Sócia de um atacado comercial em Viamão, a empresária V. atendeu na noite de segunda-feira (16) o telefonema que nenhuma mãe quer redceber. "Tia, a Polícia levou o seu filho, algemado", disse um rapaz, amigo do seu filho de 17 anos. Só que era ainda pior que uma prisão inesperada. Não eram policiais e, sim, criminosos os três homens que colocaram o adolescente algemado em um veículo e sumiram. Era o início de um pesadelo que só terminou 24 horas depois, com a libertação do jovem, em meio a uma intensa mobilização policial. Confira, abaixo, a entrevista que a comerciante concedeu a GZH. Os nomes são preservados a pedido das vítimas.
Como está o seu filho?
Traumatizado. Não pode ficar sozinho. Se toca o telefone, ele se assusta. Pudera, ficou algemado e encapuzado por 24 horas.
Ele foi atraído para uma emboscada ao anunciar carro para vender?
Sim. O suposto interessado em comprar o Golf ficou 15 dias em negociações. Eles se ligavam a toda hora. O sujeito mandava mensagem de bom dia, perguntando se "o nosso carro ainda está pra negócio". Ficaram quase amigos. O homem alegava que tinha de vender o automóvel dele, para comprar o do meu filho. Até que na segunda-feira marcaram de se encontrar no Lago Tarumã. Eu não sabia. Se soubesse, não teria deixado ir, naquele lugar escuro, à noite, procurar gente que ele não conhece. Aí ele foi com um amigo. Ficaram no banco de uma praça, esperando o tal comprador chegar.
Como foi o sequestro?
O meu filho colocou o celular para carregar, no carro. Aí, quando foi checar umas mensagens, encostou um Fluence e saíram três homens, gritando "Polícia". Algemaram ele e botaram no veículo, indo embora. O amigo viu tudo e me ligou. "Não foi polícia, não faz nenhum sentido, meu filho não tá envolvido com drogas ou rolos", pensei na hora. Aí acionei BM, Guarda Municipal e foi tudo muito rápido. Foram 24 horas de correria e pânico, até a Polícia Civil resolver o caso.
A senhora achou que iria reavê-lo?
Eu tinha perdido as esperanças. Eles mandaram uma mensagem logo depois do sequestro. Não pediram nada, só falaram que iriam nos contatar de novo. E não ligaram mais. Fiquei grudada no telefone, nada. No outro dia, por volta das 20h, umas 24 horas depois do sequestro, tocou meu telefone. Era um número estranho, mas atendi. "Mãe, eu tô vivo", disse meu filho, ligando de um celular emprestado. "Me soltaram, eu tô no Parque dos Anjos, em Gravataí". Aí que soube que tinha ficado todo o tempo algemado e encapuzado. Mas não agrediram ele, graças a Deus. Sempre tem a mão de Deus na hora do desespero, né. Ele foi solto porque a Polícia estava por chegar no cativeiro, acredito.
O seu filho tem inimizades que pudessem justificar o sequestro? Afinal, não pediram resgate. Ele namorou alguém ligado a criminosos?
Ele não tem inimizades, pelo menos nunca me comentou. Já teve várias namoradas, mas nenhuma que eu soubesse que tem ligação com bandidos. Mas a gente nunca sabe, né. Talvez ele não saiba e tenha andado com alguém que era desse meio. Só sei que ele não bebe e nem fuma. E que agora está salvo.