O Congresso dos Estados Unidos validou, na madrugada desta quinta-feira (7), a vitória de Joe Biden nas eleições presidenciais, último passo antes da posse dele, em 20 de janeiro.
O atual vice-presidente, o republicano Mike Pence, certificou o voto de 306 grandes eleitores a favor do candidato democrata, contra os 232 obtidos por Donald Trump, depois que partidários do presidente em final de mandato invadiram o Capitólio, sede do Legislativo, e semearam o caos durante horas, com o objetivo de impedir a validação dos resultados.
— Para aqueles que causaram estragos em nosso Capitólio hoje: vocês não venceram — disse Pence ao retomar as atividades no Congresso. — A violência nunca vence. A liberdade vence — afirmou.
A sessão que contou os votos do Colégio Eleitoral foi retomada por volta das 20h de Washington (22h em Brasília), após a sede do Senado e da Câmara dos Representantes ter sido invadida por manifestantes que não aceitavam a derrota do atual presidente, Donald Trump, na eleição. Segundo a polícia, quatro pessoas morreram nos confrontos.
A invasão
Durante comício, Trump incitou algumas vezes os manifestantes a pressionarem os senadores a não aceitarem o resultado das eleições. Os partidários de Trump no Senado planejavam fazer diversas objeções aos resultados dos seus Estados (como Arizona, Geórgia e Pensilvânia) como uma demonstração de força, para adiar a contagem dos votos do Colégio Eleitoral.
— Ganhamos essa eleição e ganhamos por muito. Não queremos ver nossa vitória eleitoral roubada pela esquerda radical — afirmou o presidente no comício, dedicando também ataques à mídia, aos "republicanos fracos" e às autoridades eleitorais:
— Nossa mídia não é livre e honesta, ela está se tornando o inimigo do povo (...) As eleições de países de terceiro mundo são mais honestas do que as do nosso país — afirmou.
Trump também contava com o fato de que seu vice-presidente, Mike Pence, poderia não endossar a contagem dos votos do Colégio Eleitoral. Essa possibilidade foi enterrada quando Pence divulgou um documento aos senadores e nas suas redes sociais dizendo que tinha a responsabilidade constitucional de endossar o resultado.
Minutos depois, milhares de apoiadores de Trump que se encontravam em frente ao Capitólio confrontaram a polícia local e invadiram o prédio.
A reação
Enquanto os senadores e o vice-presidente Mike Pence eram levados para um local seguro — que não foi divulgado pelas autoridades norte-americanas — os manifestantes pró-Trump vandalizaram gabinetes e ocuparam o plenário.
Pence recorreu às redes sociais para pedir a imediata desocupação do prédio:
"A violência dentro do Congresso precisa parar agora. Todas as pessoas envolvidas devem respeitar os policiais e deixar o prédio imediatamente", afirmou Pence no Twitter.
Para manter a segurança, a prefeitura de Washington decretou um toque de recolher emergencial na Capital norte-americana. A Guarda Nacional também foi autorizada a entrar no Capitólio para retirar os manifestantes.
O eleito, Joe Biden, declarou, em discurso posterior à invasão, que foi "um ataque à lei como nunca vimos".
— As cenas de caos não refletem a América verdadeira, quem nós somos. O que vimos foi um pequeno número de extremistas. Isso não é discordar. Isso é o caos. Eu peço ao presidente Trump que vá à televisão, para defender a Constituição e pedir um fim para esse caos — disse.
Logo depois, o presidente Donald Trump também pediu calma aos manifestantes e que voltassem para casa:
— Sei que vocês estão feridos. Nós tivemos uma eleição que foi roubada de nós. E todo mundo sabe, especialmente o outro lado. É um período muito difícil. Foi uma eleição fraudulenta. Mas precisamos de paz, então vão para casa. Nós amamos vocês, vocês são muito especiais, e eu sei como vocês estão se sentindo. Mas vão para casa em paz — disse Trump, novamente sem apresentar provas das supostas fraudes nas eleições.
O fato de ter repetido as alegações sem provas fez com que as redes sociais Twitter e Facebook restringissem os posts de Trump e bloqueassem a sua conta enquanto o vídeo não fosse deletado.
A repercussão
A invasão do Capitólio chocou o mundo e provocou reações de diversos líderes mundiais. No Brasil, autoridades do Legislativo, como os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Davi Alcolumbre, manifestaram preocupação.
O Executivo, entretanto, manteve silêncio. O vice-presidente, Hamilton Mourão, se resumiu a afirmar que é uma "questão interna", o Ministério das Relações Exteriores não se manifestou e o presidente Jair Bolsonaro, que reafirmou ser "ligado a Trump", usou o fato para voltar a alegar, sem provas, de que houve fraude nas eleições de 2018.
Nos Estados Unidos, alguns membros de gabinetes do Partido Republicano passaram a considerar a possibilidade do vice-presidente Mike Pence invocar a 25ª Emenda Constitucional norte-americana, que prevê a vacância da presidência por incapacidade do chefe de Estado. De acordo com Jim Acosta, da CNN, o estado mental "instável" e "raivoso" de Trump no comando da Casa Branca está gerando muitas preocupações por parte dos seus aliados.