Mais do que contar as histórias curiosas e saborosas que inevitavelmente se passam nos bastidores de uma emissora de rádio, em Rádio Caxias 70 anos: voz e identidade, o jornalista e escritor Marcos Fernando Kirst oferece um panorama da mútua influência entre a mais antiga emissora da cidade, fundada em 27 de abril de 1946, e a sociedade para a qual ela fala. Neste resgate, enriquecido por farta pesquisa e entrevistas de personagens importantes, o livro cumpre também o papel de situar a importância que tem o radiojornalismo para a comunidade, sendo um meio localista por excelência:
– A Rádio Caxias não apenas acompanhou as mudanças pelas quais a cidade passou ao longo destas sete décadas, mas se manteve sempre coesa à vocação de localismo, de querer mostrar Caxias do Sul para os caxienses e pelo olhar dos caxienses. Nisso, se integrou às principais bandeiras da cidade, como o esporte local, a valorização da Festa da Uva, a criação do Monumento ao Imigrante, sendo um personagem participante das transformações da cidade – comenta o autor.
Para costurar a trajetória que inicia com o empreendedorismo dos empresários Joaquim Pedro Lisboa, Luiz Napolitano e Arnaldo Pignone Ballvé, o autor mergulha no banco de memória da empresa e dá voz a diversos comunicadores que ajudaram a fazer da emissora uma das principais marcas do jornalismo caxiense. Entre os personagens visitados estão o último remanescente da primeira equipe da rádio, Milton Rossarola, célebre pelo programa Ave Maria; a locutora Iara Soares, apresentadora do histórico People FM; o jornalista multimídia Paulo Cancian; o repórter sinônimo de radiojornalismo Edgar Vaz; a apresentadora do Persona, Lisete Oselame, entre outros. Como destaca Marcos Kirst, são raros, entre os jornalistas de Caxias do Sul, aqueles que não usaram o crachá da rádio septuagenária.
– Ao mesmo tempo em que é um veículo que tem sabido usar a seu favor as mudanças que a tecnologia traz, permitindo ao ouvinte acessá-lo pelo site ou pelo aplicativo em qualquer lugar do mundo, a Caxias consegue se manter como uma escola para novos comunicadores, formando alguns ícones do jornalismo local. Basta ver que em Caxias do Sul são poucos os jornalistas que não passaram pelo quadro da rádio – pontua o autor.
Viabilizado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura, o livro foi lançado na Feira do Livro. Interessados podem adquirir a obra através da Educs ou na Rádio Caxias, no Edifício Estrela. O preço médio é R$ 40. Toda a renda será destinada ao tratamento do jornalista Bruno Caldart contra a Doença de Crohn, uma enfermidade inflamatória crônica.
Agilidade, improviso e surpresa
Tão atraentes quanto a recuperação dos fatos mais importantes, as histórias que muitas vezes não chegam até o ouvinte são a cereja no bolo do 21º livro de Marcos Kirst. São situações em que a agilidade e o improviso – pré-requisitos do jornalismo que se faz ao vivo – rendem anedotas guardadas como tesouros por seus protagonistas.
Em uma delas, o autor conta sobre a épica transmissão de um jogo de futebol feita de cima do telhado de uma residência, em 1948, após os radialistas serem proibidos de frequentar a Colina Fantasma, casa do Grêmio Esportivo Fluminense, que naquele dia enfrentaria o Esporte Clube Juventude.
Outro episódio curioso contado em Rádio Caxias 70 Anos é a ocasião em que a Rainha da Festa da Uva de 2000, Fabiana Bressanelli Koch, cedeu sua coroa à irmã gêmea, Daniele, para que esta pudesse realizar o sonho de desfilar em carro alegórico. A farsa, ocorrida no segundo desfile daquele ano, foi revelada semanas depois, numa entrevista concedida ao vivo por Daniele e pela mãe, Vera Koch, no programa Almanaque, apresentado por Iara Soares.