A 2ª Vara Criminal de Novo Hamburgo marcou para terça-feira (26) a primeira audiência do processo sobre falsidade documental e corrupção de testemunhas no caso das crianças esquartejadas no município. O objetivo é ouvir nove testemunhas de acusação. Ainda não há data marcada para o interrogatório dos três réus, entre eles, o delegado afastado Moacir Fermino Bernardo, que afirmou ter tido "revelações divinas" sobre suposto ritual satânico. A investigação apontou sete pessoas como responsáveis pelas mortes e cinco delas foram presas. Todas foram inocentadas pela Justiça.
São 18 testemunhas, sendo 11 residentes em São Leopoldo. Depois dos depoimentos desta terça-feira, que fazem parte da acusação, serão ouvidas as outras nove testemunhas, todas de defesa dos réus. Ainda não foi marcada uma data, no entanto, para agilizar o processo, algumas poderão depor por meio de videoconferências. Segundo a Justiça, algumas pessoas não teriam condições de comparecer no Foro de Novo Hamburgo.
Também são réus no processo o policial civil Marcelo Cassanta e o informante da investigação Paulo Sérgio Lehmen. Este último é o único que segue preso. Lehmen teve pedido de liberdade negado no mês de abril, e foi apontado por ter, de acordo com a Promotoria, induzido outras testemunhas a mentir sobre a existência de um ritual de magia negra.
O principal objetivo do processo é entender por que a polícia afirmou ter ocorrido um ritual satânico sem ter provas técnicas dos fatos, como apontou o Ministério Público. A investigação sobre a morte das crianças foi retomada, mas até o momento, sem informações novas.
Relembre o caso
4/9/2017 - Encontrados em Novo Hamburgo corpos de duas crianças que foram esquartejadas. O caso é comandado pelo delegado Rogério Baggio.
7/9/2017 - Com informações do Instituto-Geral de Perícias (IGP), a polícia descobre que os restos mortais encontrados no matagal eram de duas crianças — um menino, com idade entre 8 e 9 anos, e uma menina, com idade entre 10 e 12 anos.
8/9/2018 - Distante 400 metros do primeiro local, demais partes dos corpos das vítimas são achadas.
28/9/2017 - Perícia confirma que os corpos eram de duas crianças irmãs, filhas da mesma mãe.
27/12/2017 - Após assumir o caso na segunda metade de dezembro, durante férias do delegado Rogério Baggio, da Delegacia de Homicídios de Novo Hamburgo, Fermino prende o líder de um templo satânico e de dois seguidores em um sítio na região metropolitana de Porto Alegre.
3/1/2018 - Polícia Civil divulga a prisão de três pessoas, que ocorreu em 27 de dezembro.
8/1/2018 - Fermino afirma que solucionou o crime por uma "revelação de Deus". Durante entrevista ao programa Timeline da Rádio Gaúcha, o delegado disse que é "servo de Deus" e que profetas teriam indicado os caminhos para a investigação, inclusive apontando quem ele deveria ouvir. No mesmo dia, Chefe da Polícia Civil convoca reunião para avaliar "técnica policial" empregada no inquérito.
10/1/2018 - Delegado Baggio volta das férias e reassume o caso das crianças esquartejadas.
11/1/2018 - Defesa do líder de templo satânico alega que inquérito não tem provas técnicas.
7/2/2018 - Reviravolta. Pela manhã, Polícia Civil informa que o depoimento de uma testemunha levou a uma reviravolta no caso. Segundo o delegado Baggio a apuração do caso "voltou à estaca zero". Durante a tarde, Justiça manda soltar os cinco suspeitos presos e revoga as prisões preventivas dos dois que ainda eram considerados foragidos. O delegado Baggio informa ainda que a polícia não tem mais convicção de que as mortes tenham ocorrido em um ritual satânico.
9/2/2018 - Cogepol solicita à Justiça o afastamento de Fermino. Pedido foi atendido no dia 9, mas a informação só foi divulgada no dia 15 pelo chefe da polícia, delegado Emerson Wendt.
2/3/2018 - Polícia pede mais prazo no caso das crianças esquartejadas.
16/3/2018 - Cogepol indicia delegado Moacir Fermino.
26/3/2018 - MP denuncia delegado Fermino, um policial de Novo Hamburgo e um informante.
29/3/2018 - Justiça aceita denúncia e três acusados, incluindo delegado Fermino, se tornam réus.
04/04/2018 - Justiça nega pedido de liberdade do réu Paulo Sérgio Lehmen, o único que segue preso.
22/05/2018 - Policial Marcelo Cassanta, também réu, diz que assinou relatório a pedido do delegado Moacir Fermino.