Cavaleiro da Lua é uma série minguante. A cada episódio, a sexta produção da Marvel no Disney+ torna-se menos entusiasmante e mais sonífera, apesar do duplo (ou triplo, quem sabe quádruplo) esforço de seu protagonista, Oscar Isaac. Se compararmos com o primeiro seriado na plataforma de streaming, WandaVision (2021), parece ter acontecido um eclipse da criatividade.
Com seis capítulos — o quinto vai ao ar na próxima quarta-feira (27) —, a minissérie é baseada nas histórias em quadrinhos do super-herói criado em 1975 pelo roteirista Doug Moench e pelo desenhista Don Perlin. A característica mais marcante do personagem é o transtorno dissociativo de identidade. Ora ele é o mercenário Marc Spector, ora o milionário Steven Grant, ora o taxista Jake Lockley, ora o Cavaleiro da Lua, o braço de Khonshu, uma divindade egípcia. Outra particularidade é sua propensão à violência: não tem pudores para ferir ou até matar.
Desenvolvida por Jeremy Slater, cujos créditos de roteirista incluem os filmes Quarteto Fantástico (2015) e Death Note (2017) e as séries O Exorcista (2016-2018) e The Umbrella Academy (2019), a minissérie deu uma simplificada — Jake, pelo menos até agora, não deu as caras. Transformou Steven em um pacato e atrapalhado empregado da loja de suvenires de um museu em Londres. E, claro, substituiu a brutalidade pela comicidade típica (e não raro irritante) dos filmes e seriados da Marvel.
Dirigida pelo egípcio Mohamed Diab, premiado em festivais de cinema por Cairo, 678 (2010), Clash (2016) e Amira (2021) e responsável por quatro dos seis episódios de Cavaleiro da Lua, a estreia até que foi interessante. Steven está no comando do corpo do protagonista, mas Marc — que surge em espelhos e reflexos — quer assumir o controle. Afinal, seu destemor e suas habilidades físicas seriam mais úteis no enfrentamento a Arthur Harrow (Ethan Hawke), um seguidor da deusa Ammit que prega ser melhor cortar o mal pela raiz — ele tira a vida de pessoas que não passam no teste de sua "balança da dignidade". Entrementes, também fala com o protagonista o próprio Khonshu (na voz de F. Murray Abraham).
As elipses para as cenas de ação foram uma saída esperta para evitar uma violência coerente com o Cavaleiro da Lua, mas não condizente com a proposta "diversão para toda a família" do Disney+: Steven apaga e só retoma depois que Marc fez o serviço sujo, longe dos olhos do espectador.
Daí veio o segundo episódio, que foi praticamente uma reiteração do primeiro, mas em um ritmo mais lento e abrindo espaço para uma subtrama romântica com zero química: Steven começa a se interessar pela arqueóloga egípcia Layla (May Calamawy), que é casada com Marc. Cansado com a mistura de humor bobo e só um tiquinho de tensão que vem pautando produções da Marvel, por duas vezes peguei no sono.
A vontade de dormir voltou a imperar no terceiro e no quarto capítulo, que evidenciam um dos principais problemas da minissérie: a direção preguiçosa nas cenas de ação (vai ver as elipses serviram de solução também para isso). Sem sequências dignas de uma aventura de super-herói, resta-nos acompanhar longos diálogos, ora cheios de explicações, ora redundantes.
O episódio 4 bem que tenta dar uma sacudida nas coisas, mas a reviravolta mostra-se óbvia, seja para quem leu os gibis do Cavaleiro da Lua escritos por Jeff Lemire, ilustrados por Greg Smallwood e publicados entre 2016 e 2017, seja para quem viu filmes e séries sobre personagens com algum tipo de transtorno dissociativo (se eu citar aqui, será spoiler demais, mas eis um link com alguns exemplos). Para piorar, a última cena parece tirada de um terrir, as sátiras de terror tipo Todo Mundo em Pânico — e também tem ecos dos desenhos animados Os Backyardigans e Madagascar. Pelo menos o grito de pavor dado por Oscar Isaac pode servir para acordar quem já estava dormindo em frente à TV.