Ao menos 23 pré-candidatos já se apresentaram como alternativa para a corrida ao Palácio do Planalto. Faltando menos de seis meses para a eleição, o número tende a cair até agosto – data-limite para registro de candidaturas –, dependendo da conquista de apoio político e financeiro, já que as doações empresariais estão proibidas neste ano. Fatos externos à campanha também irão exercer influência no ânimo dos partidos.
A prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deverá apressar mudanças nas estratégias eleitorais de quem busca herdar seu capital político, mas também de adversários que perdem um poderoso opositor. Por ter sido condenado em segunda instância, o petista fica enquadrado na Lei da Ficha Limpa e deve ter o registro de candidatura negado pela Justiça Eleitoral.
Apesar disso, o PT afirma que sua candidatura será registrada. A presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), desautorizou correligionários a emitirem qualquer opinião em contrário.
Nos bastidores, a legenda discute o momento em que um nome alternativo será construído. O ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad é o mais lembrado, mas enfrenta resistência de setores da sigla.
O cientista político da Universidade de Brasília Ricardo Caldas avalia que, mais do que a condenação no caso do triplex do Guarujá, a prisão do ex-presidente toma grande dimensão simbólica entre o eleitorado:
— Apesar de não saber quanto tempo Lula ficará preso, você quebra a visão de mito invencível ligada a ele.
A deputada estadual Manuela D’Ávila (PC do B) e o líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos (PSOL), também pré-candidatos, receberam fortes elogios do ex-presidente em discurso pouco antes da prisão. A deferência é vista como tentativa de unir o campo político, com a criação de uma frente em eventual segundo turno. Representantes dos partidos relatam que não há nenhuma negociação para o lançamento de um candidato único da esquerda.
Ciro Gomes (PDT) tem evitado discursos enfáticos de defesa do ex-presidente. Em entrevistas, diz que Lula não é um preso político, como apoiadores o definem. Ele espera herdar boa parte dos votos do petista, mas procura também agradar a setores do centro.
— A gente tem solidariedade a Lula na prisão, mas Ciro tem luz própria — afirma o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi.
No PSB, segue incerta a candidatura do ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, recém-filiado ao partido. A leitura é que ele, protagonista na Corte durante o caso do mensalão – mais forte revés ao PT até então –, poderia atrair votos de todos os campos políticos. Sua adesão ao partido provocou uma baixa: Aldo Rebelo, que pretendia disputar a Presidência, deixou a sigla e agora deve concorrer pelo Solidariedade.
Prisão de lula afeta várias frentes, diz especialista
Marina Silva (Rede) encontra dificuldades para o fechamento de alianças. O partido tem apenas dois deputados e um senador no Congresso e, por isso, as emissoras de rádio e TV não são obrigadas a convidá-la para debates. Sem Lula, poderia ser beneficiada pela lembrança de ter sido ministra do Meio Ambiente pelo PT, mas também enfrenta resistência dos eleitores de esquerda por ter apoiado Aécio Neves (PSDB) no segundo turno de 2014.
Entre os candidatos de centro-direita, Geraldo Alckmin (PSDB) é o que mantém conversas mais adiantadas com apoiadores, como PSD e PTB. Por ter perdido o foro privilegiado, está na mira da Justiça Eleitoral – mas livre da Lava-Jato, o que gerou reação de procuradores. Delatores da Odebrecht relataram repasses de R$ 10 milhões para as campanhas do tucano em 2010 e 2014.
Entre o atual grupo inquilino do Planalto também reina a incerteza. O presidente Michel Temer chegou a ensaiar uma candidatura, mas sofre o abalo das investigações de corrupção das quais é alvo – assim como seus amigos mais próximos. Luta com o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles para encabeçar a chapa do PMDB.
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), corre por fora entre os nomes governistas. Todos têm baixíssimos índices nas pesquisas eleitorais.
O deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) segue em conversas com partidos menores. A possível aliança com o PR, que poderia ampliar significativamente o tempo no horário eleitoral, encontra resistência de representantes da sigla em Estados do Nordeste, mais próximos de DEM e PMDB. Para não perder o discurso polarizado com Lula, o parlamentar vem se posicionando favoravelmente à prisão do petista, destacando que “o inimigo ainda não está eliminado”.
Para Rodrigo Stumpf Gonzalez, professor do Departamento de Ciência Política da UFRGS, o cenário pós-prisão de Lula poderá ajudar a esquerda e os candidatos de centro-direita. Já Bolsonaro teria chegado ao ápice de sua performance eleitoral e encontraria dificuldades para ampliar o quadro de eleitores.