A temperatura média da Terra aumentou em mais de 1,5°C nos últimos dois anos, acima do limite simbólico estabelecido pelo Acordo de Paris para combater as mudanças climáticas, anunciou nesta sexta-feira (10) o serviço europeu de observação Copernicus.
Conforme previsto há meses, 2024 foi o ano mais quente já registrado desde que as estatísticas começaram em 1850, confirmou o Serviço de Mudanças Climáticas do observatório europeu.
É improvável que este ano quebre esses recordes novamente, mas o British Met Office alertou que 2025 pode ser um dos três anos mais quentes já registrados.
Em 2025, ano marcado pelo retorno de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos, os países também devem anunciar seus novos compromissos climáticos, atualizados a cada cinco anos no âmbito do Acordo de Paris de 2015.
No entanto, os esforços de redução de gases de efeito estufa estão diminuindo em alguns países ricos: apenas -0,2% nos Estados Unidos no ano passado, de acordo com um relatório independente.
O aquecimento global atual não tem precedentes em pelo menos 120.000 anos, de acordo com cientistas.
Aviso
Este é um "aviso sério", diz Johan Rockström, diretor do Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático.
— Tivemos uma prévia de um mundo de 1,5°C, com sofrimento e custos econômicos sem precedentes para as pessoas e a economia global, devido a eventos extremos reforçados pela atividade humana, como secas, inundações, incêndios e tempestades — disse ele à agência de notícias AFP.
Por trás desses números já há uma série de desastres agravados pelas mudanças climáticas: 1.300 mortos em junho durante ondas de calor extremo durante a peregrinação a Meca, inundações históricas na África e na Espanha, furacões violentos nos Estados Unidos e no Caribe.
Em termos econômicos, desastres naturais causaram US$ 320 bilhões em perdas no mundo todo, de acordo com a resseguradora Munich Re.
— Todos os anos da última década foram um dos 10 mais quentes já registrados — alerta Samantha Burgess, vice-diretora do Serviço de Mudanças Climáticas do Copernicus (C3S).
Os oceanos, que absorvem 90% do excesso de calor causado pelos humanos, também continuaram a aquecer, atingindo um recorde no ano passado.
A média anual de suas temperaturas de superfície, excluindo áreas polares, atingiu um nível sem precedentes de 20,87° C, quebrando o recorde de 2023.
Em nossas mãos
Além dos impactos imediatos das ondas de calor marinhas sobre os corais ou peixes, esse superaquecimento duradouro dos oceanos, o principal regulador do clima da Terra, afeta as correntes marinhas e atmosféricas.
Marés mais quentes liberam mais vapor de água na atmosfera, fornecendo energia adicional para tufões, furacões ou tempestades.
No ano passado, o mundo testemunhou o fim do fenômeno natural El Niño, que induz o aquecimento global e o aumento de certos eventos extremos, e uma transição para condições neutras ou o fenômeno oposto, La Niña.
A Organização Meteorológica Mundial alertou em dezembro que o episódio seria — curta e de baixa intensidade — e insuficiente para compensar os efeitos das mudanças climáticas.
— O futuro está em nossas mãos: ações rápidas e decisivas ainda podem mudar a trajetória do nosso clima futuro — disse Carlo Buontempo, diretor do Serviço de Mudanças Climáticas do Copernicus.
A COP29 em Baku, a última grande conferência climática da ONU, deu origem em novembro a uma nova meta para o financiamento climático e permaneceu quase em silêncio sobre as ambições de redução de gases de efeito estufa e, em particular, a eliminação de combustíveis fósseis.