Parece roteiro de filme, mas por pouco um morador de Caxias do Sul não virou astro do cinema mudo americano na década de 1920. Trata-se de uma das histórias da juventude do senhor Amilcar Vicente Pezzi, neto do pioneiro imigrante italiano Abramo Pezzi (1846-1903) – também conhecido pela alcunha de "Il Maestro" (o professor).
Quem recordou desse curioso "capítulo" da história familiar foi o joalheiro Raymundo Pezzi, 84 anos, um dos filhos de seu Amilcar. Conforme ele, com a morte precoce do galã Rodolfo Valentino, em 1926, os estúdios de Hollywood deram início a uma campanha visando achar um sósia para substituí-lo – à época, Valentino era um ícone dos filmes mudos e seu falecimento causou enorme comoção entre público e indústria cinematográfica.
A idade (Valentino era de 1895, Amilcar, de 1898) e a semelhança física entre o caxiense e o ator italiano radicado nos EUA contribuíram para que a história avançasse:
– O senhor João Dal Cortivo falou com meu pai e pediu uma foto dele para mandar para Hollywood. Os estúdios receberam e ficaram entusiasmados. Mandaram uma carta pedindo que ele comparecesse lá para fazer os testes – conta Raymundo.
Prestes a viajar
O filho não recorda do motivo específico, mas, depois de tudo organizado para viajar, o pai acabou não indo. Quem rumou aos States foi o amigo João Dal Cortivo, com o intuito de substituir o ator Tom Mix, também famoso na época pelos papeis de cowboy em filmes de faroeste.
– Ele foi na Metalúrgica Abramo Eberle e comprou os melhores arreios e estribos, todos em prata de lei. Já a sela para levar foi confeccionada pelo senhor Milani, dono de uma antiga firma de artigos de montaria na Júlio, próxima à Brazex – completou.
João Dal Cortivo rumou a Hollywood e, logicamente, americanizou o nome. Atendia agora por John Kortiff e trabalhava nos estúdios da meca do cinema.
– Passados mais de 30 anos, John Kortiff veio a Caxias, onde eu o conheci. Era um senhor realizado, que vivia em Nova York – concluiu seu Raymundo.
Seu Amilcar? Encontrou o sucesso e o reconhecimento em outras áreas.
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Trajetória na funilaria
Parte da trajetória da família Pezzi e de seu Amilcar foi lembrada pela filha Susete Pezzi no livro "Il Maestro", publicado em 1996. Nascido em 1898, Amilcar era filho de Arcádio Pezzi e Isabel Casagrande. Em 1929, ele casou-se com Clélia Pasetti, com quem teve cinco filhos: Adelaide e Susete nasceram em Antônio Prado. Raymundo, Miriam e Lourdes, em Caxias.
Com passagens pela Farmácia D'Arrigo e pela funilaria de Francisco Zatti, seu Amilcar ingressou na Metalúrgica Abramo Eberle em meados dos anos 1920, produzindo letreiros em chapas metálicas – alguns deles eram matrizes vazadas que facilitavam a pintura e registravam marcas de vinhos em barris e caixas de madeira. No entanto, a engenhosidade e o espírito criativo levaram-no a investir em uma funilaria própria, numa época em que o PVC ainda não existia e o metal dominava as instalações hidráulicas, calhas e produtos industriais – primeiramente em Antônio Prado, depois em Caxias.
Seu Amilcar também nutria gosto pela fotografia, pintando, colorindo e dando seu toque pessoal a dezenas de imagens de família, especialmente dos filhos na infância. Amilcar Pezzi faleceu em 6 de outubro de 1977. Ele tinha 79 anos.
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Rodolfo Valentino, o amante latino
Nascido na Itália em 1895, Rodolfo Valentino chegou aos Estados Unidos por volta de 1912, atuando inicialmente em companhias de teatro.
A partir dos anos 1920, privilegiou a carreira cinematográfica, consolidando a imagem de "latin lover" em películas como Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, Sangue e Areia, A Dama das Camélias, O Sheik e O Filho do Sheik – esempre dando vida a personagens exóticos e sedutores.
Valentino faleceu em agosto de 1926, aos 31 anos, após sofrer um colapso no Hotel Ambassador, em New York. Para estudiosos da sétima arte, foi o primeiro grande astro pop de Hollywood, três décadas antes da consagração de James Dean e Marlon Brando, nos anos 1950.
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