Quem disse que a gente precisa viajar para fora do Estado para se divertir e curtir boas férias? Tem muita coisa legal para fazer por aqui mesmo, sem precisar ir longe. Para te ajudar a definir um roteiro, a coluna criou a série Lugar para visitar no RS.
Desde o início de janeiro, a coluna apresenta dicas de comunicadores do Grupo RBS para todos os bolsos e gostos.
Até agora, já publicamos as sugestões de Elói Zorzetto, Cris Silva, Marco Matos, Luciano Potter, Cristina Ranzolin, Daniel Scola, Denise Cruz, Neto Fagundes, Rosane de Oliveira, Daniela Ungaretti, Simone Lazzari, Léo Saballa Jr., Giane Guerra, Andressa Xavier, Kelly Matos, Zé Alberto Andrade, Fabrício Carpinejar, Lela Zaniol, Eduardo Gabardo, Rodrigo Lopes, Marta Sfredo, Humberto Trezzi, Josmar Leite, Jeff Botega e Paulo Germano.
Nesta segunda-feira (12), a recomendação é de Leonardo Oliveira, craque do jornalismo esportivo da RBS.
A dica do Leo
Ele está passando uma temporada em Barcelona, na Espanha, onde se especializa em Gestão e Marketing Esportivo. Leonardo Oliveira é um expert na área, mas seu universo vai muito além do futebol. Leo é um cara do mundo, escreve sua coluna em GZH desde a Europa e já visitou inúmeros lugares em grandes coberturas jornalísticas.
A coluna pediu, e ele atendeu. Entre uma aula e outra, o comunicador da RBS sugeriu um baita roteiro no sul do Estado, que não perde em nada para os melhores destinos internacionais.
— Pelotas sempre foi uma cidade que me encantou pela identidade própria e por conservar em sua arquitetura alguns capítulos da história do Rio Grande do Sul. No final de 2012, depois de ir a um casamento de um grande amigo numa charqueada, coloquei uma delas, a Santa Rita, na lista de lugares para voltar — diz Leo.
Durante um fim de semana, ele e a mulher, Nádia Cansi, deixaram os filhos com os avós e fizeram um programa a dois na região.
— Pelotas não segue o perfil de roteiros românticos, mas tem escondidas atrações que oferecem um olhar diferente nas suas ruas, no seu casario antigo e nos seus hábitos peculiares, muitos deles trazidos pelos ventos do Oriente uruguaio — conta o jornalista.
A Charqueada Santa Rita remonta aos tempos em que o charque dominou a economia sulina, nos séculos 18 e 19. O prédio foi conservado e hoje abriga, além de uma bela pousada, um museu que conta um pedaço do passado de Pelotas e do próprio Rio Grande — foi o imposto cobrado carne salgada, afinal, o estopim da Revolução Farroupilha, que se arrastou por dez anos, entre 1835 e 1845.
— No museu da fazenda, vimos como funcionavam as charqueadas e como era cruel a exploração da mão de obra escrava, trazida da África. Trabalhar nesses locais era a punição para os rebeldes, pelas condições ainda mais precárias de trabalho e os estragos que o sal provocava nas mãos e no corpo dos escravizados. Toda a história da charqueada e do ciclo do charque na região é explicada para os hóspedes nesse tour — explica Leo.
Outro ponto alto é o cardápio oferecido, baseado na culinária da época.
— Chegar ao local numa sexta-feira à noite, no frio, depois de encarar a estrada e um dia de trabalho, e receber no quarto um carreteiro de charque na panela de ferro, com feijão mexido e quibebe, fez daquele jantar um dos mais saborosos que já tivemos. E posso dizer que eu e minha mulher já temos uma milhagem boa por aí — brinca ele.
O lugar ainda oferece amplo espaço verde, cadeiras para matear com preguiça ao sol e um deque às margens do canal São Gonçalo para ver o tempo passar sem pressa.
Se for para lá, não deixe, também, de fazer um passeio em Pelotas.
— Vale dar um pulo no centro, para caminhar e observar o casario antigo, e esticar até o mercado público, onde aos sábados uma turma veterana faz um samba animado. O programa completo inclui ainda uma esticada para um pastel de camarão na Praia Laranjal e uma caminhada no calçadão. Para fechar, indico o samba ao vivo do Boteco Cruz de Malta, abastecido com cerveja bem gelada, cortes saídos da parrilla e queijo provolone na brasa — detalha o comunicador.
São os tais “ventos do Oriente", nas palavras de Leo, que ajudam a formar a identidade de uma cidade do Interior que criou seu mundo próprio.
— Não tem o charme da Serra, mas que pode ser, sim, ser romântica ao seu jeito. Como dizem os pelotenses, "mereces" — conclui o jornalista.
Sobre a Charqueada Santa Rita
A propriedade conta com 18 suítes, todas reformadas buscando manter as características originais do século 19. Ao todo, a propriedade tem 12 hectares, que remetem a uma viagem histórica.
O charque era a grande fonte de renda em Pelotas no período colonial. Estima-se que nos momentos mais produtivos do município, pelo menos 80% da comercialização e produção nacional do item vinham de lá. Com isso, pelo menos 40 charqueadas já existiram no local.
A localização de muitas delas é estratégica, principalmente próximas a rios e arroios. É o caso da Charqueada Santa Rita, localizada na Estrada da Costa, número 200, às margens do Arroio Pelotas. A propriedade fica próxima à indicação da Cris Silva nesta série: a Charqueada São João, no número 750 da mesma rua.
* Colaborou Maria Clara Centeno