a sua espera. No filme reverente a Janela Indiscreta (1954), de Hitchcock, Amy Adams é uma psicóloga com agorafobia (medo de lugares abertos) que, aos bisbilhotar a vida dos novos vizinhos (Gary Oldman e Julianne Moore), testemunha um ato de violência. (Netflix)
Passageiro Acidental
Se você curte filmes que nos jogam contra a parede e perguntam "o que você faria?", convido a tomar assento com Passageiro Acidental. O brasileiro Joe Penna dirige Toni Collette, Daniel Dae Kim e Anna Kendrick nesta ficção científica em que três astronautas descobrem um intruso em meio a uma viagem de dois anos rumo a Marte. Trata-se de um problema muito sério: não há oxigênio para quatro pessoas a bordo. (Netflix)
A Artista e o Ladrão
Se você procura documentários, a dica é conferir um que parece ficção. Premiado no Festival de Sundance e semifinalista do Oscar 2021, A Artista e o Ladrão conta a improvável história de dois perdidos numa noite suja de tinta. Ela é a tcheca Barbora Kysilkova, uma jovem artista nascida em 1983 e radicada em Oslo, capital da Noruega, onde luta pelo reconhecimento de seu trabalho e para pagar as contas. Ele é o norueguês Karl-Bertil Nordland, um viciado em drogas na casa dos 30 anos e com o corpo coberto por tatuagens e cicatrizes.
Em 2015, Bertil e um comparsa invadiram a galeria de arte Nobel e cuidadosamente roubaram as duas pinturas mais valiosas da exposição de Barbora. Como a ação foi flagrada pelas câmeras de segurança, os ladrões foram rapidamente identificados e capturados pela polícia, mas as telas já não estavam mais com eles. Barbora comparece ao julgamento de Bertil e, movida por uma mistura incontrolável de curiosidade e vaidade, a artista tcheca decide se aproximar do ladrão norueguês. Convida-o (na verdade, é mais uma imposição) para ser retratado por ela. E essas são só as primeiras surpresas registradas no documentário do diretor Benjamin Ree. (Apple TV, Now, Google Play, YouTube e Vivo Play)
Cabras da Peste
Se seu plano para o fim de semana é só esfriar a cabeça, sem nem se preocupar com legendas, os Cabras da Peste estão na área. Trata-se de uma paródia muito brasileira de uma tradição hollywoodiana, a das duplas policiais improváveis, formadas pelo acaso ou pelo azar e destinadas ao conflito ou à trapalhada. Pense em franquias como Um Tira da Pesada, Máquina Mortífera ou A Hora do Rush. Tem de todas um tanto nesta comédia que reúne dois personagens de temperamentos opostos: o cearense Bruceuílis Nonato (Edmilson Filho), afoito pela ação, e o paulistano Trindade (Matheus Nachtergaele), apegado ao trabalho em escritório. O sequestro da cabra Celestina é a deixa para o primeiro viajar da minúscula — e fictícia — Guaramobim para São Paulo. (Netflix)
O Informante
E se você está a fim de uma trama policial de verdade, sem riso e com nervos à flor da pele, faça como eu vou fazer: assista a O Informante (2019), thriller estadunidense do italiano Andrea Di Stefano que chegou há pouco tempo ao streaming e é protagonizado pelo sueco Joel Kinnaman, da série The Killing e da franquia Esquadrão Suicida. A sinopse diz o seguinte: Peter Koslow, ex-soldado de Operações Especiais e hoje informante da polícia, precisa cumprir uma missão delicada para limpar seu nome: infiltrar-se como prisioneiro numa penitenciária de alta segurança para observar as movimentações do General, um criminoso de origem polonesa que lidera uma perigosa gangue de Nova York. No elenco, a cubana Ana de Armas e os ingleses Clive Owen e Rosamund Pike. (Netflix)