Mau-cheiro, sacolas rasgadas, animais invadindo cestos e muito lixo acumulado. É em meio a estas condições que a enfermeira Fabiana Martins Proszeck, de 47 anos, sai de casa para o seu trabalho, em um hospital de Porto Alegre, desde o final de outubro, quando a coleta de resíduos foi interrompida em Viamão.
Moradora da Rua Joelma, no bairro Morro Grande, a profissional da saúde conta que, além do serviço não ser realizado, os moradores ainda estão enfrentando dificuldades para fazer o descarte, tendo que recorrer à ajuda externa para fazer o serviço.
— O (caminhão de coleta do) lixo não passa, muito menos nos três dias prometidos por semana. É alimento velho espalhado pelo chão e pelas ruas. Tem gente que nos ajuda, mas não estamos dando conta do problema. Isso está muito inconveniente, sendo que somos cobrados anualmente em R$ 221 para que a coleta seja feita. Está insuportável — conta.
A situação se repete nos bairros Águas Claras e Capão da Porteira.
A estimativa da prefeitura é de que o volume de lixo acumulado na zona rural de Viamão seja recolhido até o domingo (19). Com isso, o serviço será normalizado nestas regiões após o longo período de espera.
A garantia foi dada pelo diretor-presidente da empresa Brisa Transportes, Vinicius Cardoso. A companhia assumiu o serviço em Viamão ainda em 2024, após a rescisão de contrato do Município com a antiga empresa, a Coleturb.
O problema teve início há seis meses, mas se agravou entre novembro e dezembro, segundo os moradores. O metalúrgico Evandro Portella, 33 anos, mora em Águas Claras e tem comércio às margens da RS-040, onde há bastante lixo acumulado.
Portella relata que, em muitos casos, os caminhões não estão entrando em ruas mais estreitas, levando os moradores a direcionarem os resíduos para pontos específicos. Na região, segundo o metalúrgico, os coletores passaram apenas uma vez desde a virada de ano.
— O problema começou a piorar em outubro aqui. Já tinha em junho, mas achamos que seria algo da enchente. O antigo prefeito até disse que era por causa da empresa antiga, mas não mudou nada até agora. Agora, é uma semana, 15 dias sem coletar e o cheiro tomando conta. É difícil — lamentou.
O diretor da Brisa Transportes disse que a empresa está trabalhando com 12 caminhões previstos no contrato para suprir a demanda, incluindo a de lixo represado. Cardoso ainda garantiu que a limpeza da área urbana foi normalizada, porém, ainda havia pontos dos bairros Jardim Krahe e Viamópolis com lixo acumulado nas ruas.
Morador do bairro Jardim Krahe, João Manoel da Rosa, 57 anos, disse que percebeu o aumento de veículos circulando na região, mas que os caminhões ainda foram deslocados para dentro dos bairros da cidade. Com isso, o lixo nas ruas E e M acumularam.
— A gente, infelizmente, vem sofrendo com esse problema. Até achei que iria melhorar por ter sido ano de eleição, mas piorou. Tem essa nova empresa aí, que até está passando em alguns bairros, mas aqui ainda não chegou – conta.
Na noite desta quarta-feira (15), o prefeito de Viamão, Rafael Bortoletti, informou que as rotas emergenciais de limpeza da cidade serão mantidas até sábado (18), com a normalização do serviço ocorrendo já no domingo, após a realização de um mutirão de limpeza entre prefeitura e Brisa Transportes. A partir de segunda-feira, as rotas de coleta de lixo voltam à normalidade no município.
Sobre o impasse na coleta
Segundo a prefeitura, a Coleturb, empresa que fazia a coleta desde o início de 2022, começou a apresentar falhas no recolhimento a partir do segundo semestre de 2024. Em novembro, moradores começaram a relatar demora para a retirada dos resíduos, resultando em acúmulo de rejeitos nas ruas. A alegação era de que o número de caminhões disponíveis era menor do que o previsto em contrato.
Ainda em novembro, a prefeitura anunciou que iria rescindir o contrato com a Coleturb. Nesse período, conforme a população, o serviço ficou ainda mais precário.
À época, a Coleturb afirmou a Zero Hora que não faria mais a coleta completa, afirmando que não havia mais contrato vigente. A prefeitura disse que o contrato foi rompido apenas um dia antes do início do trabalho da nova prestadora.
Em 19 de dezembro, a Brisa Transportes, mediante um contrato emergencial de R$ 10,1 milhões, vigente por 12 meses, assumiu o serviço. A frequência de coleta, porém, seguia sendo alvo de reclamações por parte dos moradores de Viamão.
A nova empresa confirmou ainda em dezembro que a coleta ainda não estava normalizada. A prestadora afirmou, em 26 de dezembro, que já conseguiu atender 100% da área urbana, mas ainda não conseguia encaixar a frequência correta.