O último dia de South Summit, nesta sexta-feira (6), terminou com a avaliação, por parte de frequentadores, de que o evento cumpriu o que prometeu: reunir em um local grandes nomes da inovação mundial e estabelecer pontes entre empreendedores e integrantes de empresas nacionais e internacionais de peso. Tudo em uma localização de encher os olhos: à beira do Guaíba.
Entre quarta (4) e sexta-feira (6), mais de 20 mil pessoas de mais de 50 países circularam pelo Cais Mauá, segundo a organização. Entre os frequentadores, estavam 500 investidores, 2,2 mil estudantes e representantes de 8,5 mil empresas e de 3,3 mil startups. Em suma, indivíduos com alto capital e possibilidade de movimentar a economia.
Quem circulou pelos armazéns de manhã e de tarde citou a GZH, ainda, momentos de desorganização do evento para além da forte chuva - como a falta d’água e luz no primeiro dia, poucas vagas em estacionamento, internet intermitente, reduzido número de food trucks e falta de acessibilidade.
Este terceiro dia de evento foi mercado pelo sol e temperatura na casa dos 20ºC. A circulação foi mais tranquila, com armazéns menos lotados do que em dias anteriores. A palestra de Nina Silva, CEO do Movimento Black Money, era uma das mais aguardadas e lotou o Arena Stage, palco principal do evento.
Ao longo dos três dias, a fundadora do Instituto Educacional Flores-Ser e coordenadora da Câmara de Relações Internacionais do Conselho Regional de Administração do Rio Grande do Sul (CRA-RS), Ana Paula Bohn, teve reuniões em português, inglês e espanhol nas quais projeta possibilidades de fechar negócios no futuro.
— Veio gente qualificada e com potencial de geração de negócio. Tem milhares de pessoas de mais de 50 países. Só não fez networking quem não quis. O Sul já é uma região de inovação, mas normalmente o que é relacionado ao assunto vai para São Paulo. Com este evento, o Sul entra. E isso abre a mentalidade das pessoas daqui para inovação. Em Porto Alegre, as pessoas vão enxergar a necessidade de investimento para inovação. Teve alguns problemas no primeiro dia, mas agora está mais organizado e, para 2023, vai ser ainda melhor — acredita.
Das quatro feiras frequentadas neste ano, o South Summit foi, “disparado, a melhor”, diz Leandro Volanick, CEO da Manfing, empresa do Paraná que usa ciência de dados para antever o perfil de compras de clientes. Em uma estante no setor de startups, ele comemorava o grande número de relacionamentos que iniciou nos últimos três dias.
— Superou as expectativas pela qualidade do público. Quem está aqui é decisor. Gostei da localização com pegada ecológica, achei o por do sol sensacional. O espaço para startups poderia ser maior para circulação, mas tudo bem — avaliou o empreendedor.
Para além de estabelecer novos relacionamentos, o South Summit permitiu retomar laços entre empresas que, durante a pandemia, mantinham contato apenas por videochamadas e mensagens do WhatsApp, avalia Laura Sperotto, cofundadora da Duo+ Empreender, empresa que existe há seis anos em Porto Alegre e oferece treinamentos e consultoria para empreendedores.
— Fiz novos contatos, mas o que senti de mais impactante foi reestabelecer conexões que já existiam. Acho que esse evento vai dar uma acelerada no setor, não só em Porto Alegre, mas também no Rio Grande do Sul e no Brasil. Vai ser que nem energético: todo mundo está adquirindo conhecimento e fazendo newtorking — diz Sperotto, citando que o bloco de notas do celular está cheio de observações ouvidas nas palestras.
A melhora na organização foi gradual ao longo dos dias, diz Maykel Sábio, analista-sênior de planejamento da marca de calçados Arezzo. Ele relata que o primeiro dia foi mais “difícil” com chuva, lotação e problemas na acústica, mas que, na quinta e sexta-feira, “estava tudo 100%”. Sábio ficou satisfeito com o networking, os aprendizados em palestras e o contato com startups - a Arezzo possui uma incubadora.
— Sempre que se junta muitas empresas de ramos diferentes, há uma troca de expertise. Uma startup de e-commerce conversa com uma startup de logística e entende o trabalho da outra. Também vejo que um evento desse porte em Porto Alegre é positivo para empresas daqui. Normalmente, se o evento é longe, vão apenas diretores e líderes. Com um evento grande aqui, empresas levaram também analistas e outros funcionários, o que ajuda a dispersar a cultura de inovação por toda a empresa, não só de cima para baixo - analisa.
Um paralelo com outros eventos do gênero mostra que o South Summit trouxe algumas tendências presentes no Exterior, destaca Bruno Zanchet, investidor na Wow Aceleradora de Startups e empreendedor. Ele compara o evento em Porto Alegre à SWSX, famosa feira internacional de inovação em Austin, Texas, nos Estados Unidos.
— Guardadas as proporções, o South Summit foi bem legal. Algumas tendências chegaram aqui, como as startups com serviços online-to-offline (empresas que oferecem serviços físicos através da tecnologia, como Uber), mas outras não, como as criptomoedas, que dominaram o debate da SWSX — diz.
Zanchet prevê impacto no setor de empreendedorismo local - diz que a criação de novas startups não é “tendência”, mas “mudança geracional”. Questionado se Porto Alegre pode se tornar uma nova Austin ou Coreia do Sul, ela relativiza:
— Acho positiva a visibilidade que o evento traz. As empresas grandes estão aqui buscando startups. É bom mirar alto, mas ainda tem uma diferença de patamar — afirma Zanchet.
O acolhimento dos funcionários foi positivo, mas o evento pecou na acessibilidade, relata Paloma Bustillo, do comercial do Senac-RS. Na tarde desta sexta-feira (6), ela tinha dificuldades em se deslocar na parte externa do Cais em sua cadeira de rodas, onde o piso era tomado por pedras de brita.
— Porto Alegre poderia organizar melhor a acessibilidade. Lá dentro (dos armazéns) é bom, mas aqui fora é bastante difícil, praticamente não dá para sair sozinha. Mas fui bem recebida — diz Bustillo.
Uma positiva consequência de sediar, em Porto Alegre, um dos maiores eventos mundiais de empreendedorismo é jogar luz para o setor de inovação e fortalecer a cultura do empreendedorismo no Brasil, diz Ricardo Razera, fundador e CEO da Vanellusrad, healthech que oferece um monitorador da exposição de trabalhadores da saúde a raios-x. Ele apreciou as mesas com empreendedores que contaram suas histórias de fracasso e posterior sucesso.
— O mais importante foi fazer startups se sentirem importantes. É fácil desistir quando se empreende. Esses eventos mostram que tem luz no fim do túnel e que a gente não deve desistir. Conheci pessoas relevantes na minha área, e acho que pode ter mudança de cultura. Esses eventos chamam a atenção para o setor e motivam as pessoas a abrirem startups — disse Razera.
Enquanto relatava suas impressões sobre o South Summit à beira do Guaíba, Razera aguardava o fim de uma palestra para se apresentar ao porta-voz de um famoso hospital paulista. A certa altura, o diálogo com o repórter foi educadamente entrecortado:
— Te peço desculpas, mas preciso sair correndo agora, quem eu estava esperando se liberou e está ali — disse.
Razera saiu correndo e, educadamente, abordou o porta-voz do hospital. Com um sorriso no rosto, estendeu a mão e começou uma conversa. Começava, ali a promessa de, no futuro, fechar negócio.