Criada em 1861, pelo imperador Dom Pedro II, a poupança historicamente desempenhou um papel importante para o país. E ainda hoje é assim. Oito em cada 10 brasileiros seguem guardando parte de suas economias na caderneta. Simples e prática, a poupança ajudou a fomentar a educação financeira, mesmo que incipiente, em parte da população. Todos são capazes de entender como funciona: você empresta o seu dinheiro para o banco, que o guarda e paga um percentual todo mês por isso.
Mas os tempos mudaram. Mesmo para os investidores com perfil conservador, que prezam pela segurança e são avessos ao risco, as opções se multiplicaram no passado recente. Enquanto a poupança sequer cobre a inflação — o rendimento atual está na casa dos 3% ao ano —, outros investimentos de renda fixa garantem um retorno mais atraente. É o caso do Tesouro Direto, modalidade em que o investidor compra um título emitido pelo governo federal e recebe o mesmo valor, acrescido de juro na data do vencimento.
Segundo Thiago Godoy, coordenador de educação financeira da XPeed School, manter as economias na poupança atualmente significa perder poder aquisitivo, pois a rentabilidade está abaixo da inflação. Ele conta que muitas vezes, por uma questão de hábito, não é fácil partir para outras opções. Porém, o primeiro passo é fazer uma boa pesquisa.
— Partindo da premissa de que o investidor preza pela segurança, a primeira coisa a se fazer para sair da poupança é descobrir que existem diversas opções. Acredito que as coisas estão evoluindo nesse sentido. As novas gerações mantêm uma relação diferente com o dinheiro. Por ser antiga, a poupança ficou atrelada a uma noção de segurança. Porém, hoje já temos como avançar — aponta Godoy.
Para o professor Marco Martins, da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é necessário que o investidor entenda os propósitos da sua aplicação. Ele salienta que, no caso do Tesouro Direto, o recomendável é que se leve o papel até o seu vencimento.
— Quanto mais distante for o vencimento, maior a sua rentabilidade. Porém, é necessário que se faça um planejamento do seu fluxo de caixa para isso. A regra fundamental é estudar e entender bem os riscos de cada investimento. Gaste um tempo para isso. Conversar com o seu gerente é sempre uma boa opção — opina Martins.
O professor de finanças pessoais Jurandir Sell Macedo, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), diz que, além do Tesouro Direto, outras boas opções para quem deseja sair da poupança são as contas remuneradas e os fundos DI. Godoy vai além e cita também os fundos imobiliários, as debêntures incentivadas.
CDB: o Certificado de Depósito Bancário é um investimento de renda fixa que funciona de maneira semelhante à caderneta de poupança. Em linhas gerais, você empresta o seu dinheiro para o banco, em troca de juro. Os CDBs costumam estar atrelados a uma taxa denominada CDI, que hoje está na casa dos 4,15% ao ano (é importante verificar essa rentabilidade). Na hora de fazer o investimento, é necessário realizar uma boa pesquisa para saber as melhores condições. As taxas de rendimento estão ligadas a uma série de variáveis, como prazo de vencimento. Como lado negativo, os CDBs não estão isentos de Imposto de Renda.
Tesouro Direto: criado em 2001, trata-se de um investimento na compra de títulos públicos e que também não está isento do Imposto de Renda. São três tipos: o Tesouro prefixado, o Tesouro IPCA e o Tesouro Selic.
- Tesouro prefixado: a taxa de retorno é calculada previamente, gerando previsibilidade ao investidor, que saberá exatamente quanto receberá no vencimento. Ele deve comparar e procurar a instituição com melhor taxa.
- Tesouro IPCA: é um título de renda fixa híbrido, pois acompanha a inflação e rende mais uma taxa prefixada. É uma boa opção para quem pensa em recuperar o dinheiro com prazos maiores.
- Tesouro Selic: pós-fixado, pois acompanha a taxa básica de juros. Tem se tornado cada vez mais popular como um substituto da poupança, pois tem rendimentos diários e grande liquidez, uma vez que o valor aplicado pode ser resgatado antes, sem que se perca a rentabilidade.
Fundos de investimentos: neles, várias pessoas se juntam para investir em diferentes tipos de ativos, tais como títulos públicos, ações, renda fixa, câmbio ou commodities. Os fundos mais seguros costumam ser aqueles com a carteira mais variada, pois estão menos sujeitos a bruscas variações. Trata-se de uma aplicação com certa dose de risco, mas que também pode gerar bons dividendos. Há cobrança de Imposto de Renda. Nos fundos DI, eles devem atrelar ao menos 95% da carteira a títulos públicos vinculados à Selic. Os fundos imobiliários têm, exclusivamente, a carteira voltada ao mercado de imóveis.
Debêntures incentivadas: trata-se do investimento em papéis de empresas específicas, com retorno no vencimento. O dinheiro geralmente é usado para financiar obras de infraestrutura, com apoio governamental e incentivos fiscais. Existem opções prefixadas, pós-fixadas e híbridas. Não é um investimento livre de riscos. Porém, as taxas de retorno costumam ser interessantes.
Contas remuneradas: investimento conservador semelhante à caderneta de poupança, no qual o banco paga dividendos pelo dinheiro depositado em uma conta. Tem se tornado mais popular com a expansão dos chamados bancos digitais.
* Textos de Júlia Pitthan, Pedro Henrique Pereira, Leonardo Gorges e Jacson Almeida