O projeto de revitalização do Cais Mauá, abalado por uma operação da Polícia Federal envolvendo o antigo gestor, vai passar por uma reformulação em Porto Alegre.
A renovação do espaço vai prosseguir sob um novo modelo de administração, em que uma empresa ficará responsável pela obra e outra pela gestão legal do fundo de investimentos destinado a custear o empreendimento. O cronograma original também será alterado — haverá um atraso no início da fase de reforma dos armazéns, cuja data não foi informada. Conforme João Carlos Mansur, presidente da Reag Investimentos, não há expectativa de atraso na entrega. Mais detalhes deverão ser divulgados nos próximos dias.
O Fundo de Investimento em Participações Cais Mauá do Brasil (FIP) era gerido pela ICLA Trust, com sede no Rio de Janeiro, até o começo do ano. Já desgastada por alegações de ter provocado perdas milionárias no Tocantins devido a investimentos malsucedidos, a ICLA acabou substituída no comando do projeto na Capital pela paulista Reag Investimentos apenas dois dias antes da assinatura da ordem de início das obras.
Apesar de a revitalização ter sido assumida por outra empresa, informações de bastidores dão conta de que investidores teriam se retraído com a repercussão das atividades da ICLA no Tocantins e da operação policial realizada em abril envolvendo essa empresa por suspeita de irregularidades — que levou ao temor de possíveis repercussões sobre o fundo de investimento formado pela ICLA, embora a PF tenha sustentado não haver, até o momento, qualquer suspeita sobre a obra no cais.
O assunto foi debatido em uma reunião da Reag com investidores na quarta-feira (16). A decisão dos novos gestores foi separar a administração do empreendimento. A Reag concentrará sua atuação no desenvolvimento dos projetos, nas obras, na comercialização e na captação de recursos privados. A empresa Lad Capital passará a responder exclusivamente pela gestão legal e regulatória do fundo de investimentos. Segundo os novos gestores, a Lad Capital é especializada nesse tipo de prestação de serviço, o que facilitaria a retomada da confiança no projeto.
— A Reag é especializada em projetos imobiliários, e a LAD, na condução da parte voltada à regulamentação do fundo — afirma Mansur sobre a vantagem de dividir a gestão. — Deveremos ter outros investidores, privados e estrangeiros — acrescenta.
Em razão das turbulências provocadas pela operação da PF, o cronograma da reformulação do Cais também deverá ser alterado. Por meio de nota, a Reag admite que "mesmo não sendo objeto de qualquer investigação, a obra deve passar por uma revisão de seu cronograma. Concluídos os testes das amostras recolhidas após a retirada das áreas contaminadas, e após revisão de cronograma, o Cais deverá iniciar a próxima etapa, que envolve infraestrutura (água, esgoto, energia, redes óticas) ao longo de 3,2 km de orla e restauro nos armazéns." Não foi informada, porém, a data em que a próxima fase deverá ter início. A expectativa anterior era de que o trabalho nos armazéns começasse ainda no início deste mês.
Em abril, agentes da Polícia Federal estiveram no Cais Mauá, em um dos braços da Operação Gatekeepers, a fim de coletar informações sobre pessoas ligadas à ICLA em razão de movimentações financeiras consideradas suspeitas. Segundo o titular da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros da PF, delegado Eduardo Bollis, foi detectada a transferência de dinheiro de diferentes fundos de investimento para a administradora em volume significativo, e o repasse desses valores para pessoas físicas e outras empresas sem justificativa aparente.