O resgate de parte da trajetória da antiga Cooperativa Vinícola Santo Antônio, publicada em duas colunas na semana passada, só foi possível graças à colaboração de dois personagens que se confundem com a história de Flores da Cunha e do setor vitivinícola na região: o pesquisador Floriano Molon — neto de José Dani, um dos fundadores da Santo Antônio — e o enólogo João Vignatti, atuante na empresa a partir de 1967 e um dos mais antigos da Serra Gaúcha.
João Vignatti — sim, ele “carrega” o universo da bebida até no sobrenome — nasceu em 1º de junho de 1936, na localidade de Santa Tereza, à época distrito de Bento Gonçalves. Graduado pela primeira turma da Escola de Viticultura e Enologia de Bento Gonçalves, criada em 1959, seu João ingressou na área sem saber bem o porquê — mas recorda ter sido algo fantástico.
Ele começou junto a outros 12 colegas, todos interessados em estudar algo diferente, numa época — início dos anos 1960 — em que a escola era pioneira no ramo, e a profissão, uma novidade, cheia de expectativas, dúvidas e incertezas.
Formatura em 1962
Após a formatura, ocorrida em 15 de dezembro de 1962, seu João mudou-se para Flores da Cunha. Foi onde, em 1963, iniciou as atividades na Granja União, como técnico auxiliar no cultivo das videiras e no plantio das primeiras uvas finas do país, pela então Companhia Vinícola Riograndense Ltda.
Mas foi somente em 1967, quando ingressou na Vinícola Santo Antônio, que ele passou a exercer a profissão de fato. Para atuar junto à cooperativa, mudou-se para Caxias do Sul, onde ficava a sede da empresa — na Rua Machado de Assis, 190, em São Pelegrino.
— Primeiro fui absorvido pela viticultura, depois passei para a enologia — frisa Vignatti, que naquela época atuava em uma profissão ainda totalmente desconhecida.
Na foto acima, João Vignatti (o quinto em pé, da esquerda para a direita), em companhia dos formandos da primeira turma da Escola de Viticultura e Enologia de Bento, em 1962. O grupo era composto ainda por Adelina Mussoi, Valdomiro Fontanive, Antônio Grazzia, Delmar Salton, Firmino Splendor, Valdir Camerini, João Porto, Noeli Gujel, José Pozza, Terílio Possamai, José Zanella, Ivo Siviero e Leomir Baldissera.
Abaixo, João Vignatti junto aos parreirais da Granja União em 1963, com os amigos Alemão, Sandi e Toscan. Por fim, um registro da sede da antiga Cooperativa Vinícola Santo Antônio, na Rua Machado de Assis, 190, em Caxias, onde ele atuou a partir de 1967.
Vinhos Mioranza e Vinícola Campo Largo
Em 1973, seu João retornou a Flores da Cunha para trabalhar junto à Vinícola Mioranza, onde permaneceu por 31 anos, até 2004. Também assessorou a Vinícola Campo Largo, em São Marcos, por mais de 15 anos.
Como na época a profissão de enólogo era rara, ele prestava assessoria em um turno também na Cooperativa Vinícola Santo Antônio e ainda auxiliava diversas cantinas na cidade e região — nestas, colaborava na elaboração de vinhos mais pela amizade do que pelo pagamento.
Sobre os tempos antigos, Vignatti recorda que existiam poucas vinícolas, a maioria eram postos de vinificação.Lembra também que a maior parte da produção era destinada ao centro e ao norte do país.
— Hoje, o setor mudou muito. As ações desenvolvidas em prol do vinho brasileiro, em especial da nossa região, elevaram em muito a qualidade, além do crescimento dos vinhos finos, que passam a ser destaque no setor — frisa Vignatti, que também comemorou a regulamentação da profissão a partir de 2007.
Atuação em Flores da Cunha
Ao longo das últimas décadas, João Vignatti desenvolveu diversas outras atividades em Flores da Cunha. Foi presidente da Associação de Pais e Mestres do Colégio Frei Caneca, em 1978; presidente da APAE, em 1988; candidato a vereador no mesmo ano e membro do Lions e do Rotary Club do município. Outro destaque de sua trajetória foi a participação no Congresso Internacional da Viticultura, no Chile, em 1994.
Reconhecido pelo setor, em 2011 Vignatti recebeu o Troféu Vitis Enólogo Destaque pela Associação Brasileira de Enologia. Já em 2016, foi homenageado como Amigo do Vinho pelo Concurso Melhores Vinhos de Flores da Cunha, além de participar da alegoria Mestres do Vinho na Fenavindima 2020, tendo lugar de honra no carro por ser o enólogo mais antigo do município. O título mais recente foi o de Cidadão Florense, concedido pela Câmara de Vereadores de Flores da Cunha em 1º de julho.
Aos 85 anos, sendo mais de 40 dedicados à profissão, seu João é um apreciador de vinhos tintos e brancos, finos e de mesa, e toma “sagradamente” uma taça todos os dias. Mesmo aposentado, continua visitando vinícolas, acompanhando o desenvolvimento e vibrando com cada conquista do setor.
— A enologia é minha vida, sempre vou estar atrelado a ela — conclui.
A família
João Vignatti casou com Maria Antoniazzi (in memoriam) em 8 de janeiro de 1966. É pai de João Carlos e Ricardo Luis, e avô de Bernardo e João Augusto.
Parceria
Parte das informações desta coluna integra um vídeo especial sobre seu João produzido pela Câmara de Vereadores de Flores da Cunha. Textos também tiveram a colaboração do senhor Floriano Molon.
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