O dia oficial foi nesta segunda (21), mas nunca é tarde para recordar de uma data emblemática para a região da Serra Gaúcha. Há 85 anos, em 21 de dezembro de 1935, o município de Nova Trento passou a se chamar definitivamente Flores da Cunha, via decreto do então prefeito Heitor Curra (1899-1973).
Quem ajuda a recordar de toda essa trajetória, desde os primórdios da colonização italiana, é o autor e pesquisador Floriano Molon, responsável por compartilhar dezenas de conteúdos históricos relativos ao passado de Flores.
Conforme Molon, o nome Nova Trento teria nascido a partir de uma disputa entre as comunidades de São Pedro e São José sobre a escolha da denominação entre um dos santos.
– Em 1877, numerosos imigrantes chegaram à localidade, planejada para ser a grande metrópole da região colonial italiana. Vinham das províncias de Vicenza, Pádua, Treviso e da região de Mântua, mas sem nenhuma maior representação do Tirol e de Trento. Coube a Sisto Rosseto, um homem bastante viajado e que possuía certa cultura, sugerir ao engenheiro Diogo dos Santos o nome mediador de “Noo Trento” – destaca Molon, completando que nem Rosseto era natural de Trento, mas sim de Verona.
Autor do livro "Otávio Rocha - Cem Anos de Vida Colonial", Molon estima que o nome teria “nascido em 1885”, escrito a carvão em uma grande tabuleta e pregada no pinheiro mais alto da futura praça.
– Serenados os ânimos, tivemos impregnados nas mentes e corações este nome por mais de 55 anos da história trentina – explica o historiador, acrescentando que quem mais ajudou a firmar o nome foi a Igreja Católica, a partir de centenas de documentos, como batizados, casamentos, óbitos, missões, o curato e a construção do convento.
Distrito de Caxias
Com a elevação da Colônia Caxias à condição de Município, em 1890, a Vila de Nova Trento é oficializada como sede do 2º Distrito. Conforme Molon, em 28 de janeiro de 1904, foi criado o distrito de Nova Pádua (o 4º), enquanto Nova Trento continuou como segundo e Nova Milano, como o terceiro.
– Entre altos e baixos, Nova Trento teve vida intensa na busca do progresso e de melhores qualidades de vida para seus habitantes. Em 17 de maio de 1924, conseguiu sua emancipação política. Seguiram-se vários intendentes depois do líder Joaquim Mascarello, geralmente pessoas de fora do município. Finalmente, o trentino Heitor Curra foi nomeado intendente, tendo governado entre 2 de março de 1933 e 31 de janeiro de 1941 – completa o historiador.
Segundo Molon, quando promoveu a substituição do nome Nova Trento por Flores da Cunha, em 1935, Heitor Curra buscava também agradar o Interventor Estadual José Antônio Flores da Cunha, que o havia escolhido para o cargo de mandatário dos trentinos.
Tanto que na ata de 21 de dezembro de 1935, os conselheiros municipais, Alcides Mascarello, Tranquilo Fontana e João Mambrini aprovaram por unanimidade a substituição do referido nome.
As alegações
Entre as alegações para a alteração do nome, constava em primeiro lugar a existência, no Estado de Santa Catarina, de um local homônimo e que seria mais antigo – Nova Trento, colonizado desde 1884 e município a partir de 8 de agosto de 1892.
Outros motivos elencados à época foram o amor à pátria, a nacionalização do nome e as várias considerações sobre a atenção dispensada pelo general José Antônio Flores da Cunha – entre elas, a que mais se destacava: a possibilidade de construção de um ramal ferroviário, unindo o município a Caxias do Sul.
Nesse meio tempo, porém, o general Flores da Cunha rompeu com o governo federal de Getúlio Vargas, o que dificultou sobremaneira as obras de instalação da via ferroviária – que nunca saiu...
Meio século de um nome
A troca do nome ensejou a divisão dos trentinos, que não esqueceram de um nome utilizado por mais de 50 anos.
– Por longo tempo, e ainda hoje, ouve-se no interior: “Vao a Noa Trento” – comenta o historiador Floriano Molon, que, em 1975, participou do concurso para a escolha do brasão de Flores da Cunha.
Há 45 anos, seu Floriano colocou o nome Nova Trento entremeado às cores da bandeira italiana, simulando aquela placa pendurada no que seria a praça central da vila. Conforme ele, a única e última homenagem ocorreu em 4 de novembro de 2009, por iniciativa da então governadora Yeda Crusius, que ofereceu ao município um busto do general Flores da Cunha, instalado na praça central (foto mais abaixo).
Parceria
Com informações do livro “Otávio Rocha, Cem Anos de Vida Colonial”, de Floriano Molon; “Memórias de um Neto de Imigrantes Italianos, Pioneiros de Nova Trento”, de Claudino Boscato; e “Heitor Curra – Um cidadão Florense – Vida e Obra”, de Evandro de Oliveira e Lourdes Curra.