Nesta quinta-feira (27), completam-se 120 dias da assinatura do contrato para revitalização do Cais Mauá, em Porto Alegre. Nos canteiros de obra, porém, os trabalhos estão paralisados. O consórcio responsável por dar cara nova ao local já informou à Superintendência do Porto do Rio Grande (SUPRG) que o cronograma está 60 dias atrasado. E a expectativa é de pelo menos mais 60 dias para a retomada dos serviços.
O consórcio Cais Mauá confirmou ao GaúchaZH o adiamento de mais dois meses e disse que uma assembleia geral será feita hoje para definir um novo conselho administrativo e fiscal e o cronograma das obras.
Desde uma operação da Polícia Federal em abril que apurou fraude no fundo que gerou recursos para a revitalização — não mais integrante da gestão do consórcio —, não há movimentação de máquinas ou operários no Cais. O consórcio reconhece que a operação provocou recuo de investidores. Como indicativo de reformas, apenas uma cerca de segurança com pilares de concreto dividindo ao meio a via interna — o objetivo seria separar o canteiro de obras do espaço para circulação de veículos autorizados e de pessoas com destino ao catamarã.
O estacionamento nas docas, que chegou a ficar proibido por um tempo, foi liberado para membros de um clube. O comunicado enviado aos sócios na segunda-feira (25) não menciona paralisação dos serviços, mas a proibição se dava por causa das obras.
GaúchaZH constatou que os armazéns localizados entre a entrada principal — em frente à Rua Sepúlveda — e o atracadouro do catamarã estão fechados com cadeados (com exceção de um dos prédios, que está com as portas entreabertas e vazio). Do outro lado, em direção à Usina do Gasômetro, há movimentação em apenas um armazém, que sedia eventos em dia de jogos da Copa.
Quem circula pelo local relata que não percebe movimentação de operários ou máquinas desde a ação da PF.
Ao confirmar o atraso de 60 dias, a SUPRG acrescenta que "a fiscalização do contrato está atuando para melhores esclarecimentos e cobranças contratualmente previstas", mas não dá mais detalhes, dizendo que isso cabe ao consórcio Cais Mauá.
O que diz o consórcio
Após contato da reportagem, o Consórcio Cais Mauá apresentou um posicionamento dividido em sete itens:
"1- Realização da assembleia geral extraordinária (nesta quinta-feira), que vai definir um novo conselho administrativo e fiscal.
2- Será definido um novo cronograma de obras;
3- A ação da Polícia Federal, mesmo não tendo atingindo a obra em si nem o novo gestor, provocou um recuo dos investidores;
4- Com a mudança do sistema de gestão, está sendo estruturado um novo veículo que vai captar os recursos, a REAG está desenvolvendo este novo veículo para captar recursos privados;
5- Na semana que vem haverá a abertura dos envelopes para seleção da empresa que vai realizar o restauro dos armazéns;
6- Está sendo concluída remediação ambiental, com o retorno dos testes feitos com as provas retiradas de áreas contaminadas;
7- O cronograma de obras realmente está atrasado e deve atrasar mais dois meses."
Denúncia de deterioração do Cais
A Associação Amigos do Cais do Porto (Amacais), que denunciou a deterioração do cais ao Ministério Público de Contas (MPC) em novembro de 2017, diz ter dificuldades para acompanhar a obras. A diretora jurídica Jacqueline Custódio afirma que falta transparência:
— É muito difícil saber qualquer coisa em relação ao que está acontecendo, a gente nunca teve acesso.
Novo modelo de administração
A troca no comando da revitalização do Cais Mauá, em Porto Alegre, ocorreu em fevereiro. A partir disso, um novo modelo de administração foi adotado, em que uma empresa fica responsável pela obra e outra pela gestão legal do fundo de investimentos destinado a custear o empreendimento.
A Reag, nova gestora da obra, concentra sua atuação no desenvolvimento dos projetos, nas obras, na comercialização e na captação de recursos privados. A empresa Lad Capital passará a responder exclusivamente pela gestão legal e regulatória do fundo de investimentos.
O fundo de investimento anterior era gerido pela ICLA Trust, com sede no Rio de Janeiro, até o começo do ano. Já desgastada por alegações de ter provocado perdas milionárias no Tocantins devido a investimentos malsucedidos, a ICLA acabou substituída no comando do projeto na Capital pela paulista Reag Investimentos apenas dois dias antes da assinatura da ordem de início das obras.