Dando sequência à divulgação da exposição Novelas de Rádio: Um Capítulo Importante da História Cultural de Caxias do Sul”, em cartaz no Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, destacamos hoje dois dos personagens responsáveis por consagrar o formato, nas décadas de 1940 e 1950: Joaquim Pedro Lisboa e Antônio Mano.
Conforme destacado pelo autor Marcos Fernando Kirst no livro Rádio Caxias 70 anos: Voz e Identidade, a direção do grupo de radioteatro cabia a Joaquim Pedro Lisboa, um dos fundadores da emissora, em 1946 (leia mais abaixo).
Idealizador das dramatizações, ele também orientava o tom de voz e as inflexões a serem empregadas pelos atores. “Os textos e scripts das radionovelas eram adquiridos principalmente da Rádio Nacional (do Rio de Janeiro) e de algumas emissoras paulistas”, descreve Kirst.
Depois, ele eram interpretados ao vivo por nomes locais como Antônio Mano, Lucita Fonseca Vieira, Irineu Adami, Valdir Fasoli, Tônia Marisa, Vivaldo Vargas de Almeida, Leda Marin, Neusa Tronca, Milton Rossarolla, Renato Muller, Elvira de Abreu, Marilena Braghini, Renato Monteiro, Guamar Cagliari e Luiz Carlos de Lucena, entre vários outros.
Autora dos textos da mostra, a servidora municipal Sônia Storchi Fries ressalta a importância da Rádio Nacional, que dava o tom das produções caxienses. “Romance, traição , ciúmes, o bem e o mal eram exaltados em personagens extremamente singulares. Não havia limites para o ódio, o amor, o sofrimento que se alongavam por capítulos e capítulos entremeados pelo suspense: a intriga sobreviverá à verdade? A vida vencerá a morte?
O português Antônio Mano
Emprestando vozes a diversos personagens, Antônio Mano, Lucita Vieira, Oswaldo de Assis, Milton Rossarola e vários outros artistas e locutores da Rádio Caxias permitiram que corações e mentes fossem, por instantes, felizes para sempre. Conforme destacado por Sonia Storchi Fries em um dos painéis da exposição, o português Antonio Mano amava o teatro como amava a vida.
“Foi um amador por opção, não faltou-lhe convites para atuar no teatro profissional. Em 1948, através de Joaquim Pedro Lisboa, integrou o primeiro grupo de teatro formado pela Rádio Caxias. Até os anos de 1960, sempre esteve presente ou como herói, ou como vilão, na maioria das novelas apresentadas. Foi também diretor de elenco. “Rosa de Sangue”, “Iraiti, A Última Bugra” e“O Mundo dá Tantas Voltas” deram o que falar, e Antônio Mano se consagrou como ator e diretor.
Lembranças de Neusa Tronca
A mostra em cartaz no Arquivo Histórico Municipal foi exposta originalmente na Praça Dante Alighieri, durante a Feira do Livro de 1997. Para entrar no clima nostálgico daquela edição, a radionovela "Em Busca do Amor", de Jimmy Rodrigues, foi transmitida pela Rádio São Francisco direto da praça, reunindo antigos locutores e radioatrizes.
Uma delas foi a professora aposentada Neusa Tronca, que iniciou a carreira no rádio aos 12 anos. Em 1997, ela recordou de algumas radionovelas famosas dos anos 1950, como “Almas Torturadas” e “Joana D’Arc”, na qual fazia o papel da mártir francesa:
“O final foi bem trágico, com ela sendo levada para a fogueira. Para fazer o barulho do fogo, os sonoplastas amassavam papel celofane, e para imitar o estalo da lenha, eles quebravam gravetinhos”.
A autora Tadiane Tronca, filha de Neusa, cresceu ouvindo essas histórias, que inspiraram inclusive o romance Script, lançado em 2010 . Em uma crônica de 1996, quando a Rádio Caxias celebrou 50 anos, Tadiane recordou dos papéis de “mocinha” da mãe em uma crônica no Pioneiro:
“Foi por causa das cenas de choro que minha mãe sempre garantiu seu papel de mocinha. Segundo ela, não era boa em cenas de gargalhadas, vilãs… Em compensação, era capaz de chorar tão melodramaticamente que fazia chorar metade dos ouvintes”.
Primórdios
De acordo com Marcos Fernando Kirst, o primeiro radioteatro ao vivo da Rádio Caxias ZYF-3 foi levado ao ar ainda em 1946, poucos meses depois da inauguração da emissora, em 27 de abril daquele ano. O texto “Quando a Cidade era Pequena, escrito e dirigido por Joaquim Pedro Lisboa, narrava o início da colonização italiana na Serra Gaúcha, a partir da trajetória de algumas famílias de imigrantes, alternando drama e comédia e obtendo bons índices de audiência. O mesmo ocorreu com as radionovelas seguintes: “Um Raio de Luz” e Noites Portenhas”.
Agende-se
Composta por 12 painéis, a mostra apresenta a trajetória das radionovelas na cidade, abrangendo desde as incursões das irmãs Saldanha (Antonieta, Palmira e Ana) pelo formato até as histórias que movimentaram o estúdio da Rádio Caxias, ainda quando esta funcionava junto ao antigo Edifício Kalil Sehbe (Citty Hotel), na Av. Júlio de Castilhos.
:: O quê: exposição “Novelas de Rádio - Um Capítulo Importante da História Cultural de Caxias do Sul”
:: Quando: até 29 de julho, de segunda a sexta-feira, das 10h às 16h.
:: Onde: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami (Av. Júlio de Castilhos, 318 - bairro Lourdes)
:: Quanto: entrada franca