A Polícia Federal (PF) deflagrou, na manhã desta quinta (19), operação para investigar supostas fraudes em fundo de investimentos que, até fevereiro passado, era o responsável por gerenciar os recursos para a obra de revitalização do Cais Mauá, em Porto Alegre.
Batizada de Gatekeeper, a operação vem após investigação que começou em 2013 sobre aportes feitos por um fundo de previdência privada gaúcho em um fundo de investimentos. Conforme a PF, este último aplicava os valores em empresas de construção civil sem que houvesse a devida execução de obras públicas. Segundo apuração de GaúchaZH, o fundo investigado é a ICLA Trust, com sede no Rio de Janeiro.
De acordo com a PF, não há, pelo menos até o momento, agentes públicos ou políticos envolvidos no caso. Foram cumpridos nove mandados de busca e apreensão, sendo cinco em Porto Alegre e quatro no Rio de Janeiro, além de busca e apreensão de três veículos na capital gaúcha e bloqueio de ativos em nome de 20 pessoas físicas e jurídicas.
São apuradas possíveis movimentações de recursos para pessoas ligadas à administração, inclusive com a aquisição de bens de alto valor, como veículos de luxo.
A PF não divulgou os nomes dos investigados e nem os valores que teriam sido desviados. De acordo com o titular da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros, delegado Eduardo Bollis, a investigação começou em 2013 com denúncia feita por um fundo de pensão gaúcho sobre investimentos suspeitos de outro fundo em termelétricas. A apuração levou ao fundo que gerenciava o Cais Mauá — mas não teria havido prejuízo ao projeto de revitalização, segundo ele.
— Não há nenhum elemento que aponte que os fatos que estamos investigando tiveram desdobramentos nas obras — disse.
GaúchaZH entrou em contato com o consórcio Cais Mauá, responsável pela obra de revitalização do antigo porto.
Confira o posicionamento da empresa, que não esclareceu se as investigações modificam o cronograma da obra de alguma forma:
O Fundo de Investimento em Participações Cais Mauá do Brasil Infraestrutura era administrado pela ICLA Trust Serviços Financeiros S.A. até o dia 26 de fevereiro de 2018.
A nova administração do Fundo assumiu apenas em 26 de Fevereiro de 2018 e ainda estão em curso todas as diligências e verificações jurídicas e regulatórias necessárias, além de auditoria detalhada das contas do Fundo e da empresa desde que a nova administração assumiu o Fundo.
Nome da operação
Batizada de Gatekeeper, o termo, além do significado em inglês de "porteiro" ou até mesmo "guardião", também tem uso no mercado financeiro, estando ligado a pessoas ou instituições de credibilidade que atuam em processos de análise de conformidade, verificação e certificação.
O que diz a Icla Trust
"A respeito da Operação Gatekeepers, deflagrada quinta-feira (19) pela Polícia Federal, seguindo mandados expedidos pela 7ª Vara Federal de Porto Alegre, a Icla Trust esclarece que seus advogados ainda não puderam analisar os autos, portanto, não podem se pronunciar, por ora. Porém, a empresa ressalta que está colaborando com as investigações."
Cais teve mudança de administração em fevereiro
Há dois meses, pouco antes do início das obras de revitalização, a gestão do fundo de investimentos e da carteira de investidores no projeto mudou de mãos. Deixa de ser realizada pela ICLA Trust, com sede no Rio de Janeiro, e foi transferida para a Reag Investimentos, localizada em São Paulo, que passou a ser responsável pela captação de recursos para a continuidade da revitalização.
A decisão havia sido tomada ainda em dezembro, em assembleia dos cotistas do fundo, e previa um período de transição de dois meses entre os antigos gestores e os atuais. Durante esse período, a Reag realizou uma auditoria para averiguar a situação do empreendimento e confirmar a troca de comando. A obra foi iniciada em 5 de março.