O ex-deputado federal Roberto Jefferson se entregou para a Polícia Federal (PF) na noite deste domingo (23), no Rio de Janeiro, após negociações com o ministro da Justiça, Anderson Torres. Três viaturas da PF deixaram sua casa, no município de Levy Gasparian, onde ele cumpria prisão domiciliar desde o começo do ano. O ex-deputado estaria dentro de uma delas, sendo levado à prisão.
Pela manhã, Jefferson reagiu com uma granada e tiros de fuzil à ação de agentes da PF que cumpriam mandado de prisão contra ele, em ação que deixou dois policiais feridos. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou a volta de Jefferson para a prisão em regime fechado depois que ele divulgou novos ataques ao processo eleitoral e a integrantes da Corte. Posteriormente, Moraes emitiu pedido de prisão em flagrante por dupla tentativa de homicídio em razão dos ataques contra os agentes. Karina Miranda e Marcelo Vilela, feridos na operação, estão fora de perigo.
Os agentes da PF se deslocaram até o município da Costa Verde fluminense ainda no sábado (22), para cumprir um mandado de prisão expedido por Moraes por "notórios e públicos" descumprimentos de medidas cautelares impostas a Jefferson. Em sua decisão, o ministro, cita as "ofensas e agressões abjetas" feitas à ministra Cármen Lúcia na sexta-feira (21), quando o ex-parlamentar a chamou de "Bruxa de Blair" e "prostituta arrombada".
"As inúmeras condutas do denunciado podem configurar, inclusive, novos crimes, entre eles os delitos de calúnia, difamação, injúria (arts. 138 a 140 do Código Penal), de abolição violenta do estado democrático de direito (art. 359-L do Código Penal) e de incitar, publicamente, animosidade entre as Forças Armadas, ou delas contra os Poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade (art. 286, parágrafo único, do Código Penal), além da questão discriminatória presente no vídeo de 21/10/2022?, ressaltou ainda o ministro.
O ataque de Jefferson aos policiais federais foi inicialmente comunicado pela filha dele e ex-deputada federal Cristiane Brasil. Em um vídeo publicado mais cedo, neste domingo, nas redes sociais, ela afirmou que o pai estava enfrentando os policiais a bala, e classificou a Polícia Federal como "a Gestapo do Xandão", em referência à polícia da Alemanha nazista e a Moraes. "Meu pai está enfrentando hoje, domingo, meio-dia, a Gestapo do Xandão, sozinho, a balas, pois não vai se entregar ao totalitarismo, à ditadura do Judiciário sobre a democracia", disse Cristiane no vídeo.
"Isso é só o estopim do que vai acontecer daqui para frente caso aconteça alguma coisa com meu pai. O que eu tenho para dizer para vocês é que ele não vai se entregar. Meu pai não vai se entregar. Acabou. A masmorra para ele acabou. Ninguém vai calar a voz de um inocente", afirmou. Minutos depois das postagens, a conta da ex-deputada no Twitter foi retirada do ar.
Em vídeos divulgados pelo ex-deputado, ele admitia ter atirado em direção aos policiais durante a tentativa de prisão:
— Eu não vou me entregar. Eu não vou me entregar porque acho um absurdo. Chega, me cansei de ser vítima de arbítrio, de abuso. Infelizmente, eu vou enfrentá-los.
Em outro vídeo, o para-brisa de um veículo da PF aparece estilhaçado.
— Mostrar a vocês que o pau cantou. Eles atiraram em mim, eu atirei neles. Estou dentro de casa, mas eles estão me cercando. Vai piorar, vai piorar muito. Mas eu não me entrego — afirmava o ex-deputado.
Moraes e Bolsonaro se manifestam sobre desfecho
As negociações para a rendição de Jefferson se estenderam pela tarde deste domingo (23). O ministro da Justiça, Anderson Torres, se encaminhou para a residência e negociou a entrega do ex-deputado, segundo informações da Polícia Militar, que participou do cerco. Roberto Jefferson aceitou se entregar no início da noite.
Após a prisão, Moraes se manifestou no Twitter. "Parabéns pelo competente e profissional trabalho da Polícia Federal, orgulho de todos nós brasileiros e brasileiras. Inadmissível qualquer agressão contra os policiais. Me solidarizo com a agente Karina Oliveira e com o delegado Marcelo Vilella que foram, covardemente, feridos", escreveu o ministro.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) também comentou o desfecho do caso: "Como determinei ao ministro da Justiça, Anderson Torres, Roberto Jefferson acaba de ser preso. O tratamento dispensado a quem atira em policial é o de bandido. Presto minha solidariedade aos policiais feridos no episódio".
Presidenciáveis repudiaram atos
Ao longo do dia, os candidatos que disputam o segundo turno das eleições presidenciais repudiaram as ações de Jefrerson.
Candidato do PT à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que "não é um comportamento adequado, nem normal" os disparos do ex-deputado contra agentes PF, e que a reação teria sido motivada pela criação de uma "parcela raivosa da sociedade brasileira" durante o governo do presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição.
— Já disputamos tantas eleições neste país e nunca vimos uma aberração dessa, uma cretinice dessa, que esse cidadão, que é o meu adversário, estabeleceu no país. Ele conseguiu criar neste país uma parcela da sociedade brasileira raivosa, com ódio, mentirosa, que espalha fake news o dia inteiro, sem se importar se o seu filho está vendo ou não. É um desrespeito com a população. Isso gera comportamentos como o do ex-deputado Roberto Jefferson e de outras pessoas que seguem nosso adversário — declarou Lula.
Bolsonaro também foi às redes sociais para manifestar repúdio aos ataques feitos pelo seu aliado e ex-deputado federal Roberto Jefferson à ministra Cármen Lúcia e ao que chamou de "ação armada" de Jefferson contra agentes da PF.
"Repudio as falas do Sr. Roberto Jefferson contra a ministra Carmen Lúcia e sua ação armada contra agentes da PF, bem como a existência de inquéritos sem nenhum respaldo na Constituição e sem a atuação do MP (Ministério Público)", escreveu o candidato à reeleição.