A Sala Redenção, no Campus Central da UFRGS, vai exibir nesta segunda-feira (2), às 19h, e no dia 16 de maio, às 15h, um dos filmes favoritos do cineasta Quentin Tarantino e deste colunista que vos escreve: Um Tiro na Noite (1981), de Brian De Palma.
Trata-se de um exitoso fracasso. Produzido ao custo de US$ 20 milhões, o filme arrecadou US$ 13,8 milhões, a despeito das críticas positivas dos prestigiados Roger Ebert e Pauline Kael. Reza a lenda que a propaganda boca a boca sobre o tom desolador do final arruinou as pretensões comerciais. E tampouco o título foi lembrado na temporada de premiações — uma constante na carreira do estadunidense De Palma, hoje com 81 anos.
Ele nunca concorreu ao Oscar, embora alguns de seus longas-metragens tenham sido indicados e até laureados. Foi o caso, por exemplo, de Carrie, a Estranha (1976), que teve Sissy Spacek e Piper Laurie na briga pelas estatuetas de melhor atriz e atriz coadjuvante, e de Os Intocáveis (1987), que deu a Sean Connery o troféu de ator coadjuvante e disputou também direção de arte, figurinos e música original (do lendário Ennio Morricone).
Aos poucos, no entanto, Um Tiro na Noite (Blow Out, 1981) começou a ganhar o prestígio merecido. Tarantino, à época do lançamento de seu Pulp Fiction (1994), classificou como uma das três obras que levaria para uma ilha deserta (as outras eram Onde Começa o Inferno, 1959, de Howard Hawks, e Taxi Driver, 1976, de Martin Scorsese).
No filme, De Palma mistura Blow-Up (1966), de Michelangelo Antonioni, e A Conversação (1972), de Francis Ford Coppola; reflete sobre o assassinato do presidente John F. Kennedy, em 1963 — o grande trauma político dos Estados Unidos — e sobre o próprio ofício cinematográfico; e exibe seus temas e seus maneirismos: a culpa, a conspiração, o voyeurismo, a presença masculina como uma ameaça às mulheres, os planos-sequência, o uso do split focus (literalmente, foco dividido), a montagem que parte a tela em duas etc.
Um Tiro na Noite tem como protagonista um astro daqueles tempos, que havia sido indicado ao Oscar de melhor ator por Os Embalos de Sábado à Noite (1977): John Travolta. Talvez tenha sido sua última grande atuação depois de cair no ostracismo do qual, não por acaso, foi retirado quando Tarantino o escalou em Pulp Fiction — papel que valeu outra indicação ao Oscar de melhor ator.
Travolta interpreta Jack Terry, um técnico de efeitos sonoros que, sem querer, registra um acidente de carro, do qual salva uma moça encarnada por Nancy Allen (então esposa de De Palma). Ao ouvir suas gravações, o sonoplasta se descobre testemunha de um possível atentado político. Entrementes, surge o perigoso personagem vivido por John Lithgow (que já havia trabalhado com o cineasta em Trágica Obsessão, de 1976, e seria o protagonista de Síndrome de Caim, em 1992).
A partir daí, De Palma monta um suspense angustiante, em que demonstra sua paixão pelo próprio processo de fazer cinema, ao mesmo tempo em que alude à célebre fita do cineasta amador Abraham Zapruder com os últimos momentos de Kennedy nas ruas de Dallas. São aulas de mestre as cenas em que Jack Terry combina som e imagem para reconstituir os acontecimentos daquela noite.
Se este texto te convenceu a ir, vale dar dois avisos. O primeiro é que, salvo algum imprevisto de última hora, eu estarei na sessão das 19h desta segunda. O segundo é que a Sala Redenção tem capacidade para apenas 87 espectadores.