Não há morador do bairro São Pelegrino com mais de 40 anos que não tenha passado por lá – ou pelo menos ouvido falar dele. Falamos do clássico Armazém Zatti, situado na Avenida Júlio de Castilhos, entre as ruas Coronel Flores e Feijó Jr., quase ao lado do antigo Cine Real. Uma das principais referências de comércio do bairro, o estabelecimento foi destacado no livro São Pelegrino – Quem te viu, quem te vê..., lançado em 2015 pelos autores Tânia Tonet, Charles Tonet e Ana Seerig.
Conforme a publicação, o Armazém Zatti foi fundado pelo senhor Ricardo Zatti no início da década de 1920, quando São Pelegrino não passava de um arrabalde. Posteriormente, o negócio foi tocado pelos filhos Vasco, Laura e Aldo, que o mantiveram até meados dos anos 1980.
Como todo bom armazém de antigamente, o lugar era uma festa para os olhos e oferecia de "um tudo": gêneros alimentícios, itens de limpeza e ferragem, roupas, guloseimas, tecidos, artigos de armarinho, secos e molhados, produtos a granel, enfim, o que os consumidores de Caxias e da região necessitassem.
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Dona Laura
Trecho do livro destacava a atuação de dona Laura Zatti, uma das comerciantes mais lembradas do bairro:
"Laura, que permaneceu solteira, era a responsável por viajar em busca de mercadorias. Um de seus destinos mais frequentes era a Argentina, onde adquiria muitos tipos de queijos para serem vendidos no armazém. Ela e os irmãos, que eram casados e tinham filhos, moravam atrás da loja. Aldo tinha cinco filhos e Vasco, sete".
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De pai para filho
Após a morte de Aldo, no início da década de 1970, assumiu lugar na sociedade o senhor Júlio Zatti, filho de Vasco, que trabalhou no armazém até o fechamento, em 1984. No livro, ele reforçou o valor do comércio da família:
"O armazém beneficiou muito Caxias. Era a referência para as pessoas da cidade e do interior, que sabiam que podiam encontrar tudo que procuravam ali".
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Lista de compras
Conforme lembrado por Júlio no livro, entre suas funções estava a organização das compras dos clientes:
"As pessoas iam levar suas listas de compras e no outro dia vinham buscar as mercadorias. Naquela época, a venda era a granel e demorava-se até separar tudo. Eu pegava as listas, separava os produtos e deixava em caixas para quando os clientes fossem buscar".
Júlio também destacou dois outros importantes comércios do bairro: a Importadora Comercial e o Armazém Lain, este último funcionando até hoje, na esquina da Pinheiro com a Coronel Flores:
"Enquanto o primeiro fornecia muitos dos produtos que os Zatti vendiam, o segundo tinha um comércio parecido, mas não eram concorrentes, trabalhavam juntos. Quando faltava um produto, os Lain vinham buscar e mais tarde repunham. Eles tinham os clientes deles e nós, os nossos".
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A vizinhança
Falar no Armazém Zatti é recordar de outros estabelecimentos emblemáticos daquela quadra e do entorno. Entram aí comércios que ficaram eternizadas na memória, como a Casa Maggioni, o Pastifício Caxiense, o Supermercado Fadanelli, o Bazar Nair, etc, e outros que seguem firmes, como o já citado Armazém Lain, o Mariani Artefatos de Couro, a Alfaiataria Rossi, a Deon Aviamentos, a Casa Londres e a Ferragem Andreazza, que neste 2019, está completando 100 anos de funcionamento ininterrupto. Viva São Pelegrino...
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Colaboração
Parte das informações desta coluna foi reproduzida do livro São Pelegrino - Quem te viu, quem te vê, lançado pela Editora Belas Letras.
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