Mais do que vencer lutas cheias de efeitos especiais, o público espera que um super-herói também tenha um coração de ouro. The Umbrella Academy, seriado da Netflix que ganha sua segunda temporada nesta sexta-feira (31), comprova que uma mudança de curso é necessária quando, sim, os tempos modernos pedem discussões importantes em seu roteiro.
Lançada em fevereiro do ano passado, a primeira temporada do seriado baseado na HQ de Gerard Way (com ilustrações do brasileiro Gabriel Bá) apresentou a trupe de super-heróis mais disfuncional dos últimos tempos. Eles recebem a missão de salvar a Terra do apocalipse e, segundos antes do choque da Lua contra o nosso planeta, todos eles conseguem viajar no tempo - graças ao poder de Cinco (Aidan Gallagher), que tem a possibilidade de teletransporte.
Desta forma, chegamos ao segundo ano, que leva toda a trupe para a década de 1960, dias antes do assassinato do presidente John F. Kennedy. Ali, Cinco descobre que um segundo apocalipse está previsto para 10 dias e, por isso, parte para reunir a sua família. Todos estão espalhados em diferentes locais de Dallas, nos Estados Unidos, cada um vivendo seus dilemas em outros modos de vida.
Mais do que a luta pela sobrevivência mundial, a série aposta em subtramas bem politizadas. Allison (Emmy Raver-Lampman), por exemplo, está casada com um homem e é vítima de racismo no bairro onde mora, imperado por brancos. Eis que temos a primeira grande humanização da nova temporada: a luta dela contra vizinhos gera protestos e até briga com a polícia. Qualquer semelhança com o caso de George Floyd, nos EUA, é mera coincidência — até mesmo a emblemática situação acontece de forma quase que igual no seriado. O mais bacana é que a nova temporada já estava toda gravada em novembro do ano passado. Ou seja, a discussão caiu como uma luva em 2020, sem querer.
Em outra ponta, temos Vanya (Ellen Page), que foi o grande motor de confusões da primeira temporada. Com a memória apagada, ela se tornou babá de um menino mudo e desenvolve um romance com a mãe dele, Sissy (Marin Ireland). Outro ponto positivo para The Umbrella Academy que, só neste mesmo núcleo, aborda a causa LGBT+ e também a violência doméstica.
A batalha continua
Apesar de ser um ano em que discussões políticas estão mais presentes, The Umbrella Academy também segura o ritmo na sua história. Entre uma briga e outra, Cinco consegue reunir a trupe completa. Em alguns momentos, a sensação é de que todos irão largar a missão de evitar o apocalipse (afinal, vamos todos morrer um dia, não é mesmo?), mas o roteiro consegue se direcionar para um desfecho aceitável.
Os inimigos dos membros de Umbrella, a chamada Comissão, segue vivíssima e disposta a acabar com as ações da trupe. Além disso, a segunda temporada ganha uma nova personagem: Lila (Ritu Arya), que é filha adotiva da gestora da Comissão (Kate Walsh), que vai incomodar o espectador.
Para dosar a tensão entre as discussões, a fase tem a maestria e o bom humor de Klaus Hargreeves (Sheehan). Com a capacidade de falar com mortos, ele tem cenas divertidas com o já falecido Ben, o irmão número seis, e, por ter uma vida desregrada com álcool e drogas, dá ótimas sacadas ao longo da temporada.
Felizmente, entre batalhas e problemas humanos, a segunda temporada de The Umbrella Academy é mais sensível e tem mais ritmo do que a fase anterior. Considerando que vivemos um ano em que uma pandemia fez os humanos ficarem em casa, nada melhor do que sentir que todos nós temos dias ruins e problemas de relacionamento — até mesmo os super-heróis.