Uma semana depois de a Polícia Federal realizar uma operação para investigar fraudes na ICLA Trust, fundo que gerenciou, até fevereiro, recursos para obra do Cais Mauá, o novo gestor do empreendimento, Vicente Criscio, diz que o impacto da operação sobre o ânimo de investidores ainda será avaliado, mas garante que nada mudou no cronograma do projeto.
Nesta quarta-feira (25), Criscio, que assumiu o cargo em março, e o presidente da nova gestora, a Reag Investimentos, João Mansur, estiveram reunidos com o chefe da Casa Civil do governo do Estado, Cleber Benvegnú. No encontro, reafirmaram ao secretário que a obra continua. Ainda no Palácio Piratini, Criscio conversou com GaúchaZH — foi sua primeira manifestação pública após a operação da PF.
Algo mudou após a operação policial? O projeto seguirá adiante?
É natural uma incerteza pelo que aconteceu na semana passada. A resposta é que não, nada mudou. O nosso compromisso é com a continuidade da obra. Viemos ao governo do Estado exatamente reafirmar esse compromisso: a obra continua. Naturalmente, a gente analisa o que está acontecendo, mas não é algo ligado diretamente à nova gestão. Estou aqui há 35 dias no meu papel, trabalhando diretamente na continuidade da obra sem mais nenhum outro atropelo, a gente espera.
A assembleia dos cotistas, realizada na terça-feira, não aprovou as contas da antiga gestora. O que isso impacta no projeto?
A assembleia de cotistas decidiu fazer uma nova auditoria com um pouco mais de detalhes nessas contas. A decisão é não aprovar por enquanto, até que haja uma análise mais exaustiva sobre o que aconteceu.
A primeira parte da obra precisa de R$ 140 milhões. Esse dinheiro já está disponível?
O dinheiro não está disponível numa conta corrente. O que a gente tem, naturalmente, são investidores que manifestaram interesse em participar desse projeto. O que a gente precisa avaliar e reavaliar é qual o impacto que esse tipo de ação pode ter causado no ânimo desses investidores. A gente, por enquanto, acredita que não mudou nada. Para o curto prazo, são essas ações que estamos fazendo agora, remediação ambiental, licitação do restauro, isso continua como o programa original, cronograma original. A intenção é dar continuidade ao cronograma que já temos redesenhado desde o momento que a gente entrou no projeto.
Quantos recursos necessários estarão disponíveis quando as obras de restauração começarem?
Em um processo como esse, o dinheiro não entra 100% na conta e fica lá parado. Ele vem vindo conforme os interesses manifestados anteriormente e vão se materializando em cotas dentro do fundo. Temos batido muito na tecla de que não há nada errado com o Cais, e isso foi colocado até pelo delegado (Eduardo) Bollis. Eu diria até, talvez de uma forma mais simplista, que nesse processo todo o Cais é vítima. O projeto não é alvo de nenhum inquérito ou de investigação. Entraram lá dentro (do escritório do cais) para se identificar se havia alguma ramificação do inquérito, mas foi colocado claramente que ele não era réu em nada disso. Então, a gente acredita que isso não interfira em todo o processo de captação daqui para a frente. Por isso que o processo continua, expectativas continuam, a equipe que está gerenciando as obras continua, as atividades dessa equipe continuam. Não havia nenhuma expectativa antes da gestão do cais, pelo menos a minha, de que num certo momento ia pingar R$ 140 milhões na conta. Não é assim que funciona. O que a gente tem é uma entrada de recursos planejada que é para fazer frente a um cronograma da obra entre 18 e 21 meses, uma antecipação aos 24 meses do cronograma original. É nisso que estamos trabalhando.
O consórcio anunciará as empresas que vão executar a restauração do cais. Esses nomes já foram escolhidos?
Esse processo licitatório da restauração é complexo, delicado até, pela natureza dos equipamentos que vamos restaurar, dos armazéns. Enviamos carta-convite na semana passada para umas oito empresas. Tem um processo ocorrendo através da nossa agenciadora de obras, que manda um edital com especificações técnicas, aí tem um prazo para recebimento das propostas. No cronograma original, o início do restauro ocorrerá entre junho e julho. Isso se a gente não tiver nenhuma análise diferente do esperado da parte de remediação ambiental, que é muito delicada. Esse projeto é de um mês, que está terminando agora. Ao final do projeto, a gente precisa fazer uma análise, já enviamos para laboratório, para saber se a área está totalmente limpa. Até agora, o que a gente tinha era o movimento de poucas pessoas. Não era ainda o momento de movimento de trator e retroescavadeiras.
O projeto original, com todas as próximas fases, segue mantido?
O projeto de captação não é dividido em etapas. É um processo que ocorre, até por parte da gestora que cuida dos fundos, ocorre independente das fases. Naturalmente, o desenho das novas fases e até o potencial de valor dessas fases impactam até para saber quanto vale esse empreendimento como um todo. Mas o processo continua normal. Não há nenhuma mudança nisso.