A pouco mais de um ano da eleição, com as candidaturas ainda indefinidas, a pesquisa do Datafolha que mostra a liderança do ex-presidente Lula em todos os cenários de primeiro e segundo turnos deve ser vista com ressalvas. Primeiro, porque a candidatura de Lula é incerta. Ele só poderá concorrer se não tiver sido condenado em segunda instância. Segundo, porque, antes de a campanha ganhar a rua, o eleitor cita os nomes que lhe são mais familiares. É o que em pesquisa se chama de "recall".
O Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) espera julgar até o registro das candidaturas o recurso do ex-presidente, condenado a nove anos e meio de prisão pelo juiz Sergio Moro. O dado curioso é que, mesmo condenado e aparecendo todos os dias no noticiário como acusado de envolvimento em corrupção, Lula se mantém à frente dos adversários com larga margem. Nas simulações de segundo turno, abre vantagem significativa sobre todos (entre oito e 14 pontos), exceto no improvável cenário de uma final entre ele e Sergio Moro, em que haveria um empate técnico. Ele teria 44%, e o juiz que o condenou, 42%.
O Datafolha abriu o leque para todas as possibilidades, inclusive para as absurdas, como a de o PT cumprir a ameaça de boicotar a eleição. Quem ganharia com isso? Se a eleição fosse hoje e o PT não tivesse candidato, a favorecida seria Marina Silva (Rede). Se nos cenários com a presença de Lula ela fica em terceiro, tecnicamente empatada com Jair Bolsonaro, sem o PT (ou com Fernando Haddad no lugar de Lula), Marina assume a ponta. E ganha de Bolsonaro por 47% a 29% em um eventual segundo turno.
Para testar a aceitação dos que se apresentam como candidatos e daqueles que poderiam encarnar a figura do outsider, o Datafolha testou até hipóteses com chance próxima de zero de vingarem. É o caso do juiz Sergio Moro. Seja porque o eleitor sabe que não será candidato, seja porque não é tão popular assim, Moro não explodiu. Na pesquisa, seu nome foi testado em um cenário sem Lula. Ficou em terceiro, com 9%, atrás de Marina (17%) e de Bolsonaro (15%) e à frente de Geraldo Alckmin (8%) e de João Doria (6%). Nessa mesma simulação, o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa tem 5%. São índices baixos, mas bem melhores do que os 2% do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Ciro Gomes (PDT) e Alvaro Dias (Podemos), que correm o país como candidatos, ainda não são percebidos como opção pelos eleitores. Ciro fica entre 9% e 10% em cenários sem Lula, e Dias estanca na casa dos 5%.
Como explicar o desempenho de Lula? Além de ser o mais conhecido, e da memória dos programas sociais de seu governo, é indiscutível que Lula tem um cabo eleitoral de peso: o presidente Michel Temer, com uma impopularidade recorde, cercado de ministros envolvidos em corrupção, reforça no imaginário do eleitor a ideia de que todos são iguais. E, se no campeonato da moral e da ética todos estão empatados, boa parte dos eleitores prefere "o que fez alguma coisa".
Alerta para tucanos
Com dois nomes no páreo para a eleição de 2018, Geraldo Alckmin e João Doria, o PSDB não tem o que comemorar na pesquisa do Datafolha.
Por ter vencido ou chegado ao segundo turno em todas as eleições de 1994 para cá, seria natural que o PSDB figurasse em uma posição melhor, mas a falta de unidade, o envolvimento do senador Aécio Neves na Lava-Jato e o alinhamento do partido com o impopular governo de Michel Temer acabaram jogando o PSDB para uma posição de coadjuvante nas pesquisas.
Não é só no Datafolha que os tucanos não deslancham: em todos os levantamentos, seus pré-candidatos figuram atrás do ex-presidente Lula, da ex-senadora Marina Silva (Rede) e do deputado Jair Bolsonaro, que nem definiu por qual partido concorrerá.
A ideia de que Doria, por se comunicar melhor, seria mais competitivo do que Alckmin não se confirma nas pesquisas. Os dois estão na mesma situação.
O Datafolha trabalhou com cenários em que Alckmin seria o nome do PSDB e Doria disputaria por outro partido. Mesmo sem Lula, os resultados indicam empate técnico entre os dois, fora do segundo turno.
Até dezembro, o PSDB terá de fazer uma escolha de Sofia entre a experiência de Alckmin e o estilo midiático de Doria.