Caxias despede-se nesta sexta (27) de um dos endereços mais emblemáticos do bairro São Pelegrino: a Molduraria Caxiense. A casa, eternizada pelo trabalho minucioso, pela valorização dos artistas locais e pelo carisma e apuro estético do senhor Hermínio Bassanesi (1925-2015), encerra as atividades por uma decisão pessoal do atual proprietário, Dalfrei Carniel Horbach – atuante na molduraria desde 1979, quando iniciou na empresa, aos 14 anos.
– Foram mais de 40 anos de trabalho, chegou a hora de parar. Tivemos uma história muito bonita aqui e queremos que a molduraria seja lembrada dessa forma. A sensação é de dever cumprido – pontua Dalfrei, destacando que a ideia começou a ser amadurecida em fevereiro.
História é o que não falta ao espaço, surgido ainda em 1952 (leia abaixo). Em busca de molduras, quadros, telas, objetos decorativos, esculturas, trabalhos de restauro, além de obras de artistas visuais – iniciantes e consagrados –, centenas de clientes dirigiam-se ao número 2.775 da Rua Moreira César, entre a Pinheiro Machado e a Av. Júlio de Castilhos. E Dalfrei ,obviamente, acompanhou toda essa efervescência, a partir de 1980.
Inicialmente, o garoto cortava garrafas e transformava-as em copos – quem viveu os anos 70 e 80 lembra bem dessa prática. Posteriormente, foi se aperfeiçoando nas diversas outras tarefas realizadas ali: cortar molduras, espichar gobeleins, acompanhar a colocação de quadros, fazer composições de estampas e fotos.
– A molduraria foi uma escola, e seu Hermínio, um pai – emociona-se Dalfrei, revelando que havia perdido o seu na mesma época em que começou na loja.
A humildade e o amor que seu Hermínio Bassanesi, o Bassa, tinha pelo ofício e pelas artes também foram lembrados.
– Ele nunca dizia que algum trabalho não dava para fazer. Uma pessoa simples, discreta, sem ostentação, um homem correto. Esse foi o grande legado que ele deixou – finaliza Dalfrei.
O FUNDADOR
Filho do casal Hermínio Bassanesi e Ana Maria Bottini Bassanesi, o caçula de oito irmãos nasceu no dia 14 de outubro de 1925, ganhando o mesmo nome do pai. Após conquistar o diploma de contador no Colégio Nossa Senhora do Carmo, em 1940, seu Hermínio iniciou profissionalmente na Metalúrgica Abramo Eberle.
Mas os cálculos logo foram deixados de lado. Convidado pelo irmão Otoni, entrou como sócio de uma fábrica de espelhos instalada na Rua Coronel Flores, próximo à Estação Férrea, em 1952. Com a transferência para o atual endereço da Rua Moreira César, o negócio passou a abarcar os trabalhos de emolduração e vidraçaria. Era o início da fase áurea da casa, a primeira a contar também com uma galeria de arte, inaugurada em 1980.
Foi nesse pioneiro espaço que expuseram e se destacaram nomes como Odete Garbin, Mádia Bertolucci, Mirian Garcia, Lidia Stangherlin, Mario Soldatelli, Genoveva Finkler, Victor Hugo Porto, Diana Domingues, Robinson Sobrera, J. Jaques, Remy de Araújo Soares, Rita Brugger, Valdir dos Santos, Rogério Baierle, Vera Martini, Julio Andreazza, entre dezenas de outros, muito deles apadrinhados pelo mecenas das artes caxienses.
Na imagem acima, seu Hermínio junto ao pintor e professor de desenho David Ratti, durante uma exposição em finais dos anos 1970.
FUNCIONÁRIOS
Escola para vários profissionais atuantes até hoje, a então Vidraçaria Caxiense teve como sócios, nos anos 1960 e 1970, o casal Léo e Celeste Brustolim.
“O Bassanesi”, como a molduraria ficou informalmente conhecida, também foi uma espécie de segunda casa para funcionários de décadas, como Roselita Salete Fontana, a Rose; Fagner Pereira, que cresceu dentro da marcenaria, e, mais recentemente, Caroline da Silva Souza.
Na imagem abaixo, de 2014, parte desse grupo durante um churrasco de confraternização na oficina localizada no porão. Tudo em meio a molduras e mais molduras...
ESPAÇO DE ARTE BASSA
A Molduraria Caxiense encerra as atividades, mas o Espaço de Arte Bassa, não. Um sonho acalentado por seu Hermínio desde os primórdios da molduraria, o atelier para aulas de pintura abriu em 2006, tendo como primeiros professores os irmãos Vasco Machado e Selestino Oliveira.
Na última sexta, ambos trabalhavam na mudança do mobiliário, do acervo e dos equipamentos para a futura sede. O novo Espaço de Arte Bassa retornará em março, a poucos metros dali, em um endereço também recheado de história – mas tudo isso detalharemos em breve por aqui.