As fissuras causadas pela Operação Lava-Jato, um impeachment e a atuação de parte do Congresso para sepultar investigações contra o atual presidente trarão impactos na estrada eleitoral de 2018. A extensão da influência desse cenário no rumo dos candidatos ao Planalto ainda é projetada com cautela por especialistas, que veem o descontentamento do eleitor, mas também a possibilidade de qualificação dos escolhidos pelo voto.
— Pode ocorrer abstenção muito grande, voto em branco ou nulo, mas tudo vai depender da campanha, se ela será capaz de mobilizar a sociedade — opina o cientista político da USP José Álvaro Moisés.
Para o analista, o que se desenha é "uma pressão para a mudança e renovação dos partidos". A retomada da economia e o combate à corrupção, junto a temas tradicionais — educação, saúde e segurança —, deverão guiar a rota das campanhas.
No caminho até a Presidência, os concorrentes terão de desviar dos ataques de adversários quanto às suspeitas de corrupção e suas alianças com envolvidos em escândalos. Para o cientista político da UnB, David Fleischer, também há possibilidade do fortalecimento de concorrentes que pregam o deslocamento à política tradicional:
— É outro aspecto importante. Poderá ser o ano dos outsiders.
Lula entre a popularidade e a rejeição
Vencedor das últimas quatro eleições presidenciais, o PT vive situação contraditória. Tem o candidato mais popular, mas que pode ser impedido de concorrer.
Lembrado pelas políticas sociais e pelo aumento do poder de compra da população, Luiz Inácio Lula da Silva lidera pesquisas de intenção de voto em todos os cenários. Por outro lado, é o que sofre a maior rejeição entre o eleitorado.
Duro golpe a sua imagem foi a condenação pelo juiz Sergio Moro, a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex, que seria propina disfarçada.
O ex-presidente pode ter a candidatura vetada se a sentença for confirmada pelo Tribunal Regional Federal da 4ªRegião (TRF-4), com sede em Porto Alegre — na sexta-feira, o Ministério Público Federal protocolou recurso pedindo o aumento da pena. A condenação em segunda instância enquadraria o petista na Lei da Ficha Limpa. Somado a isso, há mais seis processos abertos contra ele.
Outro episódio que abalou as pretensões de Lula foi a delação do ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antônio Palocci à Justiça Federal. Ele ligou os governos do PT ao recebimento de propina de empreiteiras e a ações para frear a Lava-Jato.
Correligionários mantêm o discurso de que o único candidato do partido à presidência é Lula e rechaçam que haja plano B. Ainda assim, paralelamente, outro nome começa a ganhar força. Nos últimos meses, Fernando Haddad tem cumprido diversas agendas pelo país, em esforço para se tornar mais conhecido.
Nos debates internos da legenda, o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação é apontado como um dos preferidos de Lula para assumir seu lugar, caso seja necessário. Mas uma ala da sigla vê com ressalvas a indicação de Haddad.
Nesse cenário, um plano C seria o ex-ministro dos governos petistas Jaques Wagner. Governador da Bahia por dois mandatos (2007-2014), ele também é cotado para a corrida ao Senado ou ao próprio governo de seu Estado.
Em recente entrevista a uma rádio baiana, Lula ainda citou nomes de correligionários na chefia de Executivos estaduais que considera fortes para a candidatura ao Planalto. Nos bastidores do partido, é quase unânime a leitura de que o ex-presidente seria o único capaz de guiar o comboio petista de volta ao poder.
PSDB dividido entre Alckmin e Doria
A estrada sonhada por Geraldo Alckmin até a candidatura ao Palácio do Planalto pelo PSDB parecia tranquilamente pavimentada há um ano. Exercendo o quarto mandato à frente do governo paulista, assistiu ao enfraquecimento de dois dos principais adversários políticos no partido — o senador afastado Aécio Neves (MG) e o ex-ministro e senador José Serra (SP).
Aécio já havia sido citado pela Odebrecht na Lava-Jato. Serra ocupava o Ministério de Relações Exteriores no governo de Michel Temer, pasta de pouca expressão, de onde saiu em fevereiro alegando problemas de saúde. Também teve o nome lembrado por delatores.
A cereja do bolo foi a vitória de seu afilhado político, João Doria, até então desconhecido do eleitorado e vindo de fora da política, para a prefeitura de São Paulo. O que Alckmin não contava era que a cereja poderia causar tamanha indigestão.
Vestido de gari no dia em que assumiu a prefeitura, e com forte discurso contra o PT, Doria atraiu holofotes e animou a ala mais liberal do partido. Nos últimos meses, tem peregrinado o país.
Governador e prefeito polarizaram a disputa interna pelo posto de candidato tucano à Presidência, embora evitem críticas públicas.
A decisão entre os dois deverá ocorrer através de consulta aos filiados. Uma terceira via no partido poderá ser o prefeito de Manaus, Artur Virgílio Neto, que também demonstrou interesse pela indicação.
Há ainda possibilidade de Doria trocar de sigla. Ele é cortejado pelo DEM e se aproxima de um dos expoentes do partido, o prefeito de Salvador, ACM Neto, com quem poderia formar chapa. Nos bastidores, o tucano mantém conversas com PRB e PMDB.
Atualmente, o temor de parte do PSDB é ver a campanha do próximo ano contaminada pelas investigações a partir das delações da JBS, que implicam diretamente Aécio, somado ao desgaste de manter-se aliado ao governo Temer, acossado por denúncia em tramitação na Câmara.
A ala mais jovem da legenda, grupo conhecido como "cabeças pretas", defende o desembarque da base do Planalto e a entrega dos quatro ministérios ocupados.
Do outro lado, o bloco formado prioritariamente por caciques históricos, os "cabeças brancas", garantem a permanência e atuam nos bastidores para sepultar a segunda acusação contra o presidente. Racha que ameaça atrapalhar o foco dos tucanos em 2018.
Discurso alternativo contra polarização
Figuras conhecidas de outros Carnavais e eleições, Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT) ocupam o caminho do meio na estrada eleitoral para 2018, embora andem separados. Ambos poderão utilizar discursos pesados contra adversários citados em esquemas de corrupção, já que não tiveram seus nomes ligados a nenhum dos últimos escândalos da política nacional.
Marina tem capital político maior. Nas últimas eleições, obteve 22,1 milhões de votos após ser alçada à cabeça de chapa, tendo o gaúcho Beto Albuquerque (PSB) de vice, depois da trágica morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB). Em 2010, Marina foi a escolha de 19,6 milhões de brasileiros.
Hoje, pesa contra a ex-senadora a ausência no debate político, o que deixa seus eleitores sem norte a seguir. Ainda assim, mantém desempenho positivo nas pesquisas. No último levantamento do Datafolha, Marina aparece em terceiro, empatada tecnicamente com o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Quando Lula não participa da sondagem, ela assume a liderança em todos os cenários.
E é justamente como opção de esquerda para contraponto ao ex-presidente que Ciro Gomes deverá concorrer à Presidência, pela terceira vez. Afastado da disputa desde 2006, quando recebeu 10,1 milhões de votos, o ex-governador do Ceará e ex-ministro de Lula é visto como extravagante, por abusar de declarações fortes contra políticos e magistrados.
Na pesquisa Datafolha, Ciro apresenta melhor desempenho em cenários em que Lula não aparece, alcançando até 10% das intenções de voto na terceira colocação. Embora não conte com o apoio do PT, o pedetista afirma que a chapa dos sonhos seria uma formada por ele e o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad. Também não descarta aliança com Marina.
Quem corre por fora é o atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD). Apesar de desconversar sobre a pré-candidatura, não nega que poderá participar da disputa. Para viabilizar seu nome, apoiadores apostam na retomada da economia, embora avaliem que ele terá dificuldades para se descolar da baixa popularidade do governo de Michel Temer e das reformas aprovadas ou em discussão, como a trabalhista e a da Previdência.
De caricato a candidato viável
Com aposta no discurso conservador, Jair Bolsonaro (PSC) tem encontrado eco em parte da sociedade, demonstrado nas últimas pesquisas de intenção de voto. Deputado federal há 26 anos pelo Rio de Janeiro, ele aparece na segunda colocação em dois cenários distintos do último levantamento do Datafolha: contra Lula e na disputa com Marina Silva.
Nos últimos meses, o parlamentar tem cumprido agenda em vários Estados. A partir deste domingo (8), fará incursão aos Estados Unidos, onde irá se apresentar como alternativa viável do ponto de vista liberal, em oposição à ideia do político nacionalista e desenvolvimentista.
A expectativa é demonstrar que há identificação com o presidente norte-americano, Donald Trump. Aos eleitores e ao mercado, a missão é sustentar programa de governo consistente para dirimir críticas de que o deputado não tem propostas concretas.
Em agosto, Bolsonaro anunciou que irá concorrer no próximo pleito pelo Partido Ecológico Nacional (PEN), que está em processo de mudança de nome para Patriota. A ação ainda não foi oficializada, o que impede cenário claro de alianças em torno dele.
Capitão do Exército, defende o período da ditadura militar (1964-1985). Na última quinta-feira (5), ao chegar a Belém (PA) para compromisso político, pediu salva de palmas ao general Antonio Mourão, que recentemente fez declarações sobre possível intervenção militar no país. Na votação do impeachment contra a ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, Bolsonaro homenageou o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, primeiro militar reconhecido pela Justiça como torturador nos anos de chumbo.
Envolto em polêmicas, o deputado foi condenado pela Justiça a pagar indenização por danos morais à colega da Câmara Maria do Rosário (PT-RS). Em 2014, disse que não a estupraria porque ela "não merece". Ele afirma que reagiu após ser chamado de estuprador. Na última terça-feira (3), o pré-candidato foi condenado em outro processo, por declarações contra moradores de um quilombo, durante evento no Rio, em abril:
— O afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Acho que nem para procriador ele serve mais.
Em sua defesa, o parlamentar classificou a demanda como "de cunho político" e que as informações foram "distorcidas".