Primeiro colunista social do jornal Pioneiro, o jornalista e escritor Christiano Carpes Antunes (1934-1967) também teve atuação no lendário Boletim Eberle, informativo interno editado pela metalúrgica entre 1956 e 1965.
Christian, como ficou conhecido posteriormente, era responsável pela seção Ruas de Caxias do Sul. Tratava-se de um delicioso relato com observações do que o colunista enxergava durante seus passeios pela área central, a evolução da cidade, o comércio, as casas e os modernos edifícios que iam surgindo a partir dos anos 1950 e 1960 — além, claro, de uma minibiografia da personalidade que nomeava a via.
A estreia ocorreu no Boletim Eberle de junho de 1957, e a rua escolhida, obviamente, não poderia ser outra que não a principal da cidade: a Av. Júlio de Castilhos.
Confira parte do relato original de 65 anos atrás:
“Em sua cabeceira, em honra aos antepassados, ergue-se impoluto um Monumento ao Imigrante, um marco na história da cidade, um cartão de apresentação para o visitante amigo que aparta em nossa metrópole. Nesse grande monumento, é onde inicia a Avenida, durante o dia movimentada pelo seu poderoso comércio. Nela se localizam as principais casas comerciais da cidade, como lojas de fazendas, casas de calçados, drogarias, estabelecimentos bancários, estes todos imponentes em seus edifícios, como o Banco da Província do Rio Grande do Sul, o Banco do Rio Grande do Sul, o Banco Agrícola Mercantil, o Banco Nacional do Comércio, a Caixa Econômica Federal e o Banco Industrial e Comercial do Sul; além de outras casas de outros ramos industriais e comerciais.
Nela se localizam também dois clubes sociais, em prédios próprios, edifícios majestosos como o Recreio Guarany e o Clube Juvenil, o mais aristocrático da cidade. Encontramos, também, dois cinemas, o Central e o Real, onde o povo, nas suas horas de lazer, procura descansar de suas lidas diárias. Na mesma avenida existem, ainda, estabelecimentos de ensino em cursos diurnos e noturnos. onde os interessados na cultura buscam enriquecer seu intelecto estudando: um Curso Comercial, denominado Salgado Filho; um Centro de Cultura Americano-Brasileira e um Centro Cultural Franco-Brasileiro. E um tanto distante do centro da cidade, em uma elevação, como um monumento erigido em honra ao saber, ergue-se majestosa a Escola Normal Duque de Caxias (Cristóvão de Mendoza), onde as crianças de hoje procuram instruir-se para tornar ainda mais poderosa a cidade, o Estado e o Brasil de amanhã.
Para que em todos os recantos da terra gaúcha vibre o nome de Caxias do Sul, em seus feitos e realizações, na Avenida Júlio de Castilhos estão localizadas duas poderosas emissoras, a Rádio Independência e a ZYF-3 Rádio Caxias do Sul, as quais com seu trabalho profícuo têm merecidamente recebido o aplauso sincero dos caxienses”.
Praça feiticeira
O autor também destacou o antigo Aeroclube, o Santo Sepulcro e a Praça Dante:
“Sobre todos os pontos, a cidade caxiense é democrática. Isso nos prova a existência, nessa grandiosa avenida, de vários templos das mais diversas religiões. A Igreja Católica Apostólica Romana possui seu templo, o "Santo Sepulcro", onde numa originalidade podemos perfeitamente apreciar cenas da Morte e Paixão de Cristo. Essa avenida colossal parece terminar em um campo de aviação particular, onde jovens filhos da terra brasileira vão se adestrando na arte aviatória, habilitando-se a defender o nosso Brasil se preciso for.
Durante o dia, a avenida é invadida pela multidão laboriosa em sua rotina diária. Durante à noite, é um rosário iluminado, isto devido ao seu plano de eletrificação, que a corta de ponta a ponta, e postes de iluminação intercalados pelas árvores e arbustos que emprestam a essa via mais esplendor e mais beleza.
No coração da cidade, a avenida se espraia em uma encantadora praça, famosa por suas rosas dos mais diversos matizes. É uma praça feiticeira, que atrai as moças formosas e os moços faceiros em suas manhãs dominicais. Assim são os atrativos que nos oferece essa interminável avenida, a espinha dorsal, a alma de Caxias do Sul”.