O Batman Day, uma data marqueteira criada pela DC Comics em 2014, para assinalar os 75 anos de existência do super-herói, é celebrado neste sábado (21). Dentro das comemorações, voltaram a cartaz nos cinemas dois filmes: o Batman (1989) de Tim Burton e o Batman (2022) de Matt Reeves.
Esse duplo relançamento reacende duas perguntas: qual é o melhor filme do Cavaleiro das Trevas? E qual é a melhor encarnação do Homem-Morcego?
Criado pelo roteirista Bill Finger e pelo desenhista Bob Kane para as histórias em quadrinhos da DC Comics, em 1939, Batman estrelou dois cinesseriados na década de 1940 e, em 1966, uma adaptação da popular e cômica série de TV. Desde que ressurgiu nas telas grandes, em 1989, o personagem passou pelas mãos de seis diretores: Tim Burton, Joel Schumacher, Christopher Nolan, Zack Snyder, Matt Reeves e Andy Muschietti. São sete se contarmos Joss Whedon, que assumiu a primeira versão de Liga da Justiça (2017) depois que Snyder precisou se afastar, em decorrência da morte de sua filha.
Cada cineasta seguiu sua trilha, como conto no livro O Morcego e a Luz: 80 Anos de Batman no Cinema (BesouroBox, 2023): Burton fez uma abordagem meio gótica, meio bizarra, mesclando os aspectos lúgubres de Gotham City com um tom humorístico na caracterização dos vilões; Schumacher investiu num pastelão carnavalesco, abraçando a zombaria da TV; Nolan adotou o realismo extremo e imprimiu um olhar algo existencialista; Snyder veio com seu brutalismo embalado em câmera lenta; Reeves apareceu com uma mistura de terror, noir dos anos 1940, filme de serial killer e thriller político; e Muschietti apostou na nostalgia e na reverência.
Abaixo, veja a avaliação dos 12 filmes, do pior para o melhor (todos estão disponíveis na plataforma Max, mas alguns também podem ser encontrados em outros serviços de streaming). Ficaram de fora o longa-metragem de 1966 baseado no seriado (e, por consequência, Adam West) e os desenhos animados (Lego Batman, de 2017, ocuparia um lugar bem alto):
12º) Liga da Justiça (2017)
Depois que Zack Snyder viu-se forçado a largar o projeto para lidar com o luto e o trauma do suicídio de sua filha de 20 anos, Autumn, o diretor Joss Whedon, de Vingadores (2012) e Vingadores: Era de Ultron (2015), assumiu o comando. A visão amarga de Snyder, sua mão dura e seu pendor para a violência continuaram presentes, mas dividindo espaço com piadinhas constrangedoras e uma paleta de cores mais solar. Ou seja, o filme em que o Batman (Ben Affleck) forma a superequipe da DC Comics virou uma maçaroca sem personalidade.
Momento A Esperança É a Última que Morre: na sessão para a imprensa, ninguém se mexeu até que a tela enfim voltasse a ficar branca, talvez na esperança de que, sei lá, surgisse uma terceira e redentora cena pós-créditos depois de correrem os nomes das centenas de técnicos de efeitos visuais, os verdadeiros heróis deste filme.
11º) Batman & Robin (1997)
Na segunda adaptação comandada por Joel Schumacher, o Homem-Morcego (George Clooney) e o Menino Prodígio (Chris O'Donnell) enfrentam o Sr. Frio (Arnold Schwarzenegger) e a Hera Venenosa (Uma Thurman). Surge a Batgirl (Alicia Silverstone).
Momento Vergonha Alheia: a cena em que Batman saca seu Batcard e solta um trocadilho com a famosa propaganda de cartão de crédito — "Não saia da Batcaverna sem ele".
10º) Batman Eternamente (1995)
Sob a direção de Joel Schumacher, Val Kilmer assume o papel de Batman, que encara a psiquiatra Chase Meridian (Nicole Kidman) e uma aliança do Duas-Caras (Tommy Lee Jones) com o recém aparecido Charada (Jim Carrey, em uma de suas mais insuportáveis atuações). Surge o Robin (Chris O'Donnell).
Momento Senta que Lá Vem Bomba: na cena de abertura, Schumacher instala o tom carnavalesco da sua visão. Batman se prepara para sair quando o mordomo Alfred aparece e pergunta se ele quer levar um sanduíche. "Vou usar o drive-thru", responde o herói.
9º) Liga da Justiça de Zack Snyder (2021)
Inconformados com Liga da Justiça, os fãs, ainda em 2017, movimentaram-se para exigir que a Warner (dona da DC) liberasse a versão de Zack Snyder. O diretor ganhou de US$ 40 milhões a US$ 70 milhões para dobrar a duração do filme. Com quatro horas, a aventura não é muito melhor do que a anterior, mas desenvolve o herói Ciborgue e os vilões Darkseid e Lobo da Estepe e é mais coerente do ponto de vista artístico. Ou seja, temos muita breguice, muita computação gráfica, muita câmera lenta e um Superman que, em vez de ser o defensor dos fracos e dos oprimidos, surge como agressor dos fortes e dos poderosos.
Momento Parece um Comercial em Câmera Lenta: o logotipo de uma marca de carros é visto inúmeras vezes, e um gergelim gigante de um hambúrguer também ganha destaque em slow-motion. Até uma cena de luto da repórter Lois Lane (Amy Adams) — ela saindo na chuva com dois copos de café para visitar o Memorial do Superman e fazer um agrado a um policial — parece peça publicitária. O suprassumo já estava presente no filme de 2017, mas foi estendido pelo diretor em 2021. É a sequência em que Aquaman sai de um bar levando na mão uma garrafa de uísque que é bebida no guti-guti antes de ele desaparecer no turbulento mar. Não seria estranho se virasse uma propaganda da própria bebida, de um perfume masculino, de uma academia de musculação, de um estúdio de tatuagem, de um xampu para cabelos frondosos como os do ator Jason Momoa.
8º) Batman Vs Superman (2016)
Kryptonianos que me perdoem, mas a ordem na formulação do título não deixa dúvida: este é um filme do Batman. Para começar, as primeiras cenas recontam o episódio crucial para a transformação de Bruce Wayne em Homem-Morcego: o assassinato de seus pais, Thomas e Martha (guarde este nome). A mente do Cavaleiro das Trevas é a única que se abre para um mergulho do espectador, via pesadelos pretéritos ou sonhos distópicos; e é por seu ponto de vista que surgem na história o Homem de Aço (Henry Cavill) e a então grande novidade do universo cinematográfico da DC, a hipnotizante Mulher-Maravilha (Gal Gadot). O próprio Batman era uma novidade: Ben Affleck.
Momento Meme: o quebra-pau entre Batman e Superman presta tributo a uma clássica história em quadrinhos, O Cavaleiro das Trevas (1986), enfatiza o lado estrategista do Morcegão e dá a ele uma frase antológica: "Diga-me, você sangra?".
7º) Batman (1989)
No filme de Tim Burton, o próprio Batman (Michael Keaton) ajuda a criar um monstro na cidade: o Coringa (Jack Nicholson), que, por sua vez, pode ser o assassino dos pais de Bruce Wayne.
Momento Ainda Não Conhecíamos Heath Ledger: o Coringa de Nicholson é insano, divertido, cheio de frases de efeito ("Esta cidade precisa de um enema"). Mas é carta de baralho infantil perto do que veríamos em O Cavaleiro das Trevas (2008).
6º) The Flash (2023)
Assinado por Andy Muschietti, é menos um filme solo do super-herói mais veloz do mundo do que uma celebração do super-herói mais volátil do mundo. Aqui, várias de suas encarnações estão presentes, e a atuação de Michael Keaton abrange muitas das personas do Batman: o herói amargurado (e agora aposentado), o artista dos duelos corporais, o gênio da tecnologia, o líder altruísta, o exímio cientista.
Momento Batman É Eterno: na realidade alternativa da Terra que Flash visita para tentar impedir o assassinato de sua mãe, a nave com o menino Kal-El nunca pousou no Kansas, nem se tem notícias de uma princesa amazona, por exemplo. Não existe Flash, não existe Superman, não existe Mulher-Maravilha, não existe nenhum dos chamados meta-humanos. Mas o Batman existe. Mas o Batman existe!
5º) Batman Begins (2005)
A estreia da trilogia do diretor Christopher Nolan. Enraivecido por não consumar sua vingança contra o assassino de seus pais, o jovem Bruce Wayne (Christian Bale) viaja pelo mundo e ingressa na Liga das Sombras de Ra's Al Ghul — que se revelará um vilão. O outro arqui-inimigo do filme é o Espantalho (Cillian Murphy).
Momento Até que Enfim: os créditos de abertura, em preto e branco, assinalavam o adeus dos coloridos e bobos filmes de Joel Schumacher e prenunciavam a abordagem realista e sombria de Nolan, que buscou explicar de forma lógica toda a batmitologia.
4º) Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012)
Oito anos após assumir a culpa pelos crimes de Harvey Dent, Batman (Christian Bale) é forçado a deixar a aposentadoria quando surge a ameaça do terrorista Bane (Tom Hardy). Enquanto isso, Bruce Wayne lida com uma ladra, Selina Kyle (Anne Hathaway).
Momento um Batlenço, Por Favor: Christopher Nolan e Christian Bale devolveram dignidade ao Batman do cinema. Saber que este era o último filme dessa Dupla Dinâmica aumentou a emoção despertada pelo clímax — a esta altura do campeonato, 10 anos depois, não é spoiler dizer que foi criativa a reintrodução de Robin na mitologia do personagem.
3º) Batman: O Retorno (1992)
Tim Burton acerta a mão ao colocar Batman entre três vilões: o Pinguim (um grotesco Danny DeVito), a Mulher-Gato (uma sensual Michelle Pfeiffer) e o ganancioso e inescrupuloso empresário Max Schreck (um cativante Christopher Walken), personagem criado para o filme.
Momento Miau: Pfeiffer, no auge de seus 30 e poucos anos, com sua roupa de vinil colada ao corpo, tomando banho de língua na cama do Pinguim.
2º) Batman (2022)
Neste recomeço que marca as estreias do diretor Matt Reeves e do ator Robert Pattinson na franquia, Batman e o tenente Gordon (Jeffrey Wright) saem à caça do Charada (Paul Dano), aqui visto como um assassino serial — sua primeira vítima é nada mais, nada menos do que o prefeito de Gotham. Entrementes, conhecemos novas versões de Selina Kyle (Zoë Kravitz), a Mulher-Gato, e do Pinguim (Colin Farrell, irreconhecível debaixo da maquiagem).
Momento Batpalmas: a sequência no prédio da polícia, que culmina no topo de um arranha-céu, onde o Cavaleiro das Trevas se permite sentir medo e usar um de seus bat-artefatos mais surpreendentes.
1º) Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008)
Indicado a oito Oscar, incluindo melhor ator coadjuvante (o saudoso Heath Ledger, premiado postumamente), fotografia e edição, o segundo filme da trilogia de Christopher Nolan merecia ter concorrido também na categoria principal. Gotham tem um novo rei do crime: o Coringa (Ledger), que começa um jogo de gato e rato com Batman (Christian Bale) e o promotor público Harvey Dent (Aaron Eckhart).
Momento Feitos um para o Outro: a cena do interrogatório na delegacia, na qual Nolan explora a relação sadomasoquista entre Batman e Coringa — "Você me completa!", diz o lunático. Mais adiante, na cena em que o Homem-Morcego suspende o vilão de ponta-cabeça, o diretor movimenta a câmera de modo a igualar a posição dos dois interlocutores. Um não é mais o inverso do outro, mas seu espelho.
Batman: ranking dos atores
6º) George Clooney: tinha o queixo certo e a voz adequada, mas deu azar de ficar marcado por outras características — os mamilos protuberantes do uniforme e o bumbum, visto em close quando Batman e Robin se trajam para a noitada.
5º) Val Kilmer: como conta o documentário Val (2021), o uniforme que limitava movimentos e até a audição foi um dos motivos pelos quais o ator não quis repetir a dose em Batman & Robin.
4º) Michael Keaton: interpreta um Bruce Wayne metido a engraçadinho e um Batman insosso — seu traço mais memorável é o biquinho. Em The Flash, mais de 30 anos depois, enfim está à vontade na pele de Bruce e debaixo do uniforme, graças aos evidente avanços no trabalho dos figurinistas.
3º) Ben Affleck: manteve a gravidade e acrescentou mais sarcasmo ao papel. Foi um Batman certo nos filmes errados.
2º) Christian Bale: talento não falta ao ator, mas o desenvolvimento de seu personagem sempre ficou em segundo plano — o que importava a Christopher Nolan era discutir o que é um herói, o que separa o Bem do Mal, os riscos de combater o crime com extremismo etc.
1º) Robert Pattinson: pálido e com um tom deprê, o ator foi uma escolha perfeita para a abordagem proposta por Matt Reeves. Nela, o trauma de infância e a sede de vingança que deram origem ao Batman são sombras tão pesadas que anulam a existência de Bruce Wayne.
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