Ela sentou no sofá, aquele meio troncho que já conhecia os seus cansaços, e pegou o celular. Precisava registrar ali, naquele espaço íntimo que é uma conversa consigo mesma, os cinco erros que uma mulher de quase 40 não pode mais se dar ao luxo de cometer. Não depois de terapia, de noites mal dormidas remoendo decisões, de engolir tanto sapo que parecia ter virado especialista em anfíbios.
Escreveu sem firula, sem poesia, mas com a precisão de quem já bateu muita cabeça na parede errada: não acreditar em quem não teve boas relações — românticas e familiares; o tempo passa depressa, faça por você; saiba quem você é, nunca saia de perto de si; entenda seus sintomas; e, dinheiro é importante, sim.
Mandou para si mesma no WhatsApp e, ao ver aquelas palavras frias na tela, sentiu o peso do que sabia agora. Como é que ninguém entrega esse tipo de manual quando a gente tem vinte e poucos anos?
Porque, veja bem, a gente cresce ouvindo conselho furado, como se fosse receita de bolo. Seja boazinha, a vida retribui. Mas a vida, coitada, nem sempre está atenta às gentilezas. Ela retribui é para quem aprendeu a se proteger.
O primeiro erro parece óbvio, mas nem sempre é. A gente acredita em quem não sabe amar porque acha que pode ensinar. Ilusão. Quem nunca construiu nada sólido com ninguém não vai começar por você. Relacionamento é casa, precisa de alicerce, senão vira barraca ao vento.
Já o segundo erro vem disfarçado de espera: ano que vem eu resolvo isso; quando as coisas acalmarem, eu faço por mim. Só que o tempo é ligeiro, escorrega entre os dedos, e quando vê, cadê aquele curso que você queria fazer? Cadê a viagem? Cadê você na sua própria história?
O terceiro é um tapa na cara daquelas fases em que a gente se abandona. Quando deixa de se vestir do jeito que gosta porque fulano não curte. Quando fala baixo para não incomodar. Quando vira sombra da própria vida. Saber quem se é não é luxo, é necessidade.
E esse negócio de entender os sintomas? Ah, se tivessem avisado antes... Que o corpo avisa, a mente sinaliza, e ignorar isso não faz os problemas sumirem. Ficar exausta o tempo todo não é normal. Dormir mal, sentir um peso constante, engolir o choro — tudo isso é o jeito que a vida tem de dizer “ei, presta atenção em mim”.
E por último, mas jamais menos importante: dinheiro. Sim, dinheiro importa. A liberdade de pagar as próprias contas, de sair quando quiser, de não depender de ninguém. Dinheiro não compra felicidade, mas compra autonomia — e autonomia vale ouro.
Ela releu a lista e sorriu de canto. Não que agora soubesse tudo da vida, longe disso. Mas pelo menos esses cinco erros não repetiria mais. Outros viriam, novos, inéditos, porque errar faz parte do pacote de existir. Mas esses aí? Esses estavam riscados do caderninho.
E foi dormir leve, sabendo que, aos trancos e barrancos, estava fazendo por si. Afinal, se não fosse ela, quem faria?