Desde o início de janeiro, a coluna apresenta uma nova série de verão, para destacar as belezas do Rio Grande do Sul. A ideia é provar que não precisamos ir longe para encontrar ótimas opções para curtir as férias.
Para me ajudar na missão, convidei comunicadores do Grupo RBS. Um timaço já passou por aqui e deixou sugestões incríveis.
Até agora, já publicamos as dicas de Elói Zorzetto, Cris Silva, Marco Matos, Luciano Potter, Cristina Ranzolin, Daniel Scola, Denise Cruz, Neto Fagundes, Rosane de Oliveira, Daniela Ungaretti, Simone Lazzari, Léo Saballa Jr., Giane Guerra, Andressa Xavier, Kelly Mattos e Zé Alberto Andrade.
Nesta terça-feira (30), a recomendação é de um dos escritores mais populares do RS, o poeta e colunista de GZH Fabrício Carpinejar.
A dica do Carpinejar
A gente brinca que um “abre” e outro “fecha” o jornal - eu, na página 2, ele, no final (ou no início, dependendo de quem lê). Fabrício Carpinejar é um "cara único": autêntico até a raiz dos cabelos que já não tem.
Foi exatamente por isso — e por admirar a forma como ele vê o mundo e explode em sentimentos — que convidei o Carpi, a quem chamo de amigo, para participar desta série. E havia, ainda, mais um motivo especial.
Em 2011, o escritor deu vida à série Beleza Interior. Durante um ano, ele viajou pelos rincões do Rio Grande do Sul e relatou, nas páginas de ZH, o que chamou de "passeio pela alma do Estado". Em 2012, todas essas histórias publicadas viraram livro — Beleza Interior: Uma viagem poética pelo RS (Arquipélago Editorial, com edição esgotada).
Quando pedi a ele que indicasse um lugar para visitar em solo rio-grandense neste verão de 2024, ele respondeu que seria difícil escolher um só local. Insisti. Deu certo.
Carpinejar, como era de se esperar, não ficou no óbvio. Escolheu um destino para quem é "gaúcho raiz" e, portanto, carnívoro (perdoem-nos os vegetarianos e veganos).
— Escolho o lugar onde comi o melhor churrasco de toda a minha vida: Lagoa Vermelha — disse ele, triunfal, para em seguida explicar:
— Lá, você vai encontrar o churrasco mais suntuoso que já vi. Feito em bambu e de lamber os beiços. A carne não é dividida em partes para assar. O boi é crepitado inteiro em fogo de lenha no chão. O assador corta a picanha, o vazio, a costela, tudo no olho. Não existe essa história de pebolim, de virar espeto. É o modo campeiro mais viking que existe.
À época, Carpinejar foi recebido, entre outros anfitriões, pelo famoso Chico Fialho, conhecido e respeitado no município como exímio assador. Ele já não está entre nós desde 2015, mas segue sendo lembrando com carinho pelos conterrâneos e pelo poeta, que se deliciou com a carne do velho Chico.
Segundo o colunista de GZH, os nacos "começam a assar pelo lado do osso, não pela gordura". A gordura, prossegue Carpinejar, "é o grande final artístico, responsável pelo acabamento, bem passado e mal passado acontecem ao mesmo tempo".
— Recomendo visitar a cidade para desfrutar do auge da gula durante a Festa Nacional do Churrasco — diz o escritor.
A próxima edição do evento (que ocorre junto do Rodeio Crioulo Internacional e destaca a comida campeira) será em fevereiro de 2025, mas é possível ir a Lagoa Vermelha em qualquer época do ano provar a carne assada.
A dica é almoçar na churrascaria Ponteio Fattoria, onde é servido o tradicional churrasco local. Se quiser o visitante quiser esticar o passeio, pode se hospedar no Lagoa Parque Hotel, com piscina de água termal, trilha ecológica e gastronomia diversa.
Sobre Lagoa Vermelha
Chamada pela própria prefeitura de "Capital Nacional do Churrasco", a cidade tem uma história que se confunde com a do prato típico. O gado trazido pelos jesuítas ocupou o território ancestral e logo o rebanho adquiriu número expressivo.
Por volta de 1840, a primeira família vinda de fora se instalou no local e começou a praticar a pecuária. Até hoje, a atividade figura entre as principais fontes de renda de Lagoa Vermelha, junto da indústria moveleira e da produção de aveia.
O município tem 27.659 habitantes, segundo o censo de 2022, e se encontra por volta de 750 metros acima do nível do mar.
* Colaborou Maria Clara Centeno