Diante de uma mesa de avaliadores e centenas de espectadores, 40 startups se apresentaram nos palcos do South Summit Brasil entre quarta (4) e esta sexta-feira (6), em Porto Alegre. As selecionadas da Competição de Startups já tinham passado por uma peneira acirrada — foram cerca de mil inscritos de 76 países diferentes — e tiveram a oportunidade de fazer um pitch sobre seu negócio durante o evento de inovação, realizado pela primeira vez fora da Europa.
GZH acompanhou os bastidores da participação de duas startups gaúchas: a Pix Force e a Trashin. Durante os três dias de programação, registramos seus esforços para conquistar um troféu e, principalmente, a atenção de possíveis clientes e investidores.
Daniel Moura foi direto do aeroporto para o Cais Mauá. Ele pegou um avião às 6h de quarta-feira, no Rio de Janeiro, e se encontrou com a equipe no estande da empresa no South Summit, onde deixou sua mala de rodinhas.
No tempo que morou no Sul, o carioca de 37 anos cofundou e se tornou CEO da Pix Force, startup que faz softwares para a análise de imagens. Com inteligência artificial e machine learning, os programas da empresa interpretam automaticamente fotos e vídeos para transformá-los em informações e dados.
O empresário Carlos Bier Johannpeter foi um dos primeiros que pararam na frente do estande de não mais que dois metros quadrados. E ali mesmo, no corredor abarrotado de gente, Daniel também conversou com um representante da Equatorial. Teve poucos minutos para apresentar a experiência da empresa no setor — a Pix Force desenvolveu recentemente um projeto para a CPFL Energia com um sensor acoplado a um carro para identificar árvores que precisam de poda para não gerar prejuízos no próximo temporal.
Trocaram cartões e Daniel o convidou a visitar a sede da startup no Instituto Caldeira, no 4º Distrito.
— Apesar de rápido, fiquei bem entusiasmado — conta. — A gente não vai fechar nada agora, mas aqui as portas se abrem para aprofundar as conversas depois.
Enquanto isso, o cofundador e diretor comercial da Trashin, Renan Vargas, discursava no painel sobre o papel do ESG (práticas ambientais, sociais e de governança das empresas) na transição de uma economia verde. Fundada em 2018, essa startup gaúcha atua desde o recolhimento de resíduos até a reciclagem e a fabricação de novas mercadorias. Além de se tornar mais conhecida, uma das principais metas no evento era se reunir com fundos de impacto socioambiental.
As reuniões podiam ser marcadas de maneira tradicional (boca a boca) ou pelo aplicativo do South Summit, onde se combinava hora e local em um dos espaços do evento. Uma dessas áreas era o 1:1, uma grande tenda instalada entre os armazéns do cais, com 29 mesas brancas redondas numeradas. Foi ali que Daniel, da Pix Force, conversou com gente da fábrica de tratores John Deere e da divisão de inovação da Marcopolo.
Em meio às climatechs
Mas o lugar escolhido pelos sócios da Trashin para a primeira reunião formal foi o barco Cisne Branco. Ancorada ao lado dos armazéns, a embarcação de turismo foi transformada em Business Lounge durante o evento, um espaço exclusivo para executivos.
O encontro ocorreu no andar inferior, no nível da água. Renan e o sócio Sérgio Finger, CEO da startup, receberam representantes da aceleradora Grow+ e do veículo de corporate venture capital da Irani Papel e Embalagem. O objetivo era conseguir um investimento.
Quando estavam sentados embaixo de uma janela com vista para o Guaíba, o investidor perguntou:
— O que vocês esperam da Irani?
Além do suporte financeiro, a Trashin está interessada em smart money (capital intelectual). Como a Irani é uma das principais indústrias nacionais de embalagens sustentáveis, a startup quer também auxílio para estruturação operacional e uma conexão comercial.
Quando dá 16h, Renan deixa a mesa para ir até o espaço The Next Big Thing, onde faria sua participação na competição de startups. Os finalistas foram divididos em cinco áreas: fintech e e-commerce, o futuro do trabalho, indústria 5.0, soluções digitais e, no caso da Trashin, climatech.
Renan subiu ao palco diante de 10 avaliadores e mais de 700 espectadores. O pitch seria realizado em inglês, com tradução simultânea acessível no aplicativo de celular do evento. Ele teria três minutos para apresentar o negócio, cronometrados. Depois, mais dois minutos para responder a perguntas dos jurados.
Na sua fala, destacou que apenas 4% dos resíduos sólidos do Brasil são reciclados — “o que é um grande problema, mas uma grande oportunidade”. Já no caso dos clientes que contratam seu serviço, 74% dos resíduos acabam sendo aproveitados.
Saiu com a impressão de que as startups focadas em eficiência energética seriam grandes concorrentes. Destacou:
— Mas só de estar no meio de tanta startup reconhecida em todo o mundo, estamos felizes.
Disputa na indústria 5.0
O pitch da Pix Force foi marcado para quinta-feira de manhã, no grupo da indústria 5.0. Mas, antes, Daniel tomou café da manhã com o secretário de Inovação da Capital, Luiz Carlos Pinto, em um restaurante do Cais Embarcadero.
— Eu quero saber como a gente pode colaborar com a cidade — disse Daniel, sentado ao lado do secretário.
O governo quer chamar startups para pensar em soluções inteligentes para velhos problemas. Um exemplo trazido por Luiz Carlos é a identificação de focos de lixo na cidade — Daniel já imagina algumas formas de utilizar análise de imagem para auxiliar.
O CEO da Pix Force ainda dá uma volta pelos corredores, conversando com potenciais parceiros, e some por uns minutos do radar da equipe. Paola Lazzini Pires de Souza, coordenadora de vendas da startup, comenta sobre a calma do chefe minutos antes do pitch.
— Se fosse eu, estaria tremendo.
Daniel não parecia mesmo nervoso. A única coisa que admitiu lhe deixar desconfortável foi o tempo escasso para falar — queria pelo menos 10 minutos. Ele apresentou a Pix e respondeu a perguntas dos jurados. Uma avaliadora questionou o porquê de bandeiras da Finlândia e dos Estados Unidos na apresentação. É onde a Pix Force tem escritórios, além de Porto Alegre, explicou (um dos fundadores e sócios mora na Europa). Na saída do palco, deu entrevista para os canais da prefeitura de Porto Alegre.
Perguntei se ele já estava ficando cansado da rotina do evento.
— No segundo dia, a gente já fica um pouco. Mas como são três, tem que procurar um café, recarregar as energias. Amanhã é o último, não dá para parar — respondeu.
No final da tarde, a organização divulgou as 10 selecionadas para a etapa decisiva da competição de startups, incluindo três gaúchas: Yours Bank, Aprix e Pix Force (as últimas três, gaúchas).
A Trashin não foi para a final, mas seguiu se reunindo com potenciais investidores e clientes. Entre outros, bateram um papo com representantes de Panvel e Renner, com investidores como Potencia Ventures e Bossa Nova e deram entrevista para uma emissora de TV.
Pix na finalíssima
Os finalistas da competição apresentaram novamente seu pitch na manhã desta sexta-feira, agora no palco principal do evento, no espaço Arena Stage. Daniel Moura e os outros selecionados aguardavam atrás do palco, e subiam já com o microfone direcional ao ouvir seu nome. Ele foi um dos últimos.
O CEO da Pix Force apresentou o mesmo pitch, mas as perguntas foram diferentes. Um dos jurados questionou se, apesar de poder atender vários segmentos, pode-se dizer que a startup tem um foco. Os principais clientes, hoje, são dos setores elétrico, de óleo e gás e mineração.
“O momento mais aguardado”, nas palavras da mestre de cerimônias, o anúncio dos vencedores da Competição de Startups começou às 15h35min, no mesmo palco onde ocorreu a última rodada de apresentações. O espaço Arena Stage estava tão lotado que não consegui me aproximar de Daniel, na quarta fileira. Perguntei por mensagem no WhatsApp se agora estava ansioso. "Nem tanto", escreveu. “A vitória mesmo foi participar.”
Ele precisou levantar da cadeira logo no anúncio da primeira categoria. A Pix Force levou o prêmio de startup mais inovadora e disruptiva. Daniel abraçou os companheiros da equipe e subiu com sorriso aberto ao palco para ser cumprimentado por autoridades e pelos presidentes do South Summit no Brasil e na Espanha.
Para ele, foi emocionante esse momento, principalmente, por ter “tanta gente que torce pela Pix Force junto”. Levaria para o escritório da startup o troféu, uma muda de pitangueira dentro de uma caixa de madeira. O resultado do South Summit precisará ser, literalmente, regado.
— É um prêmio que não pode morrer — diz Daniel.