Encontrei na plataforma HBO Max três dos meus filmes policiais preferidos: Fogo Contra Fogo (1995), de Michael Mann, Los Angeles, Cidade Proibida (1997), de Curtis Hanson — ambos também disponíveis em Amazon Prime Video e Star+ —, e Senhores do Crime (2007), de David Cronenberg (que, como o título indica, dá todo o protagonismo ao outro lado da lei).
Fogo Contra Fogo (no original, Heat) apresenta o maior duelo já visto em Hollywood. À época da estreia do filme, não seria exagero apontar Robert De Niro e Al Pacino como os maiores atores do cinema estadunidense. De Niro, então com 52 anos, trazia no currículo dois Oscar — o de coadjuvante por O Poderoso Chefão: Parte II (1974) e o de melhor ator por Touro Indomável (1980) — e mais quatro indicações, todas na categoria principal: Taxi Driver (1976), O Franco Atirador (1978), Tempo de Despertar (1990) e Cabo do Medo (1991). Pacino, que tinha 55 anos, recém havia conquistado sua única estatueta, na pele do protagonista de Perfume de Mulher (1992), depois de concorrer três vezes como coadjuvante — O Poderoso Chefão (1972), Dick Tracy (1990) e O Sucesso a Qualquer Preço (1992) — e mais quatro vezes como melhor ator: Serpico (1973), O Poderoso Chefão: Parte II (1974), Um Dia de Cão (1975) e Justiça para Todos (1979).
Em cena, temos o duelo entre dois homens exímios naquilo que fazem, ambos com suas vidas pessoais estragadas pela dedicação ao trabalho. A solidão de um é visualmente sintetizada em sua casa ampla e sem móveis em Los Angeles, com uma grande janela que dá vista para o mar — quando ele fita o horizonte, é como se estivesse mirando uma paz de espírito impossível de ser alcançada. O outro está no seu terceiro casamento, que vai de mal a pior — cada vez mais uma figura fantasmagórica, ele ouve da esposa: "Você não mora comigo, você vive entre os restos de pessoas mortas. Você vasculha os detritos, lê o terreno, procura sinais de passagem, o cheiro de suas presas e depois as caça. Essa é a única coisa com a qual você está comprometido. O resto é a bagunça que você deixa ao passar".
Os dois personagens só estão separados pela lei e pela ética: um é o ladrão Neil McCauley (De Niro), o outro é o policial Vincent Hanna (Pacino). O primeiro não vai hesitar em sacrificar inocentes em nome do bem pessoal; o segundo sacrificou a si próprio para proteger inocentes. McCauley será caçado por Hanna depois que um meticuloso e milionário assalto a um carro-forte termina em um banho de sangue.
A campanha de marketing alardeava que em Fogo Contra Fogo veríamos De Niro e Pacino contracenando pela primeira vez — como os créditos acima evidenciam, eles trabalharam no segundo capítulo da saga da família Corleone, interpretando pai e filho, mas em tempos diferentes. Para o filme de Michael Mann, os dois atores resolveram não ensaiar o antológico diálogo de seis minutos que seus personagens travam durante um café. A ideia, diz De Niro, era deixar mais genuína a falta de familiaridade entre Hanna e McCauley — que acabam se reconhecendo como reflexos um do outro.
Com o objetivo de garantir fluidez nas improvisações, o cineasta instruiu o diretor de fotografia Dante Spinotti, seu habitual colaborador, a filmar com duas câmeras, uma por cima do ombro de Pacino, a outra por cima do ombro de De Niro. Por isso que jamais vemos os rostos dos dois no mesmo plano. O papo é reto entre dois homens tão próximos quanto opostos.
— Eu não sei fazer outra coisa — diz Hanna.
— Nem eu — responde McCauley.
— Eu também não quero muito (fazer outra coisa) — acrescenta o policial.
— Nem eu — concorda o ladrão.
Diferentemente de Fogo Contra Fogo, esnobado pelo Oscar — mas de notável influência para cineastas como Edgar Wright e Christopher Nolan —, Los Angeles, Cidade Proibida (L.A. Confidential) recebeu nove indicações: melhor filme, diretor, atriz coadjuvante (Kim Basinger, premiada), roteiro adaptado (Curtis Hanson e Brian Helgeland, premiados), fotografia, edição, direção de arte, música original e som.
Baseada em livro do escritor James Ellroy, a história se passa na década de 1950. Com ótimas atuações, Kevin Spacey, Guy Pearce e Russell Crowe interpretam três policiais da mesma delegacia, mas muito distintos entre si.
Detetive da área de narcóticos, Jack Vincennes (Spacey) atua como consultor técnico em uma seriado de TV, Badge of Honor, e tem uma relação promíscua com o editor de uma revista de fofocas, a Hush-Hush: Sid Hudgens (Danny DeVito) dá dicas a Vincennes sobre atividades ilícitas das celebridades de Hollywood, para ter exclusividade na cobertura jornalística das prisões efetuadas.
O sargento Edmund Exley (Pearce), filho de um proeminente detetive morto por um assaltante desconhecido, é o cara que só joga dentro das regras. A ponto de se voluntariar para testemunhas contra policiais corruptos. Mas não é só uma questão de caráter: Exley mira uma promoção para tenente.
Por causa de um trauma familiar, o policial à paisana Wendell "Bud" White (Crowe) é obcecado em punir homens que abusam de mulheres. Uma dessas ocasiões nas quais sai em defesa de uma garota acaba levando-o a conhecer Lynn Bracken (Kim Basinger), uma prostituta parecida com a atriz Veronica Lake.
Os três policiais terão suas trajetórias cruzadas a partir da investigação de uma chacina em um café — um dos encantos do filme está em descobrir, junto aos personagens, o tamanho do vespeiro que está sendo mexido.
Senhores do Crime (Eastern Promises) foi a segunda das quatro parcerias de David Cronenberg com o ator Viggo Mortensen, que mereceu uma indicação ao Oscar por este filme. Antes, eles fizeram juntos Marcas da Violência (2005). Depois, Um Método Perigoso (2011) e Crimes of the Future (2022).
A trama escrita por Steven Knight está ambientada em Londres, onde a enfermeira Anna (Naomi Watts) busca pela família de uma garota cuja mãe, uma prostituta, morreu após o parto. Os indícios a levam a Vory V Zakone, a máfia russa que comanda o tráfico de mulheres e uma rede de prostituição. Em seu caminho, Anna encontra Nikolai (Mortensen), chofer do inconsequente Kirill (Vincent Cassel), filho do chefão Semyon (Armin Mueller-Stahl).
Embora não seja um filme de terror corporal, subgênero em que Cronenberg se consagrou, Senhores do Crime tem pelo menos uma cena que se alinha à tradição do cineasta canadense de fazer do corpo humano um cenário — ou um campo de batalha. É a célebre sequência de luta na sauna, na qual Nikolai, nu e hiperexposto, precisa se defender de um ataque.