A menos de meio ano das eleições, a disputa pelo comando do Palácio Piratini tem nove pré-candidatos, negociações intensas nos bastidores e um governador fardado para concorrer. Embora continue negando em público a possibilidade de tentar novo mandato, José Ivo Sartori assumiu pessoalmente, desde o fim de março, as conversas em busca de aliados para viabilizar a candidatura.
A demora em tomar posição levou o governador a perder apoiadores importantes desde o início do ano, entre os quais o PSDB, que deixou a base em janeiro, e o PP, parceiro da gestão até março. Agora, o atual inquilino do Piratini tem até 5 de agosto, quando se encerra o prazo das convenções partidárias, para confirmar seu nome na briga por votos.
A hipótese é condicionada a dois fatores: o pagamento em dia dos salários dos servidores e a formação de uma coligação forte.
— Sartori se deu conta de que, se continuasse sem falar com ninguém, ia perder o bonde, por isso passou a cuidar pessoalmente das negociações, com a ajuda do Ibsen (Pinheiro, deputado estadual) e do (ex-ministro Luis Roberto) Ponte. Ele está atrasado, mas é candidatíssimo. Sabe que se pagar a folha em dia alavanca o seu capital político — diz um correligionário que acompanha a movimentação de perto.
Inicialmente, o desejo de Sartori era ter Eduardo Leite (PSDB) como vice e Ana Amélia Lemos (PP) e Beto Albuquerque (PSB) concorrendo ao Senado. A configuração se complicou, porque Leite está em plena campanha e o PP decidiu lançar pré-candidato – o deputado federal Luis Carlos Heinze.
Quanto ao PSB, que segue no governo e apoia Sartori, a recente filiação ao partido do ex-prefeito de Porto Alegre José Fortunati embaralhou o cenário. O PSB quer as duas vagas para senador na chapa, mas o PMDB não abre mão de ter o ex-governador Germano Rigotto na disputa. Enquanto o impasse persiste, Leite diz que, se o PSB quiser, aceita a dobradinha.
O resultado dessas conversas ainda é incerto. Mesmo partidos que estiveram com Sartori no primeiro turno de 2014 e continuam ao seu lado avaliam mudanças. É o caso do PPS, cada vez mais próximo de Leite.
Há duas semanas, a deputada estadual e vice-presidente estadual da sigla, Any Ortiz, foi chamada pela primeira vez por Sartori para tratar das eleições.
— Até então, ninguém sabia se ele seria candidato. Deixei claro que sigo apoiando os projetos do governo, mas contei que estamos conversando com o Eduardo e que não temos nada definido — relata Any.
Na prática, Sartori tenta, pelo menos, repetir em 2018 a coligação de 2014 – com PMDB, PSD, PSB e PPS à frente – e trabalha para atrair o PTB, sigla com capilaridade na Região Metropolitana, mas que nunca integrou a base do atual governo e lançou Ranolfo Vieira Júnior como pré-candidato.
Chefe de Polícia Civil no governo Tarso Genro (PT), o delegado já foi convidado para ser vice de Leite e de Heinze.
— Ranolfo virou a noiva da vez — brinca o presidente estadual do PTB, Luiz Carlos Busato.
Prisão de Lula deve impactar candidaturas
Em encontro no Piratini há duas semanas, Sartori perguntou a Busato como estava “a situação com o Eduardo”. O prefeito de Canoas disse que as negociações com Leite estavam “adiantadas”. Sartori, então, respondeu:
— O PMDB está pensando em candidatura. Quem sabe vocês esperam um pouquinho para a gente conversar?
— Mas que candidatura? A sua, governador? — questionou Busato.
Sartori respondeu com um sorriso. A data do anúncio oficial da candidatura, segundo o presidente estadual do PMDB, deputado federal Alceu Moreira, “é uma decisão pessoal do governador”:
— A única coisa que posso dizer é que o PMDB está 100% fechado com ele.
Sobre a possibilidade de perder o PTB, Leite duvida que Sartori tenha êxito:
— Respeito o governador Sartori, mas ele tentou por quatro anos levar o PTB para a base aliada e não conseguiu. Duvido que, agora, resolva entrar na campanha de um governo com viabilidade eleitoral incerta.
Os rumos do partido, segundo Ranolfo, deverão se definir no próximo mês.
— Me envaidece saber que meu nome é lembrado e não nego as negociações, mas, no momento, prefiro falar como pré-candidato a governador — desconversa o policial.
Se o quadro ainda está indefinido no campo da direita e da centro-direita – com exceção do liberal Mateus Bandeira (Novo), que não deve fazer coligações –, do lado da esquerda o cenário está mais nítido. Até agora, há quatro pré-candidatos oficializados:
Abgail Pereira (PC do B), Jairo Jorge (PDT), Miguel Rossetto (PT) e Roberto Robaina (PSOL). PSTU também avalia candidatura própria. Se o cenário não mudar até agosto, o principal risco que o grupo corre é dividir votos a ponto de ninguém chegar ao segundo turno.
Outro elemento novo, que deve interferir na campanha, é a recente prisão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Nesse caso, a dúvida é como a polêmica em torno da reclusão do líder petista se refletirá nas urnas, em especial para Rossetto, ex-ministro de Lula, e para Abgail e Robaina, cujos os candidatos à Presidência – Manuela D’Ávila (PC do B) e Guilherme Boulos (PSOL) – defendem a liberdade do ex-presidente.