Participo de dois grupos sobre filmes e séries em cartaz na Netflix. Em ambos, são perguntas frequentes aquelas que todos nós fazemos: quero ver um bom terror, alguém me dá uma dica? O seriado tal vale a pena? Não tem dublado?
Mas há um questionamento igualmente comum – ou até mais proeminente – que me intriga: comecei a ver o seriado xis: devo continuar? Estou no quinto episódio de ipsilon: devo prosseguir?
Não sei como funciona para vocês, mas, para mim, assistir a séries precisa ser prazeroso - o que também encontro no incômodo, no triste, no assustador, no desconcertante etc. Pouco importa o gênero, o ponto é que aquelas horas devem me oferecer algum tipo de satisfação ou desafio. E quanto mais cedo, melhor – afinal, não temos todo o tempo do mundo.
Daí que, se um seriado não me pegou até o segundo episódio, no máximo o terceiro (ou seja, até o tempo de um filme longo), sinto muito, vai para a vala do "Um dia, quem sabe, se eu ganhar na Mega Sena e não tiver mais que trabalhar". Não me forço, azar que seja algo badaladíssimo. E sigo esse princípio mesmo quando a série será assunto de alguma coluna: só aguentei Cursed: A Lenda do Lago até a metade, e fui claro em relação a isso no texto.
Enfim – a dica de hoje é a seguinte: só você pode saber se deve continuar vendo um seriado. Converse consigo mesmo sobre as emoções já despertadas, sobre seu grau de envolvimento com o mistério apresentado, sobre sua paciência ou seu limite em relação ao ritmo narrativo ou ao tema abordado. Parece óbvio, mas a impressão é de que algumas pessoas ficam esperando que surja nas suas vidas uma Allison, a número 3 de The Umbrella Academy – interpretada por Emmy Raver-Lampman, a personagem do seriado da Netflix tem o poder de, digamos, convencer os outros. Mas não raro ela mente, ou seja, não tome um elogio ou uma espinafrada (inclusive as minhas, ora) como verdades absolutas.
O fato é que muita gente nem sabe direito o que quer assistir. Ou então tem preguiça de decidir – não por acaso, a Netflix está testando em alguns países (como o Brasil) o botão shuffle, de escolha aleatória. Talvez essa mesma preguiça explique a inércia de seguir vendo uma série mesmo que ela não esteja agradando. Há até uma curiosa contradição: a pasmaceira convive com uma pressa de ser arrebatado. Uma urgência de atingir um pico, típica deste mundo de instantaneidade que vivemos. Creio que eu também me deixo contaminar – pego como exemplo Muito Velho para Morrer Jovem (Too Old to Die Young, 2019), estilosa série policial no Amazon Prime Video. Apesar de ter sido criada por um dos meus autores de quadrinhos favorito, o americano Ed Brubaker, e dirigida pelo dinamarquês Nicolas Winding Refn, realizador de um dos meus filmes de culto, Drive (2011), o andamento altamente contemplativo (eufemismo para "lento") me fez parar no começo do segundo episódio. Parar, não: pausar. Para esta eu volto, com ou sem Mega Sena.