Agora que, aparentemente, a vitória do democrata Joe Biden nas eleições de novembro foi ratificada pelo Congresso, depois da invasão do Capitólio por partidários do republicano Donald Trump, que tal lembrar de filmes e séries sobre presidentes dos Estados Unidos, sejam eles reais inquilinos da Casa Branca ou mandatários de mentirinha? Essa é uma tradição americana como a torta de maçã, o beisebol e o Dia de Ação de Graças. Se eu fosse tentar fazer uma lista completa, levaria mais tempo do que levou a apuração dos votos na disputa entre Biden e Trump. Então, vale dizer que aqui estão apenas alguns eleitos, divididos em quatro categorias: cinebiografias, documentários, ficções e séries. São 35 títulos ao todo, muitos deles disponíveis em plataformas de streaming como Amazon Prime Video e Netflix (conforme indicado na lista abaixo).
Cinebiografias
Dos 45 homens que já ocuparam a Casa Branca desde que George Washington, em 1789, deu início a seu primeiro mandato, dois são figuras recorrentes no cinema. O popular John F. Kennedy (1917-1963) foi vivido por Bruce Greenwood em Treze Dias que Abalaram o Mundo (2000), de Roger Donaldson, ambientado em um dos momentos mais tensos da Presidência: 1962, quando os EUA e a antiga União Soviética estiveram à beira de um conflito nuclear. O assassinato de Kennedy, em novembro de 1963, foi tema, por exemplo, de JFK: A Pergunta que Não Quer Calar (1991, disponível no Amazon Prime Video e no Telecine), dirigido por Oliver Stone e estrelado por Kevin Costner — interpretando o promotor Jim Garrison —, vencedor dos Oscar de fotografia e edição e indicado aos prêmios de melhor filme, diretor, ator coadjuvante (Tommy Lee Jones), roteiro adaptado, música original e som, e de JFK: A História Não Contada (2013, no Google Play e no YouTube), de Peter Landesman, que traz no elenco Zac Efron e Paul Giamatti (como Abraham Zapruder, o dono de uma loja de roupas femininas que, fortuitamente, filmou o instante em que o presidente foi baleado). Os quatro dias seguintes ao ataque são reencenados em Jackie (2016, Google Play e YouTube), de Pablo Larraín, centrado na primeira-dama e agora viúva (Natalie Portman, indicada ao Oscar de melhor atriz).
A outra figurinha carimbada é o controverso Richard Nixon (1913-1994), que não chega a aparecer, mas exerce sua enorme sombra no recente Os 7 de Chicago (2020, Netflix), de Aaron Sorkin. Em "carne e osso", o mandatário que acabou renunciando em 1974, após o escândalo Watergate (esmiuçado no clássico Todos os Homens do Presidente, lançado por Alan J. Pakula em 1976, disponível no Google Play e no YouTube), pode ser visto em pelo menos cinco títulos. Em 1984, Robert Altman dirigiu Philip Baker Hall em A Honra Secreta. Nixon (1995), de Oliver Stone, rendeu a Anthony Hopkins uma indicação ao Oscar de melhor ator, mesma categoria pela qual Frank Langella, no mesmo papel, concorreu por Frost/Nixon (2008, em cartaz no Google Play e no YouTube), adaptação de Ron Howard para uma célebre entrevista concedida três anos após a renúncia. Dan Hedaya encarna Dick — o apelido de Nixon — na paródia sobre Watergate Todas as Garotas do Presidente (1999), de Andrew Fleming, e Kevin Spacey contracena com Michael Shannon em Elvis & Nixon (2016, Google Play e YouTube), de Liza Johnson, sobre uma visita do Rei do Rock à Casa Branca, em 1970.
Entre as demais cinebiografias, vale destacar a terceira assinada por Oliver Stone, W. (2008), sobre George W. Bush (interpretado por Josh Brolin); Lincoln (2012, Google Play e YouTube), de Steven Spielberg, premiado com o Oscar de melhor ator (Daniel Day-Lewis); e Barry (2016, Netflix), de Vikram Gandhi, sobre a vida de Barack Obama (Devon Terrell) na universidade, no começo da década de 1980. Outros dois títulos merecem nota. Segredos do Poder (1998), de Mike Nichols, é uma espécie de reconstituição disfarçada da primeira campanha de Bill Clinton à Presidência — no filme, John Travolta encarna um carismático governador do Sul chamado Jack Stanton, e Emma Thompson faz sua esposa, à la Hillary. Vice (2018, YouTube), de Adam McKay, traz Christian Bale no papel de Dick Cheney, o segundo em comando na administração de George W. Bush.
Documentário
Seria insano tentar mapear todas as produções, portanto, vou citar apenas o terceiro documentário de maior bilheteria na história: Fahrenheit 11 de Setembro (2004), com US$ 221 milhões arrecadados, atrás de Michael Jackson: This Is It (2009), com US$ 252 milhões, e Grand Canyon: The Hidden Secrets (1984), com US$ 239 milhões. No filme vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, o diretor Michael Moore ataca o presidente George W. Bush. Faz revelações e provocações sobre a reação do governo americano aos atentados de 11 de setembro de 2001, incluindo a omissão da Casa Branca a um relatório que alertava sobre um iminente ataque terrorista e a conexão da família Bush como sauditas como Osama Bin Laden, então o líder da Al-Qaeda.
Ficções
Ameaças atômicas, terroristas ou mesmo alienígenas e vampiros são a pauta do dia dos presidentes ficcionais. No clássico Dr. Fantástico (1964, em cartaz no Google Play e no YouTube), o cineasta Stanley Kubrick explorou a paranoia nuclear da Guerra Fria mostrando Peter Sellers como o presidente ianque Merkin Muffley — um dos três papéis interpretados pelo lendário ator cômico no filme.
Harrison Ford sai no braço com os terroristas que sequestram o avião presidencial em Força Aérea Um (1997, Google Play e YouTube), de Wolfgang Petersen, e o thriller A Conspiração (2000), de Rod Lurie, coloca o mandatário (Jeff Bridges) no centro de intrigas palacianas.
Jack Nicholson, em Marte Ataca! (1996), de Tim Burton, e Bill Pullman, em Independence Day (1996, Google Play), de Roland Emmerich, têm como inimigo externo seres de outro planeta que querem destruir o mundo. Até com vampiros os presidentes têm de lidar. É o caso de Abraham Lincoln: Caçador de Vampiros (2012, Google Play e YouTube), de Timur Bekmambetov.
Mas também há vez para o amor e para a comédia. Meu Querido Presidente (1995), de Rob Reiner, trata de um chefe de Estado (Michael Douglas) que se apaixona por uma lobista (Annette Bening). Dave: Presidente por um Dia (1993, Google Play e YouTube), de Ivan Reitman, é sobre um sósia (Kevin Kline) que assume o lugar do poderoso. Mera Coincidência (1997), dirigido por Barry Levinson e estrelado por Robert de Niro e Dustin Hoffmann, é uma sátira meio premonitória: lançado um mês antes de estourar o caso Monica Lewinsky (a estagiária que se envolveu com Bill Clinton) e dos subsequentes bombardeios do Afeganistão e do Sudão pelo governo dos EUA, conta uma uma história sobre um assessor presidencial, um consultor político e um produtor de cinema que fabricam uma guerra fictícia na Albânia para desviar a atenção da imprensa e do público de um escândalo sexual protagonizado pelo presidente em plena Casa Branca.
Séries
Os seriados são terreno fértil para presidentes icônicos. O primeiro deles talvez seja o democrata Josiah Bartlett, interpretado por Martin Sheen em The West Wing (1999-2006). Criada por Aaron Sorkin, a série foi palco de debates intensos sobre os destinos do mundo e desafios internos.
Um pouco depois, surgiu o David Palmer encarnado por Dennis Haysbert na eletrizante 24 Horas (2001-2010, disponível no Amazon Prime Video), que pode ter contribuído para fixar no imaginário dos americanos a ideia de eleger, em novembro de 2008, o primeiro presidente negro, Barack Obama — democrata como o mandatário do seriado.
Falando em primeira vez, na ficção, ao contrário da realidade, já houve uma mulher na Casa Branca. Na verdade, pelo menos quatro: Mackenzie Allen, papel de Geena Davis em Commander in Chief (2005-2006); Allison Taylor (Cherry Jones) no telefilme 24 Horas: A Redenção (2008) e nas temporadas 7 e 8; Selina Meyer, que começou como vice-presidente na comédia Veep (2012-2019) e valeu seis prêmios Emmy de melhor atriz para Julia Louis-Dreyfus (a Elaine de Seinfeld); e Claire Underwood (Robin Wright) em House of Cards (2013-2018, na Netflix).
Também já houve uma personagem de desenho animado, a Lisa, de Os Simpsons. Foi por apenas um episódio, Bart to the Future, em 2000, mas tornou-se marcante por antever que um dia Donald Trump assumiria a presidência.
Falando em Trump, antes de virar presidente (portanto, as atrações a seguir não entram no cálculo dos 35 do início da coluna, caso você esteja contando) o megaempresário apareceu várias vezes na TV, seja no comando de seu reality show, O Aprendiz, surgido em 2004, seja fazendo participações especiais em seriados como All my Children, Um Maluco no Pedaço, The Nanny, Spin City e Sex and the City.
Por fim, não podemos esquecer do maquiavélico e amoral Frank Underwood, personagem de Kevin Spacey em House of Cards, nem do Tom Kirkman de Designated Survivor (2016-2018, Netflix): Kiefer Sutherland, que sempre defendeu o presidente como o Jack Bauer de 24 Horas, agora se vê, inesperadamente, tendo de assumir o cargo, depois que uma explosão mata o mandatário e todos os integrantes do gabinete, exceto ele, secretário de Habitação e Desenvolvimento Urbano.