Aclamado no último sábado por cerca de 500 petistas como candidato do partido ao governo do Estado em 2018, Miguel Rossetto (PT) espera liderar um projeto que una a esquerda gaúcha em oposição ao governo de José Ivo Sartori (PMDB). O ex-ministro dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, que publicou no Facebook vídeo em apoio à candidatura do correligionário, critica o acordo de adesão do Estado ao Regime de Recuperação Fiscal do governo federal, diz ser possível pagar em dia o salário do funcionalismo e defende encontro de contas entre os créditos da Lei Kandir e a dívida com a União.
Como governar um Estado que atrasa o pagamento de salários, fornecedores e repasses à saúde e educação?
Com um plano de governo consistente, crescimento econômico, muito trabalho e superação da crise fiscal. Essa superação exige nova relação do Rio Grande com a União. A crise fiscal deve ser superada com o equacionamento definitivo da dívida com os créditos que o Estado tem pela Lei Kandir. Não devemos aceitar a condenação fiscal por mais 30 anos. O projeto que o governo Sartori tenta aprovar, no final do ano e de forma quase clandestina, é um desastre.
O PT é contra a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal do governo federal. Qual sua opinião sobre os termos do acordo proposto?
Um desastre. O acordo adia o pagamento da dívida por três anos, que passa de R$ 60 bilhões para R$ 90 bilhões em 2020.
A proposta congela os efetivos das polícias, da educação, e submete o Rio Grande a uma junta administrativa do governo Michel Temer, que passa a governar o Rio Grande. Já pagamos essa dívida por 20 anos e se pretende pagar por mais 30. Nenhum país derrotado em guerra ficou 50 anos pagando dívidas de guerra. Isso é uma condenação fiscal para o futuro do Estado.
Como fazer então?
Estamos apresentando alternativa: encontro de contas entre o que devemos e os créditos da Lei Kandir. É tarefa de um governador negociar com altivez e responsabilidade na defesa dos interesses do Rio Grande. O projeto que o Sartori apresenta é da União, representa uma submissão do governo estadual. Temos que inverter esse jogo, liderando um movimento. O governo Tarso Genro, ao mudar o indexador do serviço da dívida com a União, reduziu seu custo. Se isso vigorasse lá em 1996, quando o acordo original foi assinado, a dívida já estaria paga e ainda teríamos R$ 8 bilhões de crédito.
Já pagamos essa dívida por 20 anos e se pretende pagar por mais 30.
MIGUEL ROSSETTO
Pré-candidato do PT
Negociação desse tipo demanda tempo e no dia 30 de cada mês o senhor terá de pagar salários. Que políticas de competência exclusiva do governo do Estado o senhor pretende implementar?
O que nos move são as agendas necessárias. As melhores agendas são as mais difíceis, mas devem ser prioritárias. Temos de liderar um projeto de nova federação. Aqui, o governo do Estado deve melhorar a gestão, combater a sonegação, ampliar a capacidade de arrecadação e incorporar as melhores tecnologias de avaliação e acompanhamento das políticas públicas. O ajuste do Estado não é uma equação contábil.
É possível pagar os salários dos servidores em dia?
É, e nós pagaremos. Em duas experiências de governo, o PT nunca atrasou salários. Governar significa fazer escolhas. A nossa bancada e a equipe técnica do partido afirmam que é possível pagar em dia. O fluxo financeiro do Estado é uma caixa-preta.
O atual governo faz escolhas erradas, trabalha mal e demonstra brutal incompetência.
Como recuperar os eleitores que se desencantaram com o PT após os escândalos dos últimos anos?
Com diálogo. Esses eleitores estão escandalizados com os governos Temer e Sartori, com o PSDB, o PMDB e a destruição dos direitos trabalhistas e previdenciários. Estão escandalizados com 25 meses de atrasos nos salários. Esse é o debate central que faremos.
Na eleição municipal de 2016, o PT nacionalizou a campanha, com um discurso contra o alegado golpe que a presidente Dilma teria sofrido. O senhor pretende repetir esse discurso em 2018?
Vamos fazer uma campanha articulada para mudar o Brasil e o Rio Grande, oferecendo um projeto liderado pelo Lula, com desenvolvimento, inclusão social e respeito à sociedade.
Além do seu nome, foram cogitadas as candidaturas dos ex-governadores Tarso Genro e Olívio Dutra. Na eleição à prefeitura de Porto Alegre em 2015, o candidato foi Raul Pont, que já havia se afastado da vida pública. O PT enfrenta problemas de renovação?
Minha candidatura representa essa grande renovação. Me sinto honrado com a indicação por unanimidade do diretório estadual e o grande apoio dos companheiros Olívio e Tarso. O PT sempre foi chamado para arrumar o Estado a partir de governos do PMDB e do PSDB. Estamos preparados para assumir essa responsabilidade mais uma vez.