Daqui a um mês, em 4 de julho, o mais belo casarão do trecho da Júlio entre as ruas Visconde de Pelotas e Garibaldi dá início a um novo capítulo de sua história. Em atual processo de reforma e pintura, a antiga residência da família Sanvitto abrigará o Colavoro Sanvitto, integrado por diversas salas de trabalho e reuniões no térreo, além de um café no subsolo e um espaço para exposições e eventos no segundo pavimento.
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A história do lugar remete ao ano de 1943, quando o empresário Guerino Sanvitto adquiriu o terreno da família Chiaradia e encomendou a construção da casa ao arquiteto Vitorino Zani – um dos mais importantes autores de edifícios sacros no Rio Grande do Sul na primeira metade do século 20 e responsável, entre outros, pelo projeto da Igreja São Pelegrino, inaugurada em 1953.
Na época, Guerino e a família, composta pela esposa Therezinha Pauletti Sanvitto e pelos filhos Lorita, Willy, Luiz Carlos e Lorena, moravam na esquina das ruas Os Dezoito do Forte e Marechal Floriano, onde mantinham uma loja de materiais de construção, um comércio de secos & molhados e a antiga Malharia Jane.
Após três anos de obras, o casarão impôs-se em uma Júlio em franco processo de modernização e pavimentação. Dona Lorita Sanvitto Andreazza, 90 anos, tinha 16 anos quando a mansão ficou pronta, em 1946. E recorda de vários momentos emblemáticos do cotidiano do antigo Centro, em especial de "vizinhos" de frente, como o Mercadinho do Povo e a Livraria Mendes.
Foi lá que dona Lorita morou até casar com o médico oftalmologista Ely Andreazza, em 1960. A cerimônia, conduzida pelo padre Angelo Tronca, também ocorreu no palacete, com vários detalhes internos eternizados pelo fotógrafo Mauro De Blanco – entre eles o registro oficial dos noivos junto à escadaria entalhada em madeira e a claraboia adornada por vitrais.
Parte dessas imagens, além de outros registros garimpados junto ao acervo particular dos herdeiros, integrará uma mostra alusiva à história da casa, em julho. É a memória afetiva da família dialogando com a memória arquitetônica da cidade...
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Guerino e Therezinha
O casal Guerino Sanvito e Therezinha Pauletti Sanvitto habitou o casarão até o fim da vida — ele morreu em 1981, ela, em 1989. A casa também foi por anos a residência e o escritório do filho Willy Sanvitto, falecido em 2010, aos 78 anos.
O irmão Luiz Carlos, atualmente residindo em São Paulo, morou lá apenas na infância e em períodos espaçados, em função dos estudos em Porto Alegre. Já a caçula Lorena, nascida em 1941, não chegou a habitá-la. A menina faleceu no ano em que a casa ficou pronta (1946), vítima de leucemia.
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Ocupações
Na parte térrea, o casarão abrigou inicialmente o escritório de contabilidade do senhor D'Agostini e os consultórios dos médicos Horta Barbosa e José Bellardinelli. Mas o espaço que marcou mesmo foi a clínica do doutor Ely Andreazza, responsável pelo atendimento de centenas de pacientes a partir dos anos 1960.
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São desse período as duas fotos anteriores. Na imagem que abre a matéria, um cartão-postal de 1968, com o casarão ao centro em sua cor original salmão, mantida desde sempre. Acima, o palacete emoldurado pelos vizinhos: os edifícios Minas Gerais e Viero e o Banco Industrial e Comercial do Sul S.A. Tudo em uma Júlio de Castilhos aonde ainda era possível estacionar Gordines, Fuscas, Fords e Simcas.
Abaixo, dois momentos do trecho da Júlio nas imediações do casarão. O primeiro, captado a partir do antigo Studio Geremia, próximo à Rua Dr. Montaury, destaca as construções em direção às ruas Visconde de Pelotas e Garibaldi (ao fundo), em finais dos anos 1940.
Na sequência, a esquina da Júlio com a Visconde de Pelotas, por volta de 1958. O casarão da família Sanvitto (com a varanda) aparece mais ao fundo, à direita.
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Café e piano
O subsolo do Colavoro Sanvitto vai sediar o novo café e bistrô Amada Cozinha, da chef Carolina Branchi e da sommelier de azeites Maria Beatriz Dal Pont.
Detalhe: o espaço abrigará um piano, uma referência ao apreço da família pela música: dona Lorita Sanvitto Andreazza é uma exímia pianista. A mãe, dona Therezinha, era uma apaixonada por óperas.
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