Considerado o pior cenário entre a militância petista, a prisão de Luiz Inácio Lula da Silva não aplacará os discursos de aliados que o defendem como plano A do partido para a corrida presidencial. No entanto, sem liberdade, não poderia participar de atos públicos. Sem a presença da principal estrela da esquerda no país em palanques Brasil afora, o temor é de que o escolhido para substituí-lo não consiga mobilizar a militância da mesma forma. Isso levaria à divisão do espólio eleitoral do petista de forma ainda incerta.
Partidos da esquerda deverão lutar para ocupar esse espaço. Um eventual nome escolhido pelo PT seria apresentado como o candidato de Lula, o que poderia render considerável transferência de votos. No momento, o preferido para o papel é Fernando Haddad, beneficiado por estratégia semelhante ao ser eleito em 2012 para a prefeitura de São Paulo.
Os demais candidatos do campo da esquerda também deverão se apresentar como herdeiros de seu capital político. Ciro Gomes (PDT) já afirmou em entrevistas que é natural ser lembrado como um parceiro de Lula, já que esteve a seu lado por 16 anos. Manuela Dávila (PC do B) e Guilherme Boulos (PSOL) são frequentemente vistos ao lado do petista e foram a São Bernardo do Campo (SP) participar da vigília contra sua prisão.
Para o cientista político Wagner Romão, os eleitores de Lula não são apenas os simpatizantes da esquerda. Ele também capta votos junto a pessoas identificadas como centro ou direita, que mantêm boas lembranças de seus dois mandatos. A situação torna incerta a forma de distribuição de votos que iriam para ele.
— Ele consegue navegar em todas as colorações ideológicas — diz Romão.
O enfraquecimento do ex-presidente no cenário eleitoral poderia prejudicar seu principal adversário. O deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) lidera pesquisas de intenção de voto em cenários sem o petista. Analistas avaliam que grupos de eleitores que votariam no ex-capitão do Exército apenas para não eleger Lula poderiam redefinir suas escolhas para candidaturas mais identificadas com o centro.
— É muito difícil que Bolsonaro se beneficie e o fato da diminuição da polarização terá peso — comenta o cientista político José Álvaro Moisés.
Outro fator que impediria o crescimento de Bolsonaro na corrida presidencial, na análise de Moisés, é a priorização do tema da segurança pública pelo governo federal, uma das principais bandeiras do parlamentar. O cientista político destaca ainda, de acordo com pesquisas de sua autoria, que a capacidade de votos em candidatos com perfil de extrema-direita é limitado, flutuando entre 12 e 15% do eleitorado.
Terceira colocada nas últimas eleições, Marina Silva (Rede) não deverá ser beneficiada significativamente em um cenário sem o ex-presidente. A dificuldade de seu partido em fechar alianças poderá deixar a candidata com cerca de 10 segundos no horário eleitoral.
A bancada de três parlamentares no Congresso não garante convites a debates em rádio e televisão. Além disso, o fato de ela ter sido ex-ministra do Meio Ambiente de Lula e nas últimas eleições ter se aproximado de Aécio Neves descontentaria os dois lados, avalia Romão.
Os candidatos autodeclarados de centro, com viés de centro-direita, poderão ver respingos dos votos que iriam para o PT, mas não deverão empolgar o eleitor que deixaria de se declarar por Lula nas urnas. Além disso, Geraldo Alckmin (PSDB), Michel Temer (PMDB), Henrique Meirelles (PMDB) e Rodrigo Maia (DEM) ainda lutam para viabilizar suas candidaturas. Todos enfrentam o desgaste da proximidade com o atual governo, que enfrenta níveis históricos de reprovação.
Embora não seja uma característica somente desse campo, a análise é de que os eleitores estão desiludidos com a política, sentimento amplificado após o impeachment de Dilma Rousseff e as denúncias apresentadas contra Temer e barradas na Câmara dos Deputados.
— Há descrença e descontentamento muito grande em relação aos políticos, partidos e governo. Está faltando alguém que aponte caminhos viáveis — pontua Moisés.
Além dos 10 pré-candidatos citados na reportagem, há cerca de outros 10 nomes que tentam viabilizar suas candidaturas. A partir das próximas semanas, com o fechamento da janela que permitiu trocas de partido sem perda de mandato, o cenário deverá se encaminhar para o fechamento de alianças e diminuição de postulantes ao Planalto.