A estreia de Adão Negro (2022) nos cinemas convida a fazer um ranking dos filmes baseados em personagens dos quadrinhos da DC.
Oficialmente, o chamado Universo Estendido da DC (DCEU na sigla em inglês) começou com O Homem de Aço (2013), mas não inclui Coringa (2019) nem Batman (2022), títulos independentes da cronologia. Por isso, diferentemente do que fiz com o Universo Cinematográfico Marvel, desta vez resolvi listar todos os títulos já lançados desde Superman (1978), um legítimo precursor do gênero.
Portanto, ficou de fora a adaptação cinematográfica do célebre seriado de TV do Batman, lançada em 1966. Por eu não ter visto, não entraram duas aventuras do Monstro do Pântano, a de 1982 (dirigida por Wes Craven) e a de 1989 (Jim Wynorski), ambas indisponíveis no streaming. Também desconsiderei os longas-metragens de animação, com uma menção honrosa que bem poderia ocupar a primeira colocação.
Quase todos os filmes estão em cartaz na plataforma HBO Max (a casa da DC no streaming), exceto quando indicados. Clique nos links se quiser saber mais.
32º) Superman IV: Em Busca da Paz (1987)
De Sidney J. Furie. Roteiro pobre e efeitos toscos, tendo como "ápice" a cena em que o Homem de Aço reconstrói a Muralha da China, derrubada por um vilão criado a partir do DNA de um fio de cabelo seu. Não com as mãos, nem com supervelocidade: com os olhos mesmo!
31º) Aço (1997)
De Kenneth Johnson. Como ator, Shaquille O'Neal é o oposto do que foi nas quadras de basquete. Um raro caso de convergência entre crítica e público — tem, respectivamente, 19% e 12% de avaliações positivas no Rotten Tomatoes. (Indisponível no streaming)
30º) Superman III (1983)
De Richard Lester. A presença de Richard Pryor, no papel de um hacker vilanesco, faz o filme abusar da comédia. Talvez tenha deixado marcas em alguns diretores atuais que se aventuram pelo gênero.
29º) Mulher-Gato (2004)
De Pitof. Só não ocupa o último lugar porque é inesquecível. Valeu a Halle Berry o Framboesa de Ouro de pior atriz — e ela, que pouco tempo antes havia vencido o Oscar, por A Última Ceia (2001), compareceu à entrega do troféu de galhofa criado por um publicitário de Hollywood.
28º) Esquadrão Suicida (2016)
De David Ayer. Tem Margot Robbie como uma Arlequina hipersexualizada, Will Smith como um Pistoleiro em ponto morto e Jared Leto como um Coringa que não é nem perturbador, nem engraçado. Precisa menos?
27º) Batman & Robin (1997)
De Joel Schumacher. Tem pelo menos um momento de batvergonha alheia: a cena em que Batman (George Clooney, estreante no uniforme com mamilos proeminentes) saca seu Batcard e solta um trocadilho com a famosa propaganda de cartão de crédito — "Não saia da Batcaverna sem ele".
26º) Mulher-Maravilha 1984 (2020)
De Patty Jenkins. Disse assim Emma Brockes no jornal The Guardian: "Não é que o roteiro seja terrível e que na primeira metade do filme, após uma cena de abertura promissora, parece que as horas passam sem que nada aconteça. Não é que, por longos períodos, Gal Gadot não tenha nada para fazer a não ser olhar passivamente para o horizonte, ansiando por seu namorado morto. É que todas essas falhas são apresentadas com o ar presunçoso e desonesto de um filme que pretende criticar exatamente o que está nos vendendo".
25º) Liga da Justiça (2017)
De Zack Snyder e Joss Whedon. O filme em que o Batman (Ben Affleck) forma a superequipe da DC é uma maçaroca sem personalidade: tem a visão amarga de Snyder, sua mão dura e seu pendor para a violência, mas também piadinhas constrangedoras e uma paleta de cores mais solar, na tentativa de se aproximar das aventuras dos Vingadores no Universo Cinematográfico Marvel.
24º) Lanterna Verde (2011)
De Martin Campbell. Achou-se que bastava escalar um ator cômico (Ryan Reynolds) para fazer um filme engraçado. Mas não basta ser cômico — tem que ser engraçado. Ainda assim, Lanterna Verde só não está nas últimas posições porque, retroativamente, tornou-se engraçado — quando o próprio Reynolds tirou sarro do filme nas cenas pós-créditos de Deadpool 2 (2018).
23º) Batman Eternamente (1995)
De Joel Schumacher. Na cena de abertura, o diretor instala o tom carnavalesco da sua visão. Batman (Val Kilmer, que depois recusaria repetir o papel) se prepara para sair quando o mordomo Alfred aparece e pergunta se ele quer levar um sanduíche. "Vou usar o drive-thru", responde o herói, que encara uma aliança do Duas-Caras (Tommy Lee Jones) com o recém aparecido Charada (Jim Carrey, em uma de suas mais insuportáveis atuações).
22º) Liga da Justiça de Zack Snyder (2021)
De Zack Snyder. Inconformados com Liga da Justiça, os fãs, ainda em 2017, movimentaram-se para exigir que a Warner (dona da DC) liberasse a versão de Snyder. O diretor ganhou de US$ 40 milhões a US$ 70 milhões para dobrar a duração do filme. Com quatro horas, a aventura não é muito melhor do que a anterior, mas desenvolve o herói Ciborgue e os vilões Darkseid e Lobo da Estepe e é mais coerente do ponto de vista artístico. Ou seja, temos muita breguice, muita computação gráfica, muita câmera lenta e um Superman que, em vez de ser o defensor dos fracos e dos oprimidos, surge como agressor dos fortes e dos poderosos.
21º) Adão Negro (2022)
De Jaume Collet-Serra. É mais uma tentativa da DC de fazer um filme da Marvel. Verdade que há uma diferença fundamental: o personagem interpretado por Dwayne Johnson — o eterno The Rock — é um anti-herói, em vez de um mocinho à la Capitão América ou Homem-Aranha. Aliás, nasceu como vilão. Em Adão Negro, o esforço em mostrar ao público que a DC, a exemplo da Marvel, tem um universo compartilhado transforma-se em afobação, atropelo, apelação. (em cartaz nos cinemas)
20º) O Esquadrão Suicida (2021)
De James Gunn. Pode-se aplaudir a audácia do diretor de atravessar as raias do absurdo e do pudor (existe até sexo, raro em filmes de super-heróis), mas O Esquadrão Suicida é, a um só tempo, tão barulhento e tão vazio. Há tanta pancadaria, tanta rajada de balas, tanto prédio caindo, há tanta câmera lenta, tanto flashback, tanto momento eu-queria-era-estar-fazendo-um-videoclipe-estiloso, que acabamos cansados em vez de animados, anestesiados em vez de chocados.
19º) Arlequina e as Aves de Rapina (2020)
De Cathy Yan. A Warner e a DC cometeram pelo menos três erros que minaram comercialmente este filme. O primeiro foi batizar originalmente de Aves de Rapina, afinal, este é um filme da Arlequina, que inclusive narra a história. O segundo foi a classificação indicativa: a protagonista tem um forte apelo junto ao público adolescente, mas cenas de violência e uso de drogas fizeram subir a idade mínima. E o terceiro foi lançar bem na semana do Oscar, quando até sua protagonista, Margot Robbie, estava envolvida com outro filme — concorria à estatueta de atriz coadjuvante por O Escândalo. (canal Telecine do Globoplay)
18º) Superman: O Retorno (2006)
De Bryan Singer. O filme realça o caráter divino do Homem de Aço, que, em vez de voar, literalmente ascende ao céu, fazendo poses que remetem à imagem de Cristo na crucificação (até uma perna está flexionada). O pedaço de kryptonita que Lex Luthor (um Kevin Spacey sádico e xarope) usa como arma lembra os pregos que prenderam Jesus à cruz. Um pecado, contudo, é ser reverente em demasia ao clássico Superman (1978). Ao escolher um ator baseado sobretudo na sua semelhança com Christopher Reeve, Singer anulou a personalidade que o novato Brandon Routh poderia imprimir ao personagem.
17º) Superman II (1980)
De Richard Lester. Superman (Christopher Reeve) enfrenta novamente Lex Luthor (Gene Hackman), agora aliado dos três prisioneiros do extinto planeta Krypton — general Zod (Terence Stamp), Ursa (Sarah Douglas) e Non (Jack O'Halloran) — que, no preâmbulo do primeiro filme, haviam sido banidos para a Zona Fantasma por Jor-El (Marlon Brando), o pai de Kal-El. Segundo alguns críticos, Superman II é até superior a Superman (1978), a despeito das brigas, demissões e renúncias nos bastidores — Hackman, por exemplo, recusou-se a continuar trabalhando após os produtores despedirem o diretor original, Richard Donner, e acabou substituído por um dublê de corpo!
16º) Batman vs Superman (2016)
De Zack Snyder. Kryptonianos que me perdoem, mas a ordem na formulação do título não deixa dúvida: este é um filme do Batman. Para começar, as primeiras cenas recontam o episódio crucial para a transformação de Bruce Wayne em Homem-Morcego: o assassinato de seus pais, Thomas e Martha (guarde este nome). A mente do Cavaleiro das Trevas é a única que se abre para um mergulho do espectador, via pesadelos pretéritos ou sonhos distópicos. É por seu ponto de vista que surgem na história o Homem de Aço (Henry Cavill) e a então grande novidade do universo cinematográfico da DC, a hipnotizante Mulher-Maravilha (Gal Gadot). O próprio Batman era uma novidade: Ben Affleck. E o quebra-pau entre os dois personagens presta tributo a uma clássica história em quadrinhos, O Cavaleiro das Trevas (1986), enfatiza o lado estrategista do Morcegão e dá a ele uma frase antológica, digna de meme: "Diga-me, você sangra?".
15º) Watchmen (2009)
De Zack Snyder. Assim escreveu Marcelo Perrone em ZH: "Embora impressione os iniciados pela fidelidade da reprodução gráfica e pela reverência ao núcleo da história, Watchmen fica capenga por fazer do labirinto narrativo de Alan Moore (roteirista da homônima HQ original) uma linha reta. Paradoxalmente, a longa duração do filme (163 minutos), é insuficiente para dar conta das ambiciosas digressões de Moore. E para os neófitos que esperam ver uma típica aventura de super-heróis, Watchmen corre o risco de se mostrar como uma fria, arrastada e datada, porém bela, experiência visual". Minha dica: veja a minissérie premiada. (para alugar em Amazon Prime Video, Apple TV e Google Play)
14º) Batman (1989)
De Tim Burton. Michael Keaton interpreta um Bruce Wayne metido a engraçadinho e um Batman insosso — seu traço mais memorável é o biquinho. O Coringa de Jack Nicholson é insano, divertido, cheio de frases de efeito ("Esta cidade precisa de um enema"). Mas é carta de baralho infantil perto do que veríamos em O Cavaleiro das Trevas (2008).
13º) Mulher-Maravilha (2017)
De Patty Jenkins. Foi o primeiro filme de super-heroína a fazer sucesso de público e de crítica, e o primeiro título de super-herói a ser dirigido por uma mulher. Fora essas marcas, Mulher-Maravilha apresenta uma primeira metade arrebatadora, especialmente quando tem como cenário a ilha de Themyscira, onde a princesa Diana cresce e toma o corpo de Gal Gadot, uma presença magnética que empresta leveza e dignidade à personagem.
12º) Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012)
De Christopher Nolan. Em que pesem todos os seus defeitos (desde problemas de roteiro até uma das mais esquisitas cenas de morte do cinema), este é um filme cheio de grandes momentos (desde as ações terroristas empreendidas pelo Bane assustadoramente encarnado por Tom Hardy até a criativa reintrodução de Robin na mitologia do Batman).
11º) Aquaman (2018)
De James Wan. Jason Momoa empresta seu inegável carisma para a caracterização de Aquaman como uma mistura de rei bárbaro e surfista marrento. Um dos acertos de Aquaman é não ter vergonha de equilibrar os aspectos épicos do personagem com seu lado — por que não dizer? — ridículo. Por vezes, parece que estamos vendo um desfile aquático de Carnaval, com monstros marinhos no lugar de carros alegóricos.
10º) Shazam! (2019)
De David F. Sandberg. Nesta mistura de Superman (1978) com Quero Ser Grande (1988), o diretor sueco que fez carreira no terror investe na aventura, na comédia e na fantasia. Até lança mão de cenas escuras e sustos, mas isso se justifica: as primeiras realçam os raios disparados pelo personagem, os últimos ocorrem porque, ora, pode ser apavorante para um adolescente virar um adulto da noite para o dia. E não só um adulto, mas um com superpoderes.
9º) O Homem de Aço (2013)
De Zack Snyder. O terço final põe literalmente por terra o que foi erguido nos dois iniciais, justamente por causa de demoradas e monótonas cenas de destruição. Antes, a feliz combinação entre o roteiro, a concepção visual de Snyder e a música de Hans Zimmer reconduz Superman ao Olimpo do qual ele foi o pioneiro ocupante, em 1938. Mas é menos à mitologia grega e mais à Bíblia que o filme alude. Como no filme de 2006, a jornada do kryptoniano em O Homem de Aço espelha a de Jesus: o onisciente pai do além, os anos de provação de Clark Kent em empregos ordinários (como os 40 dias no deserto), os milagres, a idade do sacrifício pela humanidade — em uma cena, o herói interpretado por Henry Cavill se apresenta com 33 anos.
8º) Batman Begins (2005)
De Christopher Nolan. Os créditos de abertura, em preto e branco, assinalavam o adeus dos coloridos e bobos filmes de Joel Schumacher e prenunciavam a abordagem realista e sombria de Nolan, que, na companhia do ator Christian Bale, buscou explicar de forma lógica toda a batmitologia.
7º) Constantine (2005)
De Francis Lawrence. Muitos fãs do personagem renegam esta adaptação, que toma muitas liberdades artísticas em relação aos gibis, a começar pela própria caracterização de John Constantine: em vez de um cara à feição do roqueiro inglês Sting, loiro, surge Keanu Reeves, com seus cabelos negros. Mas, para mim, a essência foi preservada: está um sujeito que fuma sem parar, engana tanto demônios quanto anjos e parece só pensar em si mesmo.
6º) V de Vingança (2005)
De James McTeigue. Esta adaptação de uma HQ escrita por Alan Moore e desenhada por David Lloyd não foi exatamente uma campeã de bilheteria (arrecadou US$ 124 milhões). Mas todo o mundo conhece a cara do filme — literalmente. E quando digo todo o mundo não é força de expressão: a máscara usada pelo personagem vivido por Hugo Weaving em V de Vingança é vista frequentemente em manifestações em Brasília e em Washington, em Roma e em Berlim, na Turquia e nas Filipinas. Virou um símbolo de protesto, seja qual for a causa: as acusações ao analista de sistemas Edward Snowden, que revelou segredos do sistema estadunidense de vigilância global, o aumento no preço das passagens de ônibus, a violência policial contra negros, a cientologia, as medidas econômicas austeras, os governos corruptos e os regimes ditatoriais.
5º) Coringa (2019)
De Todd Phillips. Eu tenho sérias restrições em relação a este filme, mas reconheço pelo menos duas virtudes que garantem a Coringa um posto alto no ranking da DC (a propósito, a concorrência interna também ajuda). A primeira é a atuação de Joaquin Phoenix, premiada com o Oscar, o Bafta, o Globo de Ouro, o troféu do Sindicato dos Atores dos EUA e o Critics' Choice. Para interpretar Arthur Fleck, ele perdeu 23 quilos em um intervalo de quatro meses, alimentando-se, entre outras coisas, de maçã, alface e vagem de feijão verde ao vapor. A transformação física que deu fluidez e vulnerabilidade ao personagem foi acompanhada por um estudo de diferentes transtornos de personalidade — em cena, Phoenix viveu um sujeito marginalizado pela sociedade, abandonado pelo Estado e dissociado da realidade. A segunda virtude é a capacidade de Coringa gerar debate, com uma mistura de complexidade e leviandade que permite a adoção do filme por diversos discursos políticos — à direita e também à esquerda.
4º) Batman: O Retorno (1992)
De Tim Burton. No seu segundo filme, Burton acerta a mão ao colocar o Batman vivido por Michael Keaton entre três vilões: o Pinguim (um grotesco Danny DeVito), a Mulher-Gato (uma sensual Michelle Pfeiffer) e o ganancioso e inescrupuloso empresário Max Schreck (um cativante Christopher Walken), personagem criado para a trama. Pelo menos uma cena tornou-se antológica: a de Pfeiffer, no auge de seus 30 e poucos anos, com sua roupa de vinil colada ao corpo, tomando banho de língua na cama do Pinguim.
3º) Batman (2022)
De Matt Reeves. Com um trabalho fascinante de fotografia, design de produção e edição, o diretor mistura terror, o cinema noir dos anos 1940, o filme de serial killer (como Seven e Zodíaco), o thriller político e até a dinâmica das duplas policiais.
Na trama de quase três horas, Batman (Robert Pattinson) e o tenente Gordon (Jeffrey Wright) precisam caçar uma versão nada cômica do Charada (Paul Dano), que começou pelo prefeito uma matança em Gotham City. Zoë Kravitz encarna Selina Kyle, a Mulher-Gato, John Turturro é o mafioso Carmine Falcone, e Colin Farrell está irreconhecível como o Pinguim. Pattinson é um dos grandes destaques de Batman: pálido e com um tom deprê, o ator foi uma escolha perfeita para a abordagem proposta por Reeves. Nela, o trauma de infância e a sede de vingança que deram origem ao Batman são sombras tão pesadas que anulam a existência de Bruce Wayne.
2º) Superman (1978)
De Richard Donner. Um dos pioneiros filmes de superói continua encantador. Com orçamento de US$ 55 milhões, o Superman de Donner era, à época, o longa-metragem mais caro da história. Disputou três Oscar — melhor música original (assinada pelo mestre John Williams), montagem e som — e ganhou um prêmio especial, por seus efeitos visuais. Na trama, Marlon Brando interpreta Jor-El, cientista que envia o seu filho à Terra pouco antes da destruição do planeta Krypton. Criado como Clark Kent, o garoto desenvolve superpoderes e, já adulto (na pele do eterno Christopher Reeve), torna-se um super-herói defensor da sociedade contra ameaças e malfeitores. O grande Gene Hackman faz o vilão Lex Luthor, e Margot Kidder encarna a repórter Lois Lane.
1º) Batman: O Cavaleiro das Trevas (2008)
De Christopher Nolan. Indicado a oito Oscar, incluindo melhor ator coadjuvante (o saudoso Heath Ledger, premiado postumamente), fotografia e edição, o segundo filme da trilogia de Nolan merecia ter concorrido também na categoria principal. Gotham tem um novo rei do crime: o Coringa (Ledger), que começa um jogo de gato e rato com Batman (Christian Bale) e o promotor público Harvey Dent (Aaron Eckhart). Além de discutir temas perenes (o que separa o Bem do Mal, por exemplo) e dilemas modernos (como os riscos de combater o crime com extremismo), o cineasta também explora a relação sadomasoquista e simbiótica entre o herói e o vilão. Na cena do interrogatório na delegacia, o Coringa diz: "Você me completa!". Mais adiante, quando o Homem-Morcego suspende o lunático de ponta-cabeça, o diretor movimenta a câmera de modo a igualar a posição dos dois interlocutores. Um não é mais o inverso do outro, mas seu espelho.
Menção honrosa: Lego Batman: O Filme (2017)
De Chris McKay. Para muitos fãs, esta animação faz a melhor transposição do Homem-Morcego para o cinema. Mas convém alertar os desavisados: aqui, o personagem não apenas é desconstruído, como vira alvo do deboche. Mas também do afeto: como raramente se vê nos filmes com atores de carne e osso, Lego Batman trabalha bem as questões do isolamento e da solidão aos quais o protagonista se submete.