Popularidade do mercado de ações transforma, do dia para a noite, centenas de pessoas em investidores, mas rentabilidade depende de planejamento, conhecimento e orientação profissional.
Se há 10 anos a bolsa de valores ainda era restrita a uma pequena parcela da população, hoje esse tipo de investimento ganha status de estrela em vídeos nas redes sociais. Esse aumento e publicidade, somado à melhora na educação financeira e maior rentabilidade, explicam parte desse boom no mercado de ações. Para não perder dinheiro, especialistas alertam que é fundamental ter planejamento, conhecimento e orientação de um profissional.
Desde o fim do pregão viva-voz, aquele no qual uma multidão engravatada ficava gritando com papéis e telefones na mão, número de pessoas físicas investindo cresceu sete vezes no Brasil. Em 2009, eram 552 mil CPFs. Hoje, segundo dados da bolsa brasileira, a B3, são 3,8 milhões — 20% da fatia total de investidores (veja mais no quadro abaixo).
— Existe um tabu que priva as pessoas da educação financeira ao afirmar que investir é algo da alta sociedade, o que é mentira. Pelo preço de uma ação, você se torna sócio de uma empresa — defende professor da Escola de Negócios da PUCRS e CEO da Capse Investimentos, Inácio Recena.
Apesar de parecer fácil, ele explica que é necessário traçar uma estratégia de longo prazo e ter conhecimento de cenário para decidir quais papéis estão mais atraentes. Por exemplo, quando a taxa de juro (Selic) aumenta, alguns setores são favorecidos e outros, prejudicados. Bancos e seguradoras são mais beneficiados nesse cenário, pois a diferença de custo de captação e juro cobrados sobre os clientes é maior. Por outro lado, a tendência é de que o setor imobiliário tenha ganhos comprometidos, já que a taxa de financiamento aumenta e, consequentemente, a demanda diminui.
— Em 2020, os setores de shoppings, varejo vestuário e educacional tiveram queda no valor de mercado de, respectivamente, R$ 16,2 bilhões (-36%), R$ 11,1 bilhões (-23%) e R$ 18,9 bilhões (-50,4%). Com o fim do isolamento social e a recuperação da economia, os papéis desses setores registram movimento de recuperação. Já os segmentos que se recuperaram e estão em evidência são os ligados ao ciclo da alta das commodities — acrescenta.
De acordo com o sócio-diretor da gestora de recursos Quantitas, Wagner Salaverry, os investidores profissionais já precificam rapidamente os mercados, antecipando esses diferentes cenários a partir do interesse por determinadas ações. O problema de investir sem assessoria, afirma, é a pessoa não conseguir se proteger em crises.
— Sempre é bom estar alocado em bolsa. A questão é quando reduzir ou aumentar a exposição, de acordo com seu perfil de risco como investidor — pondera Salaverry, que atribui o aumento de investidores à queda de juro e aos esforços de assessores e das instituições em educar, divulgar e orientar quem pretende investir na bolsa.
Investidores gaúchos
Distribuição de investidores pessoa física por gênero no Rio Grande do Sul, em junho:
- Número de contas
Homens: 159.138
Mulheres: 54.680 - Valor (R$ bilhões)
Homens: 21,98
Mulheres: 6,75
Quem investe em bolsa
Confira o perfil dos investidores:
- Estrangeiro: 49,7%
- Institucionais: 25,1%
- Pessoas físicas: 20,2%
- Instituição financeira: 3,8%
- Empresas: 1,2%
Em 2020, com o início da pandemia, as bolsas de valores mais importantes no mundo recuaram. Caso do Brasil, que assistiu à pontuação do Ibovespa cair até 63,5 mil pontos (praticamente a metade do que se tem agora), fazendo derreter muitos papéis de empresas nacionais. Apesar de ser algo passageiro, já que em junho último a máxima atingiu 130 mil pontos, muitos investidores acabam tendo prejuízos ao vender as ações em períodos de preços mais baixos.
Com o avanço da vacinação contra a covid-19 e o fim do isolamento social, alguns setores que perderam valor de mercado começam a se recuperar. No entanto, ainda existe o temor com as novas variantes do vírus, como a Delta.
Sócio-diretor da gestora de recursos Quantitas, Wagner Salaverry destaca que o mercado está monitorando os indicadores, mas não há sinalizações preocupantes até o momento. O professor da PUCRS Inácio Recena acrescenta que investidores do exterior estão mais receosos devido à alta disseminação da nova variante:
— A proibição de público nos Jogos Olímpicos de Tóquio, devido ao aumento dos casos no país, e a decretação de um novo estado de emergência na cidade resultaram no aumento da preocupação.
* Textos de Júlia Pitthan, Pedro Henrique Pereira, Leonardo Gorges e Jacson Almeida