Depois de duas edições apenas online, por causa da pandemia, o Festival de Cinema Fantástico de Porto Alegre voltou a atrair bom público às sessões presenciais — e também viu aumentar sua audiência na etapa virtual. Segundo os organizadores João Pedro Fleck e Nicolas Tonsho, os 13 primeiros dias do 18º Fantaspoa levaram 6,5 mil espectadores às cinco salas que integram a programação do evento: Cine Grand Café, Cinemateca Capitólio, Farol Santander, Instituto Ling e Sala Eduardo Hirtz. A expectativa até o encerramento, no domingo (1º), é a de igualar ou até superar a marca de 10 mil registrada em 2019.
Para Fleck e Tonsho, o Fantaspoa "quebrou barreiras", graças ao apoio dos dois patrocinadores (Banricard e Crown Embalagens) e à inserção em novos espaços de exibição, como o Cine Grand Café e, "especialmente", o Instituto Ling (onde, no dia 14 de abril, houve a abertura do festival, uma memorável sessão musical do clássico centenário Nosferatu, de F.W. Murnau, com composições do porto-alegrense Carlos Ferreira).
— Isso nos fez alcançar um público que, talvez, ainda não conhecia o festival — diz Fleck.
Essa maior exposição do Fantaspoa também ajuda a explicar como, no ano de retomada das sessões presenciais, viu-se o crescimento do público online. Em 2020, foram 65 mil espectadores, e em 2021, 85 mil. Apenas nos quatro primeiros dias da etapa digital do 18º Fantaspoa, disponibilizada gratuitamente no site Darkflix, houve 120 mil acessos. (Você pode conferir como assistir e a programação neste link).
Entre os títulos mais assistidos nas salas de cinema, estão os japoneses Holy Mother e Tokyo Gore Police, do diretor Yoshihiro Nishimura, homenageado neste festival, os brasileiros Os Dragões, de Gustavo Spolidoro, e Jesus Kid, de Aly Muritiba, e o estadunidense Follow Her, de Sylvia Caminer. Os Dragões e Jesus Kid ainda terão exibição: o primeiro no sábado (30), às 16h, na Eduardo Hirtz, com a presença do cineasta, e o segundo nesta quinta (28), às 16h30min, no Cine Grand Café.
Três destaques do 18º Fantaspoa — O Apego (Argentina), Neptune Frost (Ruanda/EUA) e A Tristeza (Taiwan) — já não podem mais ser vistos. Resta torcer para que um dia estreiem no cinema ou no streaming. Mas, nas sessões presenciais, há pelo menos outros nove filmes que merecem sua atenção.
O iraniano Matando o Eunuco Khan, de Abed Abest, terá sua última exibição nesta quinta (28), às 20h45min, no Cine Grand Café (clique aqui para saber mais).
Também nesta quinta, às 20h, na Cinemateca Capitólio, ocorre sessão comentada de O que Josiah Viu, do estadunidense Vincent Grashaw. A sinopse diz: uma família sulista com segredos enterrados se reúne em uma fazenda pela primeira vez em duas décadas. Nessa ocasião, precisarão pagar por seus pecados passados. O filme será apresentado de novo no domingo, às 18h30min, no Cine Grand Café.
Rasgue e Jogue Fora é um filme russo que, por causa da guerra na Ucrânia, sofreu boicote em festival da Escócia. Seu diretor, Kirill Sokolov, conta a história de Olga, que, após quatro anos na prisão, quer pegar de volta a filha, que estava com sua mãe, mas a avó de Masha tem planos diferentes para a menina. Prepare-se para uma mescla de tensão, riso e sangue, com uma violência que remete à dos desenhos animados de Tom & Jerry, Pernalonga e Papa-Léguas. Sessões na sexta (29), às 18h, na Cinemateca Capitólio, com a participação do diretor e roteirista, sábado, às 16h, na Cinemateca Capitólio, e domingo, às 19h30min, na Sala Eduardo Hirtz.
Na sexta, às 16h30min, no Cine Grand Café, despede-se do Fantaspoa um dos melhores filmes do ano: Soul of a Beast, do suíço Lorenz Merz (clique aqui para ler sobre).
Tiong Bahru Social Club é uma espécie de "Wes Anderson de Singapura dirige um episódio de Black Mirror". Como o cineasta estadunidense de O Grande Hotel Budapeste e A Crônica Francesa, o diretor Bee Thiam Tan capricha na direção de arte, investe no jogo de cores dos cenários e dos figurinos, tem apreço por simetrias e pratica um senso de humor temperado por melancolia. Como na série criada pelo inglês Charlie Brooker, no seu filme as novas tecnologias potencializam anseios, crises, dilemas e vícios da sociedade contemporânea.
O protagonista é Ah Bee, que inicia uma odisseia cômica pelo Tiong Bahru Social Club, um projeto baseado em dados e algoritmos para criar, em Singapura, o bairro mais feliz do mundo. Aos poucos, seus encontros com os moradores do local revelam que nem tudo é cor de rosa. Sessão no domingo, às 16h30min, no Cine Grand Café. Também está disponível na etapa online, até 1º/5.
Haverá ainda três premières mundiais. No sábado, às 20h30min, na Capitólio, tem o terror argentino Legions, com a presença do diretor e roteirista Fabián Forte (haverá outra sessão no domingo, às 16h, na Eduardo Hirtz). No domingo, às 16h, também na Capitólio, é a vez do documentário Um Milhão de Zumbis: A História de "Praga Zumbi", com comentários de Nicanor Loreti e Camilo de Cabo (clique aqui para saber mais sobre os dois títulos).
A terceira estreia planetária é a do brasileiro The Smoke Master, de Andre Sigwalt e Augusto Soares. Como o título sugere, trata-se de uma mistura de maconha e kung fu, com toques de humor — essa parte fica a dever, mas as cenas de ação impressionam. A sessão única, que encerra o Fantaspoa, será no domingo, às 20h, na Capitólio, com a participação de Sigwalt, Soares e do ator Tony Lee.
Por fim, Fleck e Tonsho destacam a primeira exibição nacional de A Praga (1980), o filme durante anos perdido do maior ícone do cinema de terror brasileiro: José Mojica Marins, o Zé do Caixão. Será também no domingo, às 18h, na Capitólio.
— Resumindo: o Fantaspoa atinge "sua maioridade" se tornando tão fantástico quanto os filmes que exibe. Que venham mais 18 anos — comemora João Pedro Fleck.