Inaugurada em julho de 1954 e administrada pela família Vaccari, a lendária Bomboniére Cairo até hoje permanece na lembrança de seus antigos frequentadores. Situada junto ao Edifício Vaccari, na Av. Júlio de Castilhos, 1.657, ao lado do Clube Juvenil,o estabelecimento veio à tona graças a um e-mail enviado pelo leitor Telmo Rogério Secco, de São Marcos:
“Rodrigo, lendo tuas reportagens do passado, lembrei-me da amada Bomboniére Cairo. Eu era piá quando meu padrinho e tio, o ex-combatente Álvaro Rosa, me levava nesta casa para comer salada de fruta com muita nata batida e licor de framboesa Capilé. Era na Av. Júlio, suas paredes tinham pinturas de camelos, pirâmides e deserto. Falavam sobre o café: tinha de ser puro como a infância, forte como o amor, algo assim, tudo nas paredes. Ainda vejo na minha memória. Não consigo achar fotos da Bomboniére Cairo, talvez o amigo consiga”.
Respondendo ao sr. Telmo Secco, fotos do interior da Bomboniére Cairo realmente são difíceis de se encontrar. Não conseguimos localizar nem com a família Vaccari, nem no acervo do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
O que trazemos aqui são alguns anúncios publicitários e reportagens de meados dos anos 1960, auge do estabelecimento. Era quando o espaço costumava “bombar” antes e depois das sessões dos cinemas Central e Guarany, além de receber turistas, personalidades do círculo social da cidade, políticos, médicos e profissionais do entorno da velha Praça Ruy Barbosa.
Miss Brasília
Uma das reportagens localizadas trata do coquetel oferecido pela Bomboniére Cairo a Miss Brasília Magda Pfrimer, durante sua passagem por Caxias em 1961, às vésperas da Festa da Uva. Texto do Pioneiro de 11 de fevereiro de 1961 destacou:
“No aprazível local da Bomboniére Cairo teve lugar na tarde de sábado o coquetel com que os proprietários daquele estabelecimento homenagearam a srta. Magda Pfrimer, Miss Brasília 1960, que naquela oportunidade completava mais um aniversário natalício. Salientamos as presenças das srtas. Amabile Vaccari, Maria de Lourdes Donida e Nely Bassani, dos srs. Renan Falcão de Azevedo e Luiz Napolitano, e das sobrinhas de Amabile e Christian (o colunista social do Pioneiro Christiano Carpes Antunes)”.
Assíduo da Bomboniére Cairo, Christian detalhou a casa em um texto publicado no Pioneiro de 10 de janeiro de 1958: “Ela nos delicia com seus sorvetes e gelados, saladas de frutas e pinturas. Temos a ilusão de estarmos viajando através do Egito, visitando as pirâmides, a Esfinge de Gizé, velhos oásis, enfim, todas as sensações de um deserto”.
A Bomboniére Cairo também foi citada pelo historiador João Spadari Adami em um relato publicado no Pioneiro de 18 de dezembro de 1965, onde ele se referia aos cafés e bilhares de Caxias desde o início do século 20:
“Bomboniére Cairo, de Carlos Vaccari & Filhos, instalada em prédio próprio, encostado ao edifício do Clube Juvenil, e ainda em funcionamento”.
Coquetel para a Miss Caxias em 1961
Outro evento bastante badalado foi o coquetel ofertado pela Bomboniére Cairo à Miss Caxias 1961, Valkiria Kelsh. Sobre o encontro, o colunista social Christiano Carpes Antunes escreveu, no Pioneiro de 8 de julho de 1961:
“Em meio ao ambiente cordial, encontramos nossas anfitriãs da tarde, sra. Antila Vaccari, srtas. Idalina Santos e Dalva Michielin, e a srta. Amabile Vaccari, que foi a mestre de cerimônias. Nossa Miss Caxias do Sul, srta. Valkiria Kelsch, compareceu em companhia de seu progenitor, dr. Edwino Kelsch, e de nossa reportagem social. Foi uma tarde agradabilíssima, onde além de nos deliciarmos nesse aristocrático ponto social de Caxias do Sul, tivemos o prazer de conversar com nossas recepcionistas, incansáveis na maneira cordial em receber a Miss Caxias”.
Trio Los Arrieros e Caxias Magazine
Em 1957, após três anos de funcionamento, a Bomboniére Cairo inovou trazendo um espetáculo de música uruguaia a Caxias. Edição do Pioneiro de 20 de abril de 1957 noticiou:
“Exibiu-se na noite de quarta-feira última, na Bomboniére Cairo, o Trio Los Arrieros, do Uruguai, apresentando canções típicas de seu país. A iniciativa teve completo êxito, pois, ao que consta, esta é a primeira vez que, em nossa cidade, um estabelecimento de tal gênero patrocina esse tipo de espetáculo para seus clientes”.
Foi na Bomboniére Cairo também que, em 1958, se encontraram Mansueto Serafini Filho, Jimmy Rodrigues e Francisco Getúlio Vargas às vésperas do lançamento do semanário Caxias Magazine, dirigido por Mansueto e distribuído gratuitamente por lá aos sábados.
Toda essa história foi recordada na crônica “Mês a Mês”, de autoria de Jimmy e publicada na segunda edição do Caxias Magazine, em outubro de 1958. Mas essa é uma lembrança que abordaremos em futuras colunas.
Fotos antigas
Você possui alguma imagem das dependências da Bomboniére Cairo, fachada do prédio ou seu interior? Envie as imagens, acompanhadas de uma breve descrição, para o e-mail rodrigolopes33@gmail.com.
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